Redução psicológica
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 17 de julho de 2002
E não é que o Conselho de Política Monetária (Copom), na sua esperada reunião de ontem, resolveu reduzir a taxa Selic?
Entre manter os juros básicos anuais em 18,5% - assumindo, assim, o iminente fracasso do plano de estabilidade -, e reduzir a taxa em 0,50 pontos, o Banco Central preferiu - num rasgo de inteligência -, a segunda hipótese.
Surpreendeu. E deu sobrevida ao modelo, que socialmente, já faliu.
Foi, como dissemos na véspera, uma cartada psicológica. Acertada. Se, mesmo com esta medida o governo não consegue retomar a confiança do mercado, pelo menos esfria as especulações. Não assume a fragilidade do Real. Menos mal. E, de quebra, deixa entrever certo atravimento, aliás bem recebido pelo mercado.
O governo continua tendo mais sorte do que juízo.
Mas, que ninguém se iluda: a redução da taxa também é um jogo defensivo. Quase um grito de sufoco.
E como isso rebate no mercado? Se a decisão do governo em reduzir a taxa básica, em 0,50 ponto porcentual, não faz milagre, pelo menos não vai permitir o efeito dominó.
Ou seja, se os juros do comércio não recuarem com a nova taxa básica, pelo menos ficam sem respaldo para novas altas. E, politicamente, o governo se poupa do desgaste de novas altas dos juros - que deveriam impactar também na dívida pública.
Os juros no Brasil continuam sendo os mais altos do mundo (Veja ''ranking'' neste caderno de Economia).
Ainda sobre o comércio: com o consumo tão fraco, essa redução da Selic não fará a menor diferença para o sistema de crédito direto ao consumidor, para as taxas do crédito pessoal, cartão, cheque especial, etc.
Livre de novos aumentos dos juros, o brasileiro é castigado pelo câmbio. Ontem, o dólar comercial encostou nos R$ 2,90 (2,895/2,897). No Paralelo, R$ 2,850/2,900 e o turismo R$ 2,800/2,910.
Mas, tragédia dos juros à parte, a atividade econômica despencou; o Real não conseguiu reveter a crise do desemprego e, nos últimos meses, uma preocupante falta de liquidez no varejo. Que Deus nos proteja principalmente nessa transição de comando, que se configura delicada.