Perfil das vendas externas mudou
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sexta-feira, 20 de outubro de 2000
Agência Estado De Brasília
A mudança no perfil das exportações brasileiras, com maior participação das vendas de produtos manufaturados, está começando a ter reflexos nas contas externas do País. Os dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC) mostram que a receita líquida obtida com a prestação de serviços ligados à instalação e implantação de projetos, marcas e patentes, prestação de assistência técnica especializada e serviços administrativos no exterior foi positiva em US$ 443 milhões no último mês de setembro. Em agosto, essa conta havia ficado negativa em US$ 111 milhões.
De acordo com o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o resultado positivo não deve se repetir nos próximos meses, mas mostra o início de mudanças no perfil das vendas externas do País. Esse resultado mostra relação com a exportação crescente de manufaturados, que exige serviços pós-venda, como assistência técnica e manutenção, disse Lopes. À medida em que esses serviços são prestados entram dólares no País como pagamento, gerando uma receita que não exisitia.
A conta de serviços do balanço de pagamentos, onde são contabilizadas além das receitas com a prestação de serviços no exterior, os pagamentos de juros, gastos com viagens internacionais, o envio de lucros e dividendos, entre outros, tem sido a principal razão para que o País controle seu déficit em transações correntes. De janeiro a setembro do ano passado, a conta de serviços foi negativa em US$ 18,056 bilhões, enquanto no mesmo período desse ano está apresentando um déficit de US$ 17,960 bilhões.
Essa melhora aparentemente pequena está sendo comemorada pelo governo. De acordo com Altamir Lopes, nas projeções feitas pelo governo no início do ano a conta de serviços registraria em 2000 um déficit superior ao de 1999, que foi de US$ 24,9 bilhões. Ele não quis dizer o valor da projeção inicial, mas afirmou que a estabilidade no déficit da conta de serviços está sendo suficiente para compensar a frustração na balança comercial, que já supera US$ 3 bilhões. O resultado na conta de serviços está contribuindo para podermos manter a projeção do déficit em transações correntes em cerca de US$ 26 bilhões.
Apesar de manter as projeções do déficit em dólares, a comparação do resultado como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) ficará acima do estimado no início do ano pelo governo. A projeção era de um déficit equivalente a 3,5% do PIB, mas como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reduziu o valor do PIB, essa relação deve subir para 4%, de acordo com o chefe do Depec.
O déficit em transações correntes registrado em setembro foi de US$ 1,585 bilhão, um pouco inferior a agosto, quando havia sido de US$ 1,636 bilhão. O resultado acumulado nos nove primeiros meses de 2000 foi negativo em US$ 15,933 bilhões. Na comparação com o mesmo período de anos anteriores, o déficit de 2000 é o mais baixo desde 1996.