A Petrobras ignorou os apelos do governo federal e anunciou, na manhã desta sexta-feira (17), uma nova alta dos combustíveis. A gasolina será reajustada em 5,2% e o diesel, em 14,2% nas refinarias. Depois de exatos 99 dias sem aumentos, o preço médio da gasolina nas refinarias da estatal passará de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro. Já o preço do diesel passará de R$ 4,91 para R$ 5,61 o litro. O último ajuste havia sido aplicado há 39 dias.

A notícia desagradou caminhoneiros e setores produtivos, que reclamam da dificuldade de manter a atividade, com a elevação constante dos custos. Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro defendeu uma CPI para investigar presidente da Petrobras após novo reajuste. Já o presidente da Câmara dos Deputados, Arhtur Lira (PP-AL), defendeu a demissão do presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, e disse que vai trabalhar para taxar o lucro da petroleira.

A Petrobras alega que o mercado de petróleo passou por mudança estrutural e que é necessário buscar convergência com os preços internacionais.

O óleo diesel corresponde a 60% dos custos da atividade dos caminhoneiros, segundo o presidente do Sindicato de Transportes Rodoviários Autônomos de Bens de Londrina e Região, Carlos Roberto Dellarosa. A cada novo aumento, reforçou ele, a alta é repassada ao preço do serviço, iniciando um efeito cascata que termina nas gôndolas dos supermercados, atingindo em cheio o bolso dos consumidores. “O caminhoneiro vai ter que repassar isso, não tem condição dele absorver essas altas. O resultado disso é que a inflação vai ficar cada vez maior, o governo vai subir mais os juros e o nosso país está indo cada vez mais para baixo. É uma bola de neve.”

O sindicalista defende uma mudança na política de preços da Petrobras e culpa os estados, que aplicam 30% do ICMS no valor de venda do produto. “Onde é que já se viu o óleo diesel, que é um produto que a gente usa para trabalhar, custar mais caro do que a gasolina, que as pessoas usam para passear? Teria que ter um incentivo para o trabalhador”, cobrou Dellarosa.

No agronegócio, que produz commodities com o preço regulado pelo mercado internacional, as altas nos preços dos insumos devem ser absorvidas pelos produtores rurais que reduzem a margem de lucro ou amargam prejuízo. Para os agricultores que já compraram as sementes e os adubos e estão aguardando para fazer o plantio, a situação é “muito difícil”, apontou o presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Antonio Sampaio. “Não tem solução. Se está com uma safra em andamento, já fez investimento, já planejou, é prejuízo ou comer da tua margem de lucro.”

Sampaio, disse entender que a alta dos preços da energia é um fator global e não uma exclusividade do Brasil, mas criticou o monopólio da Petrobras e a política adotada pela estatal para cobrir os rombos. “Fazer a gestão de um monopólio subindo o preço de um produto essencial qualquer um faz. Deu prejuízo, sobe o preço e cobre o buraco. Queria ver se fosse um mercado aberto.”

Assim como o representante dos caminhoneiros, o presidente da SRP também questiona a taxa de ICMS cobrada pelos estados sobre os combustíveis. “Trinta por cento de ICMS é outra piada. Não dá para ter uma taxa de imposto desse tamanho sobre um produto essencial. Isso é uma maluquice que tem que ser revista. Daqui a pouco, o produtor rural vai estar trabalhando de graça.”

Sobre a possibilidade de paralisação da categoria, Dellarosa se posiciona contrariamente. Segundo ele, essa reivindicação compete a toda a sociedade e não pode ser uma pauta exclusiva de uma única categoria. “Isso não diz respeito ao caminhoneiro, mas à população em geral. A bandeira não está na mão do caminhoneiro. Se ele parar, vai estar sofrendo e chamando para si a responsabilidade. O caminhoneiro pode somar a outras categorias, como o agronegócio.”

