O acordo de cooperação técnica que prevê a instalação de um laboratório de novas tecnologias até 2024 na Rua Sergipe, via que simboliza a força do comércio de rua no centro de Londrina, completou 14 meses em velocidade analógica.

Gerado a partir de uma parceria entre o governo municipal e o federal, com mais de 90% dos recursos bancados por um repasse da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) - braço do sistema S voltado à transformação digital, o experimento destinou cerca de R$ 4,7 milhões para a cidade mas ainda não impactou significativamente a vida dos lojistas, motoristas e pedestres.

O primeiro passo da transformação do corredor comercial começou em setembro, com a instalação de cinco luminárias inteligentes com câmeras e wi-fi integrados, semáforos com sistemas de inteligência artificial integrados (um software permite o reconhecimento facial) e botoeiras com recursos de acessibilidade, além de seis câmeras de reconhecimento de placas de veículos e um videowall para monitoramento.

No entanto, a internet gratuita na rua ainda não está acessível e os testes com a botoeira de acessibilidade não foram bem sucedidos. O ruído que permitia a interação dos pedestres com o semáforo causou desconforto nos transeuntes e o equipamento foi retirado.

Como a operação tem o objetivo de ser um laboratório para iniciativas similares em outros municípios do País, os apontamentos também devem indicar a necessidade de integração dos bancos de dados públicos para que as tecnologias sejam exploradas com mais efetividade.

O tenente-coronel Pedro Ramos, secretário municipal de Defesa Social e comandante da Guarda Municipal, responsável pelo monitoramento das imagens captadas pelas novas câmeras, afirma que há ganhos em segurança para o trecho monitorado, mas fez considerações importantes a respeito das tecnologias mais avançadas, que são capazes de fazer o reconhecimento facial e a identificação das placas dos veículos. “Embora esta tecnologia colabore para a identificação, neste pequeno trecho, de crianças ou idosos que constam como desaparecidos no nosso sistema ou na captura em flagrante de criminosos que agem por ali, faltam subsídios para outras ações”, explica o comandante. “O sistema não prevê, por exemplo, acesso ao banco de dados de criminosos da Polícia Civil, ou do banco de dados do Detran. Portanto, o monitoramento fica muito restrito. É preciso que isso seja repensado e melhorado”.

De acordo com Ramos, “quando se trata de segurança pública é preciso haver integração”. De maneira suave, ele se queixa que este aspecto poderia ter sido discutido quando o projeto estava em desenvolvimento. O videowall, por exemplo, foi instalado inicialmente nas dependências da Companhia de Tecnologia e Desenvolvimento (CTD), empresa cuja principal acionista é o município de Londrina e que é responsável pela coordenação das ações do setor público na área de smart city. Somente depois de uma solicitação da Guarda Municipal, o equipamento foi transferido para a sala de controle da corporação. “Mas como é um protótipo, creio que a iniciativa seja válida, especialmente porque investimentos em tecnologia economizam recursos humanos”, pondera.

Imagem ilustrativa da imagem Projeto de smart city na rua Sergipe começa a sair do papel
| Foto: Roberto Custódio

Em setembro, câmeras foram ajustadas para verificar uso de máscara

O diretor da CTD, Pedro Sella, lembrou que o passo mais importante para Londrina estar no mapa nacional das Cidades Inteligentes foi um decreto municipal que permite o chamado Sandbox, um ambiente especial de experimentações tecnológicas em situações reais.

Poucos municípios contam com esta garantia legal. Sem ela, as experiências poderiam transgredir a legislação vigente. “Estes recursos não poderiam ser investidos no município sem esta autorização da Prefeitura”.

Sobre a tecnologia do reconhecimento facial, Sella esclareceu que no ano passado as novas câmeras da Rua Sergipe foram ajustadas para verificar o uso de máscara pelos pedestres. A ideia era ter uma amostragem para entender, em um período no qual a pandemia estava numa fase preocupante, o nível de adesão ao equipamento.

“É possível a integração do software com outras bases de dados, como observa a Guarda. No entanto, isso será feito numa etapa posterior”, esclareceu.

Os semáforos, por sua vez, contém um software capaz de dar mais fluidez ao tráfego, impedir engavetamentos ou priorizar a passagem de pedestre em uma circunstância especial.

Quanto ao uso da botoeira, Sella confirmou que a ideia não prosperou e que outras soluções de acessibilidade estão em estudo. “Estamos na fase de fazer um balanço, avaliar a experiência e trazer novos parceiros para novas fases do projeto”, informou.

A gestão dos recursos da primeira fase é feita pelo Parque Tecnológico de Itaipu - Brasil (PTI-BR), idealizadora do programa Vila A Inteligente, laboratório de experimentação tecnológica instalado em um bairro de Foz do Iguaçu e que inspirou o projeto na Rua Sergipe. Os técnicos do PTI foram responsáveis pelo treinamento da Guarda Municipal para operar o vídeo wall.

Termo de responsabilidade

A Folha apurou que o sinal público de wi-fi na Sergipe não “pegou” por um detalhe. Grande parte dos lojistas do trecho entre as ruas Minas Gerais e João Cândido se recusou a assinar um termo de responsabilidade sobre os riscos de invasão de sistema do usuário. O programa de inclusão digital também não contemplou os comerciantes que estão sob o regime do MEI.

Cerca de 35 lojistas estão participando de uma capacitação para conhecer seu nível de maturidade digital. A ideia é que depois eles sejam orientados a operar no comércio eletrônico. Outra ação da Sergipe Inteligente é a qualificação de comerciantes em cibersegurança. Com baixa adesão na área escolhida, o programa abriu inscrições para empresários de outras regiões da cidade.

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.