PIB cresceu 0,82% em 99; meta de 4% para este ano é improvável
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quarta-feira, 09 de fevereiro de 2000
Agência Estado
Do Rio
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro aumentou 0,82% no ano passado, segundo dados preliminares anunciados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A economia não cresceu, mas, se considerarmos as previsões catastróficas feitas em janeiro do ano passado, o desempenho foi melhor do que o esperado, avaliou o coordenador do PIB do IBGE, Roberto Olinto.
IBGE anuncia expansão, contrariando projeções do início de 99. Valores absolutos serão divulgados até julho
Os dados de 99 são relativos ao PIB a preço básico, e não a preço de mercado ou seja, não incluem os impostos que incidem sobre os produtos. O PIB a preços de mercado deve ser divulgado somente em julho. Por este motivo, o valor absoluto da produção brasileira em 99 não foi informado pelo IBGE.
Olinto considerou improvável a meta de crescimento de 4% neste ano, como vêm prevendo os integrantes da equipe econômica do governo. Para se chegar a este número, teria de haver fatores extraordinários, como um belo aumento das exportações, justificou. Com a política de metas de inflação do governo, pouco se pode mexer na taxas de juros, e não sei se vai haver espaço para aumento de 4% do PIB.
O economista do IBGE considera uma previsão de aumento de 3% mais razoável para o início de 2000 mas mesmo este número deve sofrer revisão no meio do ano, afirmou. Pela tendência, a economia está em um crescimento controlado. Mesmo com a redução da área plantada, a produção agropecuária deve continuar a mostrar bons resultados, e as exportações também devem aumentar.
O coordenador do IBGE alertou que a agricultura não deve impulsionar tanto a atividade econômica neste ano, como em 1999. Depois de um período de crescimento muito grande, fica difícil crescer mais ainda, afirmou. Ele estimou que a indústria terá maior peso no desenvolvimento econômico. Teremos uma divisão melhor, previu.
O crescimento de 2,55% da indústria no último trimestre foi surpreendente, para Olinto, e reverteu uma queda na produção iniciada ainda no fim de 1997, depois da crise do mercado financeiro asiático. O aumento das exportações e os ajustes das empresas ajudam a explicar a mudança mas a retração prolongada também.
O desempenho da indústria e dos serviços, que cresceu 1,30% entre outubro e dezembro, resultou no aumento de 1,42% do PIB no último trimestre do ano passado, em comparação com o trimestre anterior. Os dois setores compensaram a retração de 1,37% da agropecuária no período.
A safra do primeiro trimestre resultou no crescimento de 8,99% da agropecuária no ano passado o maior impacto positivo no PIB. A atividade industrial sofreu queda de apenas 1,66%, devido à recuperação do setor no último trimestre. O setor de serviços, contido pela queda da renda e do alto índice de desemprego, cresceu somente 1,07%.
O pequeno crescimento, combinado com o aumento da população brasileira, significou a queda da renda per capita dos brasileiros, admitiu o economista. Se admitirmos uma taxa de crescimento populacional de 1,198% em 1999, houve queda do PIB per capita de 0,4%, estimou, lembrando que seria a segunda queda consecutiva. Em 1998, a renda per capita caiu 1,32%.
Em 1998, o PIB cresceu 0,05% a preços básicos, mas, quando foi corrigido com o valor dos impostos, o resultado foi uma queda de 0,12%. O valor absoluto do PIB, no ano retrasado, foi de R$ 899 bilhões. O IBGE informou que, de 1990 a 1999, o crescimento médio do PIB foi de 23,32% ou 2,36% em média, por ano. Desde o início do Plano Real, o PIB aumentou 13,11%.
ProjeçõesApesar da desconfiança do próprio IBGE, o mercado acredita no crescimento de 4% do PIB este ano. O economista-chefe do banco Chase Manhattan, Luiz Fernando Lopes, e o coordenador do grupo de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Levy, estão otimistas em relação a 2000. Estamos em um novo patamar de atividade econômica, e a recessão ficou para trás, enfatizou Levy. Para o Ipea, vinculado ao Ministério do Orçamento e Gestão, os valores dos produtos de exportação devem crescer 16,5% em 2000.
O economista-chefe do Chase espera recuperação da indústria este ano. Mas está longe a explosão de consumo do início do Plano Real. Agora, haverá exportação de manufaturados e substituição de importações. Lopes diz que se as reformas estruturais avançarem dentro do esperado, o PIB deve crescer 3,9% em 2000, 4,4% em 2001 e mais de 5% em 2002.