Brasília - A Polícia Federal utilizou como elementos para pedir a prisão de Anna Saicali, ex-diretora das Lojas Americanas, os indícios de tentativa de esvaziamento de bens e a ida dela para Portugal, cuja passagem foi comprada no mesmo dia da viagem e sem previsão de retorno.

A transferência de bens apontada pela PF foi revelada pela Folha de S.Paulo. Reportagem de junho de 2023 mostrou que Saicali transferiu bens ao filho antes do anúncio do escândalo contábil.

A executiva ocupava uma das posições na diretoria estatutária aprovada pelo conselho de administração da Americanas, mas foi afastada, assim como os outros diretores, depois da revelação do escândalo contábil, que virou alvo de apuração na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), na Polícia Federal, no Ministério Público e na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara dos Deputados.

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Anna Saicali e Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas, foram os dois únicos alvos de mandados de prisão preventiva da operação Disclosure, deflagrada na quinta (27) pela PF. Gutierrez foi preso nesta sexta (28) em Madri.

A ex-diretora deixou o Brasil no dia 15 de junho. Segundo a PF, ela embarcou ao lado do filho para Lisboa com passagem somente de ida.

No entendimento dos investigadores, o fato de Anna Saicali comprar apenas a passagem de ida "mesmo sabendo que é investigada em inquérito policial no Brasil, além de se mudar com o seu filho, demonstra o intuito" definitivo na mudança e o "intento de garantir a não aplicação da lei penal".

"As circunstâncias de sua saída do país –passagem adquirida no mesmo dia da viagem à Portugal, no próprio balcão do Aeroporto Internacional de Guarulhos, num voo apenas de ida, sem aquisição da passagem de volta, algo que destoa completamente daquilo que é usual nas viagens a turismo–, logo após tomar conhecimento da existência de medidas cautelares pendentes de apreciação por este Juízo [...] geram fundadas suspeitas de que a Investigada pretenda se evadir do distrito da culpa para se furtar à aplicação da lei penal", afirma o juiz federal Márcio Muniz da Silva Carvalho ao decretar a prisão.

O juiz federal afirma também que foram detectadas diversas movimentações patrimoniais atípicas realizadas pela ex-executiva da Americanas.

Para o juiz, as movimentações, "parecem indicar uma tentativa de esvaziamento patrimonial e transferência de bens (notadamente imóveis de alto valor) a interpostas pessoas físicas e jurídicas."

A transferência de bens foi revelada pela Folha de S.Paulo. Anna Saicali formalizou em junho de 2018 a abertura de uma empresa chamada Taboca Ventures Participações Ltda., com sede em um apartamento de um prédio residencial que fica em um condomínio atrás do Shopping Iguatemi, na zona oeste de São Paulo.

Saicali cedeu para seu filho quase a integralidade de suas cotas na companhia, no valor total de mais de R$ 13 milhões, ficando com somente uma quota no valor de R$ 1.

O mesmo instrumento contratual formalizou também a transferência à Taboca de um terreno em São José do Rio Preto (SP) e uma fazenda em Sud Mennucci (SP), avaliados em cerca de R$ 2 milhões e R$ 800 mil, respectivamente, para aumentar o capital social da empresa.

Essa alteração contratual tem data de 23 de dezembro de 2022. A Americanas veio a público em 11 de janeiro de 2023 para anunciar as "inconsistências contábeis" da ordem de R$ 20 bilhões.

Além dessas movimentações, a PF também cita que a ex-diretora, em janeiro de 2023, transformou o único imóvel que permaneceu no seu nome, localizado no bairro do Leblon no Rio de Janeiro (RJ), em bem de família, o que dificulta a apreensão e bloqueio em investigações.

"Saliento que este Juízo não pretendia a priori decretar a prisão preventiva de nenhum dos investigados na Operação Disclosure, porém os fortes indícios de evasão de Anna Saicali do país na tentativa de se furtar à aplicação da lei penal não deixam qualquer outra alternativa a este magistrado", afirma o juiz Márcio Carvalho ao autorizar a prisão.