Arquivo FolhaNegócio da ChinaMesmo com a queda nas taxas de juros no ano passado, o comércio de eletroeletrônicos ainda ganha muito dinheiro com as vendas a prazoSÃO PAULO - O comércio de eletroeletrônicos continua ganhando muito dinheiro com a venda a prazo, apesar da queda nas taxas de juros do crediário registrada no último ano. O lojista que vende hoje, por exemplo, uma geladeira em 12 prestações com juros de 6% ao mês, ganha, além da venda, o equivalente a 88% do valor do produto comercializado, se tiver captado o dinheiro para financiar o consumidor a 12% ao ano no mercado externo. Caso o dinheiro tenha sido levantado junto a bancos nacionais, a um custo de 30% ao ano, ele embolsa líquido cerca de 70% do valor do produto.
Os cálculos do professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e consultor de varejo, Gustavo Ayala, mostram que, em fevereiro de 1996, quando os juros do crediário estavam na faixa de 9% ao mês, os lojistas chegaram a faturar com o crediário uma quantia ainda maior. Naquela época, o comerciante, que vendeu a mesma geladeira por um prazo de um ano tendo captado dinheiro no exterior a 12% ao ano, teve um ganho líquido equivalente a 170% do valor do produto. No caso de o dinheiro para bancar o crediário ter sido captado a 30% ao ano, a loja, além do valor da mercadoria, embolsou 150% do valor da venda.
‘‘Desde 1994, quem vende a prazo ganhou acumulativamente mais dinheiro que nos últimos cinquenta anos’’, afirma Ayala. Ele explica que, para sustentar este tipo de negócio, os lojistas captam dinheiro no exterior ou no mercado interno a um custo bem mais baixo do que emprestam e voltam a reaplicar os ganhos no próprio crediário para expandir o volume de vendas financiadas. O segredo do negócio, diz, é estar em contínuo crescimento e não parar de pedalar. ‘‘Se parar de pedalar, o lojista fica sem gás no meio do caminho e quebra.’’ Esse mecanismo explicaria o grande crescimento registrado pelas lojas que voltaram a trabalhar com crediário de longo prazo depois da estabilização da moeda.
O sócio-diretor da Loja Cem, Natale Dalla Vecchia, confirma que o comércio continua ganhando muito dinheiro com o crediário, apesar da redução nas taxas de juros ao consumidor. ‘‘Antes, o negócio era ótimo, agora é bom.’’ Há um ano, quando a taxa ao consumidor estava na faixa de 9% ao mês, o lucro líquido, no caso da sua empresa que trabalha com recursos próprios, era de 3% sobre os juros. Atualmente, com juros de 5,5% ao mês, o lucro líquido mal chega a 1%. Já as lojas menos capitalizadas, que trabalham com financeiras não participam do ganho proporcionado pelas taxas de juros. Elas recebem uma comissão das financeiras, entre 1% e 3%, sobre o total da venda a prazo.
Limite Com a redução gradativa nas taxas de juros, o comércio está caminhando para uma situação em que os ganhos fáceis proporcionados pela venda a prazo está chegando no limite. Segundo Ayala, o limite é uma taxa de juros ao consumidor abaixo de 2% ao mês, que deve ser atingida no segundo semestre do ano que vem. ‘‘Abaixo de 4% ao mês já começa a piscar o sinal amarelo’’, diz o consultor.
‘‘Estamos próximos do limite’’, confirma Dalla Vecchia. Segundo o empresário, que trabalha hoje com taxas de até 5,5% ao mês para planos em até 24 prestações, com juros inferiores a 4% ao mês as lojas começam a perder o ganho financeiro e ficam apenas com o lucro mercantil, isto é, da operação de compra e venda do produto. Um dos fatores ainda comprometem o ganho financeiro por causa da queda dos juros é a elevada inadimplência. No seu caso, o calote representa 3,5% da carteira de crédito a receber.