O preço da carne bovina disparou 19,13% em dez dias e bateu o recorde histórico no País, puxada principalmente pelo apetite chinês. Segundo o indicador do boi gordo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o valor da arroba fechou na quinta-feira (14) a R$ 199,25 e a tendência é de continuar a aumentar ao menos até o fim do primeiro semestre de 2020, o que agrada pecuaristas e assusta o consumidor.

Na quinta-feira (14), a arroba do boi gordo bateu recorde histórico fechando a R$ 199,25
Na quinta-feira (14), a arroba do boi gordo bateu recorde histórico fechando a R$ 199,25 | Foto: iStock

Além da tradicional alta da demanda nacional pela proximidade das confraternizações de fim de ano, quando os atacadistas se abastecem, o volume embarcado para fora do País se mantém acima das 100 mil toneladas desde julho de 2018. O principal motivo é que a China precisou ir ao mercado em busca de proteína animal em geral, após abater cerca de metade do próprio plantel de suínos devido a uma epidemia de Peste Suína Africana.

Assim, as exportações brasileiras de carne bovina bateram recorde em outubro, com 185,9 mil toneladas (t), conforme a Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos). Nos seis primeiros dias úteis de novembro já passaram de 37 mil t. E novas plantas brasileiras têm sido habilitadas pelo gigante asiático, em busca de preços melhores e segurança alimentar. Foram 13 somente na última terça-feira (12).

Por outro lado, a oferta de animais tem sido restrita em todas regiões acompanhadas pelo Cepea, após o abate de fêmeas em anos recentes. “Foi uma confluência de fatores, que começa com toda essa demanda interna suprimida, que deixou o preço da arroba em baixa e impactou no tamanho do rebanho”, diz o diretor de pecuária da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Ricardo Rezende.

Rezende também cita o leve aumento da demanda interna, a restrição pela alta da cotação do milho no momento do fechamento do confinamento e o apetite chinês, como elementos do que chama de “tempestade perfeita”. Ele explica que o momento é de entrada de carne para o abate, o que provocaria a estabilização ou até queda de preços. Não é o que ocorrerá desta vez. “São seis a sete meses até que se compre insumos e coloque mais animais em confinamento.“

O professor de economia Eugenio Stefanelo, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), diz que outra variável importante é a taxa de câmbio, que está no patamar de R$ 4,20 e influencia o mercado cuja cotação segue a paridade internacional. “Isso ocorreu fundamentalmente pela saída de US$ 22 bilhões de dinheiro do investidor para o exterior, principalmente pela redução da taxa básica de juros”, conta ele, que é especialista em agronegócio.

Stefanelo complementa que os preços de aves e suínos também aumentaram, ainda que menos nos últimos meses. “Todos os produtores de proteína seguirão com bons lucros até ao menos o fim do primeiro semestre de 2020, mas provavelmente até o fim de 2021. Até a cotação do leite está compensadora.”

Para o consumidor, a solução é substituir a proteína animal por outras mais baratas, diz o economista. “A inflação vai aumentar, mas sobre as carnes. Como o mercado de trabalho ainda tem leve melhora, não vejo risco de ficar acima do centro da meta neste ano e no próximo”, prevê Stefanelo.

Imagem ilustrativa da imagem Preço da carne dispara quase 20% em dez dias
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