Imagem ilustrativa da imagem Petrobras anuncia novos reajustes para gasolina, diesel e gás de cozinha
| Foto: Anderson Coelho/30-11-2013

Rio de Janeiro - Em meio ao debate sobre reajustes dos combustíveis e independência da Petrobras para definir seus preços, a estatal anunciou nesta segunda (8) novos reajustes para gasolina, óleo diesel e gás de cozinha vendidos em suas refinarias.

A gasolina subirá, em média, 8,1% (ou R$ 0,17) passando para R$ 2,25 por litro. O diesel terá alta de 5,1% (R$ 0,11), indo a R$ 2,24 por litro. Já o GLP (gás liquefeito de petróleo) sobe 5,05% (R$ 1,81 por botijão).

Todos os valores correspondem a preços médios nacionais – a Petrobras pratica preços diferentes por refinaria. Eles passam a vigorar a partir desta terça (9). Não consideram impostos nem os outros custos da cadeia de distribuição e revenda.

Será o terceiro reajuste da gasolina e o segundo do diesel em 2021. Nas bombas, os dois produtos acumulam alta de 5,5% e 3,5%, respectivamente, no ano. Na semana passada, a gasolina custava, em média, R$ 4,769 por litro, enquanto o diesel saía a R$ 3,762 por litro.

Os reajustes nas refinarias acompanham a recuperação das cotações internacionais do petróleo, impulsionada pelas expectativas de retomada da economia com o avanço da vacinação contra a Covid-19 pelo mundo.

"Os preços praticados pela Petrobras têm como referência os preços de paridade de importação e, dessa maneira, acompanham as variações do valor dos produtos no mercado internacional e da taxa de câmbio, para cima e para baixo", disse a empresa nesta segunda.

Críticas de caminhoneiros aos aumentos geraram uma tentativa de reação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que reuniu na sexta (5) a área econômica do governo e o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, para anunciar propostas sobre o tema.

O esforço trouxe de volta dúvidas sobre a independência da Petrobras para definir seus preços, reforçadas após revelação, na tarde daquele dia, que a estatal havia estendido em 2020 o prazo para avaliação da paridade entre os preços internos e as cotações internacionais do petróleo.

"A veiculação de ruídos, como tal, distancia a companhia do sucesso em sua trajetória e torna mais longínqua e improvável a diminuição do desconto pelo qual transaciona [suas ações] perante seus pares globais", escreveram analistas da Ativa Research, em relatório divulgado na sexta.

A Petrobras nega que a medida seja um sinal de interferência e diz que foi tomada em junho, período em que os preços do petróleo já se recuperavam do tombo recorde do início da pandemia.

"A simples modificação do período da aferição da aderência entre o preço realizado e o preço internacional, promovida há oito meses, não se constitui em rompimento com nosso inarredável compromisso com o alinhamento de nossos preços no Brasil aos preços internacionais e a consequente geração de valor para os acionistas", afirmou a empresa neste domingo (7).

Segundo concorrentes, a Petrobras vem segurando os preços internos nos últimos meses, o que indicaria intervenção do governo na política da estatal.

Para a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), mesmo após os reajustes desta terça, a defasagem nos preços da gasolina e do diesel permanecerá. No primeiro caso, cairá para R$ 0,17 por litro. No segundo, para R$ 0,12.

Bolsonaro tenta dividir com os estados a responsabilidade por conter os preços e sugeriu, na sexta, mudar o modelo de cobrança do ICMS, pauta antiga das distribuidoras de combustíveis que enfrenta forte resistência dos governos estaduais e não traria impactos imediatos sobre os preços.

Em outra frente, o Ministério da Economia estudará como reduzir a alíquota de PS/Cofins sobre o óleo diesel.

Bolsonaro diz não ter influência sobre Petrobras e que não quer ser ditador

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| Foto: Evaristo Sá/AFP

Na tentativa de conter as críticas de seus seguidores na internet por causa da alta no preço dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse a apoiadores nesta manhã que voltará a reunir a equipe econômica nesta segunda-feira (8) para tentar bater o martelo sobre uma medida para baixar o valor de PIS/Cofins.