O presidente da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná), Fernando Moraes, afirmou que esse aumento "pegou todo mundo de surpresa." Moraes acredita que o reajuste do diesel vai impactar na questão de frete e, em consequência, no valor dos produtos do comércio. "Com o esforço do governo para aprovar a PLP 18/2022 para a diminuição dos impostos, haveria essa redução, mas isso (novo aumento) afeta toda a cadeia. Tem frete e todos os custos de produção iria diminuir os preços dos produtos na prateleira."

A Fiep (Federação das Indústrias do Paraná) também se manifestou por meio de nota na qual defende a busca de equilíbrio para pacificar o tema e encontrar um preço justo para os combustíveis: "A Fiep acompanha com atenção a evolução dos preços dos combustíveis no país. Os combustíveis representam cerca de 40% dos custos do transporte de cargas e as variações nos preços têm reflexo no resultado financeiro das indústrias e no preço das mercadorias para o consumidor final. A Fiep entende que, neste tema, é necessário encontrar um equilíbrio entre a sustentabilidade da empresa produtora dos combustíveis, a necessidade fiscal da União e dos estados e, principalmente, um preço justo e acessível para o setor produtivo e para a população".

TENSÃO

Na quinta-feira (16), o conselho de administração da Petrobras rejeitou pedido do governo para evitar reajustes, defendendo que a definição de preços é atribuição da diretoria executiva. A reunião havia sido convocada a pedido do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.

O pedido do Planalto foi uma última cartada do governo para tentar evitar o aumento em meio ao esforço para aprovar um pacote de medidas para tentar reduzir os preços que, segundo o presidente Jair Bolsonaro, poderia deixar os preços da gasolina e do diesel em R$ 2 e R$ 1 por litro, respectivamente.

Logo após a votação do conselho, a Petrobras foi alvo de ataques de Nogueira e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). O ministro pediu um “basta” e disse que a empresa “não pode abandonar os brasileiros na maior crise do último século”. Lira acusou a empresa de estar em “estado de guerra” contra o Brasil e ainda comparou os reajustes a um “bombardeio”.

À noite, em sua live semanal, o presidente disse que um novo reajuste no preço dos combustíveis teria “interesse político para atingir o governo federal”. Na manhã de sexta-feira (17), ele voltou a atacar a empresa. “A Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos. Seu presidente, diretores e conselheiros bem sabem o que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018, e as consequências nefastas para a economia do Brasil e a vida do nosso povo.”

Leia mais: https://www.folhadelondrina.com.br/economia/aliado-de-bolsonaro-mendonca-determina-que-estados-reduzam-icms-sobre-diesel-3207043e.html

Em nota divulgada na sexta-feira, a Petrobras disse que “é sensível ao momento em que o Brasil e o mundo estão enfrentando e compreende os reflexos que os preços dos combustíveis têm na vida dos cidadãos”, mas que o mercado global de energia está “em situação desafiadora”. “Com a aceleração da recuperação econômica mundial a partir do segundo semestre de 2021 e, notadamente, com o início do conflito no Leste Europeu em fevereiro de 2022, tem-se observado menor oferta e maior demanda por energia, com aumento dos preços e maior volatilidade nas cotações internacionais”.

A companhia afirmou ainda que, com os reajustes, “reitera seu compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com o mercado, ao mesmo tempo em que evita o repasse imediato para os preços internos da volatilidade das cotações internacionais e da taxa de câmbio”.

PEC DOS COMBUSTÍVEIS

Na última quarta-feira (15), o Congresso concluiu a votação de projeto de lei que estabelece um teto para alíquotas do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre os combustíveis, que pode reduzir o preço médio da gasolina em R$ 0,657 por litro, segundo projeção do consultor Dietmar Schupp.

O Congresso deverá debater a chamada PEC dos combustíveis na semana que vem. A medida autoriza o governo a zerar impostos federais sobre a gasolina e compensar estados que se dispuseram a reduzir o ICMS sobre o diesel e o gás de cozinha.(Com Folhapress e colaboração de Vitor Ogawa/Reportagem Local)

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