Dividir aluguel com outras pessoas requer diálogo e demarcar a divisão de gastos
Dividir aluguel com outras pessoas requer diálogo e demarcar a divisão de gastos | Foto: iStock

Ser aprovado em uma universidade, mudar de cidade e começar uma nova etapa com mais independência estão nos planos de muitos jovens. Com essa nova fase, porém, surge um grande desafio: o primeiro aluguel. É pensando nisso que o estudante de Jornalismo na UEL (Universidade Estadual de Londrina) Bruno Codogno e a recém-formada jornalista Victoria Vischi contam suas experiências com o primeiro aluguel, e compartilham os erros e acertos que podem servir de alerta para quem pensa em se mudar da casa da família pela primeira vez.

“A minha primeira experiência morando fora foi em pensionato estudantil”, conta o universitário Bruno Codogno, que veio de Vera Cruz, no interior de São Paulo, aos 18 anos, para estudar na UEL. “Aluguei um quarto em Londrina já com a intenção de procurar alguém para dividir um apartamento comigo depois. Pagava por mês, e poderia sair no momento que quisesse com um aviso prévio”, relata.

Codogno conta que, após conhecer amigos na faculdade, eles alugaram juntos um apartamento. “Estipulamos um teto de gastos com aluguel, condomínio e, dentro desse teto, procuramos opções que fossem viáveis para todos”, lembra. “Então, visitamos apartamentos, víamos a estrutura, a localização, e dentre aqueles que cabiam na nossa capacidade de pagar. Fechamos e encontramos mais uma pessoa para dividir um quarto para abater parte do preço.”

Para Victoria Vischi, que veio de Engenheiro Coelho, também no interior de São Paulo, aos 19 anos, e que atualmente trabalha como radialista, o primeiro aluguel já foi muito satisfatório. Ela continua morando no mesmo apartamento desde o início da faculdade. “Antes de vir, já tinha encontrado as pessoas com quem iria dividir o apartamento”, explica. “Uma delas era uma menina que fazia cursinho comigo e a outra eu conheci por acaso quando estávamos fazendo a segunda fase do vestibular da UEL, em Londrina, e acabamos ficando no mesmo hotel e dividindo o Uber para ir ao local de prova”, relata.

Depois de já ter combinado com as outras moradoras, Vischi pôde procurar o apartamento ideal. “Procuramos primeiro em sites das imobiliárias de Londrina, então fizemos essa pesquisa prévia. E o apartamento que acabamos alugando já era um desses que tínhamos selecionado dos anúncios”, relembra. “Foi o segundo apartamento que viemos visitar e já decidimos ficar com ele, porque era bem iluminado, o preço era bom e o tamanho também”, conta.

O professor de Economia na Unopar (Universidade Norte do Paraná, Kroton Educacional) e consultor da Norte Econômico Consultoria, Renan Luquini, que é também professor na Especialização em Economia Empresarial da UEL, ressalta alguns pontos para os quais os jovens devem prestar atenção ao fazer o primeiro aluguel. "É importante considerar as despesas diretas que terá que assumir além do aluguel, como IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), seguro incêndio, condomínio, e também as despesas indiretas como o gasto de combustível ou passagem de ônibus para ir ao trabalho, por exemplo”, aconselha.

O economista alerta também para que os jovens observem bem o contrato, uma vez que esse documento resguarda ambas as partes (o locador e o inquilino) no descumprimento de regras. “Além disso, faça uma vistoria pessoal no imóvel antes de pegar as chaves, para lhe dar maior segurança na hora de alugar seu primeiro imóvel”, recomenda. Luquini aponta também a importância de ter cuidado e não alugar logo o primeiro imóvel que encontrar. “No cenário econômico atual, ter paciência pode garantir que você encontre o imóvel perfeito, por um preço ideal.”

Codogno, assim como Vischi, encontrou apartamentos para alugar pela internet. “Posteriormente, quando me mudei do apartamento que dividia com colegas do curso, precisei procurar pelo Facebook, conhecer pessoas novas que estivessem disponibilizando uma vaga em apartamento”, descreve. “Tem vários grupos no Facebook que disponibilizam publicações de pessoas que estão procurando gente para dividir um imóvel, ou procurando locais para alugar, então é outra forma também de conhecer pessoas que estejam dispostas a dividir um aluguel”, explica.

Atualmente, o universitário mora num apartamento que aluga com mais duas pessoas. “Temos um contrato com uma imobiliária e dividimos os gastos. Sou eu, um professor de Matemática e uma estudante de Agronomia da UEL”. Codogno detalha como fazem para dividir as despesas. "Pegamos os valores das nossas contas, dividimos em três e estipulamos o valor igualitário entre cada um dos moradores. Mas delegamos o pagamento das contas para cada um. Por exemplo, eu pago o condomínio, meu amigo paga o aluguel, e a minha amiga paga outras contas, como internet ou energia elétrica. E, no final do mês, equalizamos as contas. Aqueles que pagaram menos repassam o valor para os que pagaram mais até deixar os valores iguais”, explica.

