São Paulo - Com a greve dos caminhoneiros, os supermercados brasileiros já perderam vendas equivalentes R$ 1,320 bilhão por conta do desabastecimento de produtos perecíveis, frutas, verduras, legumes, laticínios e carnes in natura. Só os supermercados do Estado de São Paulo deixaram de vender cerca de R$ 400 milhões de produtos perecíveis desde o início da greve. O cálculo é do superintendente da Apas (Associação Paulista de Supermercados) , Carlos Correa.

"É um estimativa conservadora", frisa o executivo. Apesar de a greve durar quase uma semana, ele considerou nos cálculos a perda de vendas de cinco dias porque, nos primeiros dias da greve, havia produtos perecíveis nas lojas e as vendas não foram prejudicadas. Correa diz que os produtos perecíveis respondem 36% das vendas dos supermercados e que a greve já afeta hoje 80% do abastecimento desses itens.

As estimativas de prejuízo correspondem à realidade encontrada pelos consumidores nas lojas.

Além da batata, a cebola, o tomate e as verduras estão entre os produtos que o consumidor mais sentia falta na manhã de ontem. Em uma outra loja da Rua Domingos de Morais, no mesmo bairro, as hortaliças já tinham acabado desde sexta-feira. No freezer em que elas costumam ficar guardadas, o lojista colocou garrafas de suco de laranja, para preencher parte do espaço vago.

O matemático Luiz Xavier, de 55 anos, faz as contas: "Se eu levar mais um pacote de arroz, fico tranquilo para os próximos dias". Ele, que vai todos os sábados ao supermercado, diz que o movimento aumentou ontem e que as pessoas parecem estar exagerando nas compras. "Sempre que tem uma ameaça de falta de produtos, as pessoas reagem estocando alimento em casa, o que só faz acelerar a escassez. Eu vou continuar comprando o que costumava levar, lembro bem do desabastecimento do Plano Cruzado (em 1986)."

O baixo movimento desanimou os feirantes do "varejão" da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). O sábado, que costuma ser o dia mais movimentado, foi mais curto e muitos feirantes não foram embora antes do fim da feira. Eles estimam que metade das barracas nem abriram e o movimento caiu entre 60% e 70%.

NO PARANÁ


A Apras (Associação Paranaense de Supermercados) emitiu nota na sexta-feira (25), considerando legítimo o direito de manifestação dos caminhoneiros contra os constantes aumentos nos preços dos combustíveis e se solidarizando com a classe. A entidade, pela nota, orientava o consumidor "a não se desesperar e não estocar produtos, pois o Paraná possui cerca de 4.500 lojas e dificilmente haverá falta grave de produtos. Os efeitos estão sendo sentidos em alguns perecíveis, principalmente hortifrútis. Apesar do comprometimento de alguns itens, a Apras afirma que a situação ainda não é alarmante e que itens essenciais ainda possuem estoque para abastecimento".

O presidente da Ales (Associação Londrinense de Empresários Supermercadistas), Natalim Molinari, disse não ter recebido reclamações de grave desabastecimento entre as lojas associadas instaladas em Londrina e na região. Porém, afirma que não está sendo possível buscar mercadorias na central de distribuição da entidade devido ao bloqueio dos caminhões e também pela falta de combustível. Em sua loja, sediada em Arapongas, ele cita dificuldades na oferta de alguns tipos de hortaliças e frutas e admite ter limitado a quantidade de algumas mercadorias de primeira necessidade, como leite e açúcar, por cupom de compra. "Buscamos orientação junto ao Procon, visando atender ao cliente da melhor forma possível." Molinari considera necessária a ação dos caminhoneiros e espera que a situação se resolva brevemente. "Temos de apoiá-los para ver se muda um pouco a realidade do País", concluiu. (Colaborou Célia Guerra – Reportagem Local)