As criptomoedas vêm ganhando popularidade e mercado no Brasil desde 2021, quando a B3, a bolsa de valores brasileira, abriu a listagem de fundos focados em criptoativos. Mas, ao mesmo tempo que essa modalidade instiga a curiosidade de investidores, também demanda um maior cuidado para evitar fraudes. Um exemplo disso é o caso do jogador Gustavo Scarpa (ex-Palmeiras) que entrou na Justiça alegando ter sido vítima de um golpe milionário envolvendo criptomoedas.

Especialistas procurados pela FOLHA apontam que são vários os sinais que indicam que uma proposta de investimento é duvidosa. Jéfferson Colombo, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), explica que se deve questionar qualquer promessa de retorno incompatível com o mercado. “Se alguém promete retorno de 3% ao mês, sem risco, de onde vem esse retorno? O mercado de criptoativos tem altos e baixos, como vai prometer um retorno certo?”, questiona.

O especialista em investimentos e assessor da SVN, Anderson Cardoso, tem uma opinião semelhante, e ressalta que não existe dinheiro fácil.

"Todo investimento tem seu risco e qualquer promessa acima da nossa taxa básica de juros, hoje em 1,07% ao mês, deve ser analisada com cautela. Quando uma promessa de rentabilidade parece boa demais para ser verdade, normalmente não é”, alerta.

Anderson também diz que, antes de qualquer investimento, é recomendado verificar se a empresa possui autorização do CVM [Comissão de Valores Mobiliários] para operar no Brasil e contar com um assessor de confiança, também registrado junto ao órgão.

“Existem empresas que afirmam terem base em outro país e por isso não precisam da autorização no Brasil, porém isso não é verdade. Qualquer empresa, seja brasileira ou de fora, tem a obrigação de se adequar à nossa regulamentação para oferecer produtos de investimento”, acrescenta.

Segundo Colombo, há dois tipos de riscos associados a essas moedas. O primeiro é inerente ao ativo, que oscila e tem flutuações de preços; o segundo é ligado a situações que podem envolver fraudes ou problemas com corretoras, como é o caso da exchange de criptomoedas FTX, que faliu em novembro de 2022.

O advogado e especialista em direito virtual, Fernando Peres, diz que é necessário, antes de aplicar seu dinheiro em moedas digitais, conhecer a tecnologia e acompanhar as tendências de mercado, justamente para não ter uma falsa sensação de retorno garantido.

“Eu sempre digo que aprender a lidar com criptomoedas deve ser feito de forma gradual, com pequenos fatos no começo. A prática nesse tipo de investimento é extremamente importante”, destacando também a importância de atuar com pessoas e empresas com credibilidade e que deem garantias “caso aconteça alguma inconsistência”.

CENÁRIO

As criptomoedas surgiram no Brasil em 2009, assim como em outras partes do mundo. Diferente de uma moeda tradicional, elas são apenas online e servem para transações de valores “sem precisar passar por uma instituição financeira, tornando todo o processo mais ágil e barato”, explica Anderson.

O mercado de criptoativos teve uma alta significativa - o chamado bull market - e, atualmente, vive um período de baixa - o bear market. Esse mercado é bastante imprevisível, principalmente para análises de curto prazo.

“Já no longo prazo, acredito que as principais criptomoedas têm muito a se valorizar ainda, porém esse ‘inverno’ não foi o primeiro e não será o último. Por muitas vezes vimos notícias de que o Bitcoin acabaria, viraria pó, porém continua com uma aderência muito grande entre investidores no mundo todo”, analisa o assessor de investimentos.

Jéfferson Colombo afirma que há pesquisas que indicam que o lado comportamental acaba guiando o mercado de criptomoedas. “Quando o mercado está muito otimista, passa a negociar preços altos. Quando reverter, cai bastante, esses são os gatilhos de bull e bear market”, citando ainda a tese de que o Bitcoin, por exemplo, pode ser um safe haven (um porto seguro) para riscos do mercado financeiro tradicional.

“Embora seja uma tese controversa, vimos um aumento do preço bem significativo com a notícia do Silicon Valley Bank. Teve um aumento possivelmente porque as pessoas passam a demandar mais Bitcoin porque veem riscos no mercado financeiro tradicional”, explica o professor. “O investidor quer exposição a ativos que podem proteger a carteira dele, justamente em momentos em que as ações e a renda fixa estão caindo.”

SEGURANÇA

O assessor da SVN explica que há opções para investimento com segurança em moedas digitais. Um exemplo, via bolsa de valores, é o ETF (Exchange Traded Funds). Trata-se de um fundo de investimento que pode ser negociado na bolsa como uma ação.

“É de extrema importância respeitar o perfil de risco de cada investidor, investindo um pequeno percentual do patrimônio apenas, e jamais correr o risco da ruína. Investindo da forma correta, o investidor se protege de possíveis golpes, mas ainda deve saber lidar com o risco de mercado, que nada mais é que o sobe e desce diário das cotações.”

A regulamentação desse mercado foi aprovada no Brasil no final de 2022 e, ao que tudo indica, entrará em vigor em junho deste ano. O advogado Fernando Peres explica que a nova legislação dá uma garantia maior, principalmente em relação aos vendedores.

“As empresas, corretoras que fazem esse tipo de operação, precisam se cadastrar no Banco Central, precisam prestar essas informações, precisam ser claras, ter clareza nos procedimentos, tudo isso para garantir uma maior segurança”, explica. Além disso, houve a criação de um novo tipo penal, que é o estelionato de criptoativos. Essa tipificação mais pontual, acredita Peres, auxilia na proteção dos direitos de uma vítima.

Caso seja vítima de um golpe digital, a recomendação do advogado é acionar imediatamente a Polícia Civil e registrar um boletim de ocorrência.