Na porta do Palácio da Alvorada, ele disse aos eleitores que não tem ingerência sobre a Petrobras e que não pretende se tornar um ditador para extrapolar os limites que a legislação impõe ao presidente da República. As declarações foram registradas em vídeo divulgado na rede social do chefe do Executivo.

​"Não é novidade para ninguém: está previsto um novo reajuste de combustível para os próximos dias, está previsto. Vai ser uma chiadeira com razão? Vai. Eu tenho influência sobre a Petrobras? Não", disse Bolsonaro.

"Daí o cara fala 'você é presidente do quê?' Ô, cara. Vocês votaram em mim e tem um monte de lei aí. Ou cumpre a lei ou vou ser ditador. E para ser ditador vira uma bagunça o negócio e ninguém quer ser ditador e... isso não passa pela cabeça da gente", afirmou o presidente.

Em nova pressão sobre a Petrobras, disse que a empresa diz que, se não houver aumento, pode haver desabastecimento.

"Importamos parte do óleo diesel. Daí a Petrobras alega: se não aumentar o diesel, não vamos importar mais, que vamos importar álcool para vender mais barato. Então, poderia haver desabastecimento."

Bolsonaro já havia reunido a equipe econômica na sexta-feira (5), mas terminou o encontro sem uma medida concreta para reduzir o preço dos combustíveis. Ele disse que pretendia apresentar um projeto de lei que fixasse a aliquota do ICMS em cada Unidade da Federação ou que garantisse que o imposto estadual fosse cobrado na refinaria. Houve contestação nos estados.

"Não quero interferir no ICMS, não é verdade isso", disse o presidente, que, imediatamente depois, reiterou sua proposta sobre o imposto estadual.

A cota de sacrifício da União se daria pela redução do PIS/Cofins, mas o governo não chegou a apresentar uma solução para compensar a medida.

"O preço da refinaria é menos da metade do preço da bomba. Isso é fato. O preço na bomba é mais do dobro da refinaria. O quê que encarece? São os impostos e mais outras coisas também. O imposto federal é alto, o estadual é alto, a margem de lucro das distribuidoras é grande e a margem de lucro dos postos também é grande. Então, está todo mundo errado, no meu entendimento, pode ser que eu esteja equivocado", disse Bolsonaro.

​Em um recado aos governadores, o presidente voltou a cobrá-los pela redução do ICMS.

"Os governadores falam que não podem perder receita, que estão no limite. Entendo isso aí. O governo federal também está no limite. É verdade. Agora, quem está com a corda mais no pescoço do que nós, presidente da República e governadores, é a população consumidora."

"Não estou procurando encrenca nem acusando os governadores de cobrar demais. Não. Nós, governo federal, também cobramos demais. Agora, devemos buscar uma solução e, no meu entender, de forma pacífica", declarou.

Bolsonaro demonstrou incômodo com a pressão que tem recebido e afirmou que "de acordo com a pressão, todo mundo perde".

"O que não pode acontecer? Achar que a responsabilidade é de uma pessoa apenas. Agora, quando é que nós todos, eu, governadores, distribuidoras, donos de postos, vamos tomar uma providência para isso? Será num momento pacífico ou num momento conturbado? Para mim, seria a partir de agora. Espero sair um bom entendimento da reunião com a equipe econômica hoje", disse o mandatário.

Bolsonaro afirmou ter conversado sobre o assunto, por telefone, com o novo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com quem deve se encontrar até esta terça-feira (9), segundo informou aos apoiadores.

Sem citar nomes, o presidente também se dirigiu a quem pede seu impeachment e disse estar aberto a sugestões.

"Agora, vêm uns outros: impeachment. Vai resolver o quê? Quer tirar a mim, quer colocar quem no lugar? Querem botar quem no lugar? Este quem podia apresentar, nos ajudar com soluções agora. Eu tenho humildade para acolher qualquer sugestão, qualquer uma, seja qual for. A gente estuda."

Bolsonaro também aproveitou a conversa com seus eleitores para criticar o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se tornou um de seus principais desafetos.

"Graças a Deus mudou o comando da Câmara", disse o presidente. "Este cara que saiu da Câmara agora, parece que ele vai agora encarnar a verdadeira oposição ao meu governo. Ele não tem que ser oposição ao meu governo. Ele tem que ser favorável ao Brasil."