São Paulo - O Brasil poderá fechar 2002 com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) semelhante ao do ano passado (1,51%), quando o racionamento de energia, a crise da Argentina e a queda da atividade econômica mundial, principalmente após os ataques terroristas de 11 de setembro, comprometeram o desempenho da economia.
A estimativa de repetição do desempenho econômico, baseada em projeções negativas para este segundo semestre, já é admitida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fundação vinculada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
''Ainda mantemos a projeção de crescimento do PIB em 2%, mas essa estimativa poderá ser revista para algo como 1,5%, conforme a divulgação dos próximos dados do IBGE sobre o desempenho da nossa economia no segundo trimestre'', adianta o diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, Eustáquio Reis. Em 2000, o crescimento do PIB foi de 4,5%.
Ao admitir nova mudanças nas estimativas, o Ipea reforça projeções já trabalhadas pelo mercado financeiro, indústria e comércio, numa reversão de expectativas econômicas, uma vez que, no início do ano, esperava-se um crescimento do PIB da ordem de 2,5% a 3% e, em avaliações recentes, como as do Banco Central (BC) e do Ministério da Fazenda, esse índice deverá ficar em menos de 2%.
A indústria está revendo pela segunda vez neste ano suas projeções. No início de 2002, o crescimento do PIB industrial projetado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) era de 3%. Em maio, foi recalculado para 2%.
''Já estamos revendo a projeção novamente. Ainda não temos uma nova estimativa, mas com certeza o crescimento em 2002 será abaixo de 2%'', afirma Clarice Messer, diretora de Pesquisas e Estudos Econômicos da entidade.
Emprego em queda - A revisão está em curso porque os dois principais indicadores da Fiesp apontam para um cenário nada positivo para a indústria. O Indicador do Nível de Atividade (INA) de janeiro a maio caiu 2,5% ante igual período de 2001, enquanto o nível de emprego industrial caiu 1,06% no primeiro semestre na comparação com os primeiros seis meses do ano passado. Até agora, foram fechadas 16.909 vagas na indústria de transformação paulista.
''Esses dados captam bem a reversão de expectativas'', justifica Clarice. Segundo ela, os motivos principais dessa mudança de humor foram o câmbio e a instabilidade econômica dos últimos 40 dias.
As vendas fracas no varejo também fizeram a Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) reduzir a previsão de crescimento do faturamento de 2,5% para 1,5%. O presidente da Abras, José Humberto Pires de Araújo, diz que o resultado das vendas de junho foi o estopim do recálculo da estimativa. Posição similar tem a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que agora projeta um crescimento máximo para o setor de 2%.