Luquini confirma que demarcar a divisão dos gastos com os demais moradores é a melhor opção. “Mantenha sempre um diálogo com o seu colega sobre as despesas. Façam uma lista de coisas que precisam para uso diário e comprem de uma vez só. Caso alguém queira comprar algo fora do básico, deve comprar separadamente”, recomenda. “Quando for dividir um imóvel, divida as contas por todos os moradores, determinando em conjunto o que é adequado dividir e o que é melhor cada um comprar o seu. Na hora de escolher o local, existirão opções mobiliadas, onde o valor pago mensalmente vai incluir o uso de tudo. Caso o apartamento não for dessa forma, será preciso dividir a compra do que for preciso com seus colegas, sendo que o ideal aqui, para evitar problemas futuros, é cada um comprar uma coisa”, aconselha.

O economista explica também que é necessário ter em mente com antecedência quais serão as despesas mensais. “Outro ponto importante é evitar gastar mais do que você ganha, ou seja, tome cuidado para não extrapolar o valor total que você ganha mensalmente”, indica. “Se você tiver dívidas pendentes, o ideal é quitá-las antes de se comprometer com novas despesas mensais, pois se representar um novo acúmulo de gastos e juros, é provável que aconteça o temido efeito ‘bola de neve’, que vai comprometer seriamente seu planejamento financeiro e pode jogar seu objetivo por água abaixo”, alerta.

Sublocação

O professor de Economia informa sobre alguns cuidados específicos para quem opta pela modalidade de sublocação. “Na sublocação, o inquilino divide com uma ou mais pessoas todos os gastos com o imóvel, como o aluguel mensal, IPTU e condomínio”, explica. “Diferentemente do que ocorre quando você simplesmente chama alguém para morar contigo e dividir as despesas, no caso da sublocação o procedimento é estabelecido em contrato. Esse procedimento é legal e está previsto na Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91), desde que siga algumas regras que deverão ser previstas em contrato”, pontua.

Luquini dá dicas para sublocar um apartamento de maneira legal e não correr riscos de perder o imóvel ou mesmo ser acionado pelo locador. “É preciso primeiramente deixá-lo ciente de sua intenção e mais: que isso esteja explícito no contrato de locação”, alerta. “A grande maioria dos contratos proíbe a sublocação, uma vez que a análise de crédito é baseada na renda e no histórico de quem está assinando como inquilino”. O economista chama atenção para a possibilidade de a modalidade ser vista como uma forma de delegar a outros a responsabilidade dos pagamentos e da conservação do imóvel. “Convenhamos, muitas vezes a única coisa que se busca é a possibilidade de um pouco de economia. Portanto, explique ao proprietário sobre suas intenções e, caso ele aceite, peça a autorização e que ela conste no contrato, para que você esteja coberto pela lei”, recomenda.

“Já se você está na posição de sublocatário, ou é justamente aquela pessoa que irá proporcionar ao locatário aquela economia que ele tanto precisa, também deverá ficar atento”, destaca. “Verifique se há a autorização em contrato para a sublocação e também se os valores de pagamento estão em dia. É importante saber também que o prazo da sublocação deve estar dentro do prazo da locação vigente e, desta forma, a sublocação nunca continuará após o fim do contrato”, salienta.

Como encontrar o lugar ideal?

“Eu acho que uma boa dica, que foi algo que nós não vimos, seria checar a fiação do apartamento, como está a parte elétrica e também de encanamento, essas coisas, para evitar problemas futuros”, aconselha Victoria Vischi. “Principalmente se você estiver alugando um apartamento num prédio muito antigo, que pode ser que a manutenção não tenha sido feita tão recentemente, e isso pode dar problema depois”. A jornalista recomenda também pesquisar sobre a imobiliária com a qual for fechar o contrato. “É importante pesquisar na internet mesmo, ver se existem muitas reclamações sobre o serviço da imobiliária, porque isso pode trazer dificuldades depois para resolver problemas que seriam simples”, indica.

Bruno Codogno ressalta a necessidade de fazer um bom planejamento financeiro. “É uma dica muito importante, as pessoas não podem deixar de se alimentar bem ou de ter uns gastos mais específicos para morar num lugar que tem um valor mais alto. A pessoa tem que saber analisar muito bem os gastos dela”, enfatiza. “Para quem vai morar sozinho pela primeira vez, é um desafio. Mas sentando e botando tudo na ponta do lápis, você consegue fazer um levantamento de preço e de custo de vida com os quais você possa arcar”, aconselha.

Ambos recomendam prestar atenção à localização da casa ou do apartamento. “Morar em locais muito afastados por um preço mais baixo às vezes dificulta no preço da locomoção, ou atrapalha os horários”, exemplifica Codogno. “Também levamos em consideração a proximidade de pontos de ônibus de fácil acesso para a universidade, justamente porque viemos alugar um apartamento para estudar na UEL”, conta Vischi sobre um dos fatores que a levou a escolher o apartamento em que mora. “Além disso, a proximidade com mercados, farmácias, porque isso é muito importante. Principalmente se você não tiver um carro, que é o meu caso”, indica. Ela recomenda, para quem vai alugar apartamento, que dê prioridade a prédios que tenham porteiro 24 horas. “Se chegarmos em casa mais tarde e o Uber nos deixar na portaria à noite, não tem o perigo de entrarmos sozinhas no prédio, o porteiro já abre e é mais seguro”, previne.

