Historicamente apontado como uma alternativa mais barata à carne, o ovo já não está mais tão acessível aos consumidores. O aumento nos custos de produção reduziu a oferta e esses dois fatores aliados à expansão da demanda, ainda mais impulsionada no período da quaresma, elevaram o preço do produto nos últimos meses. Entre dezembro do ano passado e março deste ano, a alta foi de quase 30%. A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) estima uma estabilização nos custos de produção para os próximos meses, o que deve fazer o preço do ovo se acomodar, porém em patamares altos.

“O que tem pesado no custo dos ovos, ultimamente, são o milho e o farelo de soja. Eles representam quase 80% dos custos de produção do ovo de mesa e isso deve continuar alto”, disse o presidente da ABPA, Ricardo Santin. Nos últimos dois anos, ressaltou ele, esses insumos tiveram alta de mais de 120%, chegando a 150% em alguns casos. No período, também foi observada uma pequena queda na produção, que baixou de 54 bilhões de unidades ao ano em 2020 para 52 bilhões no ano passado. “Os custos de produção estão tendo repasses seguidos e esses repasses são exatamente para conseguir tentar buscar equilíbrio na cadeia de produção de ovos. Esses custos são caros e devem se manter. A boa notícia é que deve ter uma estabilidade, embora em patamares elevados.”

Rafaela de Marco trabalha com os pais e a irmã na produção e distribuição de ovos. A família mantém uma granja em Arapongas há mais de 25 anos e uma distribuidora em Cambé, onde vende no varejo e no atacado. Ela conta que a alta no preço do produto vinha acontecendo gradualmente desde o ano passado, mas entre o final de fevereiro e o começo de março, houve um salto significativo. “Na quaresma sempre sobe o preço, mas aumentou demais neste ano. Está faltando ovo no mercado e a demanda é maior”, comentou. A bandeja com 30 unidades, que em dezembro era vendida ao consumidor final por R$ 17, hoje sai a R$ 22, uma alta de 29,41%.

“Agora é uma questão de sazonalidade. Perto da quaresma há um aumento de consumo natural e histórico de ovos. Por questões religiosas, as pessoas diminuem o consumo de carne vermelha e aumentam o consumo de ovos. Por isso, devemos ter um aumento de preços puxado não só pelos custos, mas pela sazonalidade de aumento de demanda junto com a oferta estabilizada que a gente tem”, avaliou Santin.

Sem opções mais em conta, os consumidores cortam outras despesas para manter a proteína no cardápio. Foi o que fez a servidora pública aposentada Claudine Mota de Souza, que reduziu o consumo de outros supérfluos para poder compensar a alta nos preços das carnes, dos laticínios e, mais recentemente, dos ovos. "Tudo está caro e a gente tem que ir adequando o orçamento senão a aposentadoria não chega até o fim do mês. Temos que aprender a conviver com essa inflação."

"Em relação a outros alimentos, os reajustes no preço dos ovos, ainda foram menores. Alguns alimentos subiram muito mais de preço. A gente procura balancear a alimentação lá em casa e o ovo entra junto com a carne. Continuamos consumindo normalmente", disse o professor Waldemar Blota.

DESCARTE DE GALINHAS

Segundo de Marco, a alta no preço do milho e da soja, principais insumos utilizados como ração para as aves, inviabilizou a produção e, nos últimos meses, proprietários de granjas descartaram muitas galinhas. “O milho e a soja influenciam em 80% no preço da ração da galinha. Esses produtos tiveram muito aumento, os granjeiros não conseguem repassar o valor ao consumidor. A gente ganha menos.”

A gripe aviária é outro fator que contribuiu para elevar os preços. Enquanto a presença do vírus H5N1 em outros países faz crescer as exportações de ovos, diminuindo a oferta interna do produto, a proximidade da doença, que já circula em países vizinhos, como Argentina e Uruguai, ameaça a produção brasileira. “A gente está rezando para que a gripe aviária não chegue ao Brasil porque essa doença dá muito descarte de galinha e se isso acontecer, o preço vai subir ainda mais”, disse de Marco.

“Nossas vendas aumentaram muito nos últimos tempos, mas com a falta de ovo no mercado a gente não consegue comprar. Na distribuidora, 50% das vendas são de produção nossa e 50% vêm de uma outra granja e o produtor também não tem ovos para atender a demanda”, disse a granjeira.

TENDÊNCIA

O economista Marcos Rambalducci aponta dois movimentos que poderiam contribuir para baratear os ovos no curto prazo, que são a queda no preço do farelo de soja e a estabilização do preço do milho. “Mas há um senão que pode vir a prejudicar a queda nos preços que é o aumento da demanda por esta proteína à medida que forem iniciados os embarques de carne bovina para a China em função da retirada de restrições da nossa carne por este mercado. De qualquer forma, a tendência majoritária seria pela manutenção dos preços próximos aos valores atuais, ao menos nos próximos 60 dias.”