População já sente no bolso os efeitos das decisões do Copom
Quedas sucessivas na taxa Selic impactam o cotidiano dos brasileiros, que aumentaram o poder de compra e reduziram a inadimplência
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 19 de março de 2024
Quedas sucessivas na taxa Selic impactam o cotidiano dos brasileiros, que aumentaram o poder de compra e reduziram a inadimplência
Simoni Saris - Grupo Folha
O Copom realiza, nesta terça (19) e quarta-feira (20), a
segunda reunião do ano para discutir os rumos da taxa básica de juros, a Selic.
As decisões do Comitê de Política Monetária influenciam toda a economia e a
política monetária nacional e a expectativa do mercado é que diante de fatores econômicos
bastante favoráveis, o Banco Central reduza em mais 0,5% a taxa, baixando para
10,75% ao ano.
Desde que assumiu a presidência, em janeiro de 2023, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou uma queda de braço com o Banco
Central e em diversas ocasiões criticou o posicionamento do Copom, que mantinha
os juros em um dos maiores patamares do mundo. Desde agosto de 2022, a taxa
Selic vinha sendo mantida em 13,75%. A leitura do governo era de que um
percentual tão elevado impedia maiores avanços na economia.
A situação começou a mudar a partir de agosto do ano
passado, quando pela primeira vez, em 12 meses, o Copom decidiu pela redução
dos juros e definiu a taxa em 13,25%. A partir de então, houve uma redução
gradual, de 0,5%, a cada reunião do comitê. Na última reunião, em janeiro, a taxa
foi fixada em 11,25%. A expectativa do boletim Focus do Banco Central é que até
dezembro a Selic caia para um dígito. A previsão é fechar o ano em 9%.
Para estipular a taxa básica de juros o Copom avalia diferentes
aspectos econômicos, como a inflação, a atividade econômica, as contas públicas
e o cenário externo. A Selic é o principal instrumento do Banco Central para o
controle inflacionário e as decisões do comitê ditam os rumos de toda a
política monetária nacional, com influência no valor de mercadorias e serviços,
no poder de compra da população e no valor da moeda brasileira.
Em razão dos impactos no nível macroeconômico, o cidadão
comum demora a perceber os efeitos da redução dos juros, mas após um ano e meio
de movimento decrescente, a população em geral já consegue tirar proveito das
decisões do Copom. “A redução em si, mês a mês, por si só, tem um peso muito
pequeno, imperceptível para quem compra um bem a prazo. Mas como vêm vindo várias
reduções, o consumidor já encontra condições de crédito muito melhor”, apontou
o diretor executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças,
Administração e Contabilidade), Miguel José Ribeiro de Oliveira.
O diretor executivo destacou ainda que os consumidores já observam o aumento do poder de compra, decorrente da alta do salário mínimo, da inflação sob controle, associadas a uma política de juros mais branda. “Juros menores significam empresas com menos juros. O país cresce mais, sobra mais dinheiro para o consumo, o governo paga menos juros para financiar a vida pública, é um resultado para a economia muito positivo.”
A aposta da Anefac é de que no início da noite desta
quarta-feira o Copom anuncie uma nova queda, de 0,5%, e por essa razão,
Oliveira aconselha a adiar até o final da semana a compra de bens de maior
valor, como automóveis e geladeira, por exemplo. “Quem puder esperar até depois
da reunião do Copom, vai se beneficiar porque a taxa de juros do financiamento
é fixada pelo percentual vigente na data do contrato e mesmo que a Selic caia,
o valor financiado não se altera. Por isso, convém esperar.”
COMÉRCIO
Além da taxa de juros, o presidente da Faciap (Federação das
Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná), Fernando Moraes,
chama a atenção também para a queda na inadimplência, o que avalia como uma
consequência do programa Desenrola Brasil, do governo federal, e para o aumento
dos postos de trabalho no Estado.
Um levantamento feito pela Faciap com base nos dados do SPC
Brasil mostrou queda de 1,80% no índice de inadimplência no Paraná em fevereiro
de 2024 quando comparado com igual período do ano anterior. O dado ficou abaixo
da média da Região Sul, que teve variação positiva de 0,51%, e da média nacional,
que cresceu 2,79%. “Temos uma pontualidade maior de pagamentos no Paraná e, na
semana passada, saiu uma pesquisa da Fecomércio-PR (Federação do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo do Estado do Paraná) mostrando que cresceu bastante o
endividamento no Estado, o que é bom. O que não pode é essa dívida resultar em
inadimplência”, comentou Moraes.
Segundo o presidente da Faciap, embora os fatores econômicos
positivos ainda não tenham se refletido no volume de vendas da indústria, mas isso
é apenas uma questão de tempo. “Já começa a sobrar um pouco mais de dinheiro
para o consumidor e a aceleração nas vendas vai acontecer lá na frente. O
dinheiro vai ter mais valor e os produtos vão ficar mais baratos.”
O economista e professor do curso de economia da Faculdade Anhanguera,
Élcio Cordeiro da Silva, disse que o efeito da redução dos juros no cotidiano
dos cidadãos comuns ainda é muito pequeno porque há uma diferença expressiva
entre a taxa Selic e os juros cobrados dos consumidores. Para que as decisões
do Copom reverberem nos orçamentos domésticos, explicou ele, é necessário que
venham acompanhadas, principalmente, da queda no nível de endividamento e
inadimplência das famílias e empresas. Mas isso já vem acontecendo.
Silva citou a Peic (Pesquisa de
Endividamento e Inadimplência do Consumidor), realizada recentemente pela CNC
(Confederação Nacional do Comércio), que indicou recuo no percentual de
famílias com dívidas em atraso. “No último Natal, muitas famílias optaram por
usar o 13º salário para pagar dívidas ao invés de gastar. Esses dados podem
levar à redução do risco de inadimplência, embutido nos juros cobrados ao
consumidor, potencializando, assim, o efeito da queda da taxa Selic.”
O economista salientou que a queda
da taxa básica de juros auxilia na percepção de melhora da economia. “Esta
redução vem acompanhada de uma reação expressiva do mercado de trabalho formal
e controle da inflação, por parte do Banco Central. Todos esses fatores
melhoram a percepção das famílias e empresas com relação à economia brasileira.
Assim, os agentes econômicos passam a se comportar de forma otimista,
estimulando o crescimento da economia.”
Apesar de reajustes de preços nos grupos de educação, alimentação e transportes terem provocado o aumento do índice oficial de inflação, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), em fevereiro, Silva ressaltou que esse fator não deverá mudar a direção da Selic, que deverá manter a queda. “A inflação oficial está dentro do limite máximo do Banco Central.”