O economista ressalta que é necessário procurar com cautela. “É essencial ter paciência, para que consiga encontrar o imóvel que mais se encaixe dentro do perfil traçado por você e, assim, evitar frustrações futuras por causa de decisões tomadas sem a devida atenção e análise”, reitera Luquini.

O estudante Bruno Codogno recomenda também paciência, mas para lidar com as questões burocráticas. “É muito importante que as pessoas se atentem às condições de contrato que vão assumir”, ressalta. “É importante ficar atento a condições de fidelidade, e tentar prever a possibilidade de a pessoa precisar romper esse contrato com pagamento de multa”, exemplifica. Ele recomenda também que os jovens se preparem para as tarefas domésticas antes de se mudar. “Às vezes, para uma pessoa que está indo morar sozinha pela primeira vez, pode ser difícil conciliar uma faculdade, um trabalho, com todas essas obrigações de casa”, pontua. “Então, quando a pessoa ainda está na casa da família, ou num local que é mais confortável para ela, é essencial que comece a ter uma movimentação nesse sentido, de começar a se enquadrar numa rotina de cuidados e de várias tarefas que envolvem morar sozinho ou dividir o apartamento com outras pessoas”, aconselha.

Diálogo e convivência

Além das dicas sobre o imóvel ideal, Victoria Vischi adverte para a importância de desenvolver um bom diálogo com os demais moradores do apartamento. “É essencial conversar sobre os problemas que aparecem e sobre as coisas que incomodam, e não ficar guardando muito para você, porque chega uma hora em que você fica exausta e pode acabar ‘explodindo’”, relata. Bruno Codogno também destaca a necessidade de estabelecer uma boa comunicação e limites. “Eu sou asmático, então não podia morar com pessoas que fumassem no mesmo cômodo que eu. Já deixei isso claro desde o princípio, foi um dos meus limites. Mas isso pode ser estendido a outras questões também, como por exemplo costumes, visitas, se gosta ou não de barulho, de festas. Tem gente que não consegue ‘casar’ esse convívio bem porque não são pessoas que têm um estilo de vida muito compatível”, explica.

Ambos ressaltam, porém, a tolerância como fator essencial e necessidade de respeitar os costumes dos demais habitantes da moradia. “Quando a pessoa mora com a família, ela ainda é muito acostumada com o próprio modo de vida, os próprios costumes e, geralmente, quando você vai morar fora, dividir o apartamento com outras pessoas, você tem que estar bastante aberto”, salienta Codogno. “As pessoas têm origens diferentes, podem vir de uma cultura ou região diferentes da sua, com outras condições. E é uma dificuldade de muita gente conseguir conviver com as diferenças dos outros”, pontua.

"É preciso entender que você está dividindo a moradia com pessoas que vão ter o próprio jeito delas de fazer as coisas, e não ficar querendo controlar isso”, destaca Vischi. “E também acho que é bom cada um ter o seu quarto. Acho isso muito importante porque, se dividir quarto, você não tem um lugar em que possa se fechar quando não está se sentindo bem, ou quando não quer conversar, ou até quando precisa fazer seus trabalhos da faculdade e precisa de silêncio”, descreve.

Ela conta também que, mesmo entre pessoas que já conviveram em outros contextos, dividir uma moradia pode trazer tensionamentos diferentes para as relações, e que, por vezes, pode acontecer de não funcionar. “Com uma das meninas com quem alugamos o apartamento inicialmente não deu certo a convivência, e acabamos trocando, ela saiu e entrou uma outra pessoa que conhecemos. E você pode conhecer a pessoa de estudar junto, de sair junto, mas é totalmente diferente de conhecer a pessoa morando no mesmo espaço”, conta. “Era uma pessoa que tinha um estilo de vida muito diferente do nosso, acabou não dando certo. As organizações das tarefas de casa também não ‘bateram’, num nível que virou incômodo, e a convivência acabou pesando muito”. Vischi ressalta, porém, que mesmo nessas situações, a comunicação é a melhor forma de externar as necessidades que surgem da convivência, e que, às vezes, morar juntos pode não ser a melhor opção.

Codogno, por fim, expressa que, com um bom diálogo entre todas as partes, dividir apartamento pode ser muito satisfatório. “Acho importante que a pessoa não assuma uma intimidade logo de cara. Que ela comece com um espaço bastante respeitoso com os outros moradores, com coisas como barulho, demora em banho, comida. Saber dividir muito bem as coisas, saber ouvir e saber falar quando precisar”, reforça. “É muito gratificante construir um convívio bom num apartamento e saber que aquelas são pessoas que podem te ajudar quando você precisar”, enfatiza o universitário. “Quando você ficar doente ou precisar de alguma coisa, eles vão ser o seu primeiro socorro, então é muito importante cultivar o respeito dessas pessoas que estão morando com você”, conclui.

Supervisão: Claudemir Scalone (editor interino)

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