As pessoas, via de regra, têm dificuldades de poupar sistematicamente. Para enfrentar essa situação corriqueira e poder garantir uma educação de qualidade para os filhos, há investimentos escolhidos pelos pais que podem contornar esse quadro.

O engenheiro mecânico Alexandre Resende abriu poupança logo após o nascimento da filha, Alice Resende
O engenheiro mecânico Alexandre Resende abriu poupança logo após o nascimento da filha, Alice Resende | Foto: Gustavo Carneiro

Segundo Sidnei Pereira do Nascimento, doutor em Economia e professor do Departamento de Economia da UEL, uma boa alternativa dentro desse contexto é a caderneta de poupança programada, em que todo mês é retirado um valor da conta corrente e destinado à reserva financeira. “Se você tiver isso bem definido, ao longo de um tempo vai fazer um caixa para a educação”, destaca.

Existem, porém, inúmeras formas de poupar dinheiro para ser investido na educação dos filhos.

Desde a caderneta de poupança, que é um investimento garantido, até a compra de ações ou de imóveis, de maior risco. “Existe uma relação risco-retorno. Quanto menor o risco daquele investimento, menor o retorno. Quanto maior o risco, maior tende a ser o retorno. Poupança é de baixo risco, compra de imóveis tende a ser de um risco mediano e investir em ações é de maior risco”, enumera.

Segundo o professor, se houver um objetivo de que o investimento será a longo prazo (10 ou 20 anos, por exemplo), apostar em ações tende a dar um retorno significativo. “Você pode começar a poupar desde o nascimento da criança, que seria o ideal.”

A taxa básica de juros da economia hoje está baixa, em 2,75% ao ano, o que possibilita um ganho quase nulo na caderneta de poupança. No entanto, segundo Sidnei, mais que se atentar à rentabilidade, o maior foco deve ser no objetivo, que precisa ser claro.

“O que temos visto ao longo dos anos, com a educação pública deixando a desejar, é que os pais que investem na educação básica para o filho tendem a não ter que pagar faculdade porque os filhos conseguem entrar numa universidade pública.”

Os pais pagam a educação até o ensino médio, de maior qualidade, e isso garante ao filho uma probabilidade maior de ingressar numa universidade gratuita. “O desembolso maior no início proporciona um desembolso menor no final. Isso a gente tem visto ao longo dos últimos anos.”

Outra tendência apontada pelo docente a respeito desse tema está embasada por estudos diversos: a influência da mãe nesse processo. “Algumas pesquisas mostram que, quando a mãe tem um grau de educação maior, os filhos tendem a ter um grau de educação maior. A mãe tem um papel fundamental nesse processo porque é ela quem incentiva, via de regra, a educação do filho. Isso é ciência, é fato”, pontua.

Para o professor, investir em educação é simplesmente a melhor escolha. “É um bem que a pessoa leva consigo para o resto da vida, não fica sujeita às intempéries de governo, do clima. Um bem intangível que efetivamente alavanca a vida de uma pessoa. É o caminho para a libertação e o crescimento de alguém”, conclui.

A vida inteira

Desde o nascimento da filha única Alice, hoje com 21 anos, o engenheiro mecânico Alexandre Resende se programou financeiramente pensando na educação da herdeira.

O primeiro grande uso da reserva financeira ocorreu há cerca de quatro anos. Após não passar na primeira tentativa no vestibular, Alice foi fazer um intercâmbio por três meses na França.

“Valeu muito a pena porque ela foi uma menina e voltou uma mulher. Aprendeu uma língua, uma cultura, conviveu com pessoas diferentes, abriu a cabeça para o mundo, para a diversidade. Na época, foi um investimento de um carro popular hoje”, relembra. Depois que voltou do intercâmbio, Alice acabou passando em jornalismo na UEL (Universidade Estadual de Londrina).

“Continuo fazendo reservas porque existe a possibilidade de, terminando a faculdade, ela continuar estudando, talvez fazer um mestrado fora do país. Então isso é algo para o qual eu preciso me programar e estar atento.”

Os tipos de investimentos na educação de Alice foram variados – caderneta de poupança, fundo de previdência privada e mercado de ações.

“Esse é o investimento número 1 que faz a vida valer a pena. É muito gratificante enxergar uma pessoa preparada, capacitada, mais plena. Não é simplesmente ter uma profissão ou fazer um curso, mas viver de uma maneira independente. Isso é muito importante. Não é só uma formação acadêmica, como também emocional e psicológica que dá sustentação a ela de uma maneira completa”, conclui Resende.