Perda de qualidade de vida se concentra em famílias chefiadas por negros
Pesquisa do IBGE mostra que dois terços do índice de perda de qualidade de vida se concentraram nessa parcela da população
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 23 de junho de 2023
Pesquisa do IBGE mostra que dois terços do índice de perda de qualidade de vida se concentraram nessa parcela da população
Leonardo Vieceli - Folhapress:
Rio de Janeiro - A perda de qualidade de vida diminuiu de maneira geral no Brasil antes da pandemia de Covid-19, mas ainda afetou mais as famílias chefiadas por negros na comparação com brancos. É o que apontam dados do IPQV (Índice de Perda de Qualidade de Vida) divulgados nesta sexta-feira (23) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O IPQV varia de 0 a 1. Quanto menor o valor, menor é a perda de qualidade de vida. Os cálculos são feitos a partir das duas edições mais recentes da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), referentes a 2008-2009 e 2017-2018.
Na comparação de quase uma década, o IPQV caiu no país de 0,227 em 2008-2009 para 0,157 em 2017-2018. A baixa foi de 30,8%, sugerindo uma melhora na qualidade de vida.
Entre as famílias cujas pessoas de referência eram pretas ou pardas, o índice recuou de 0,271 em 2008-2009 para 0,183 em 2008-2009. A baixa foi de 32,3%.
Mesmo com a redução, dois terços do índice de perda de qualidade de vida ainda se concentraram nessa parcela da população, diz o IBGE.
É que, segundo o instituto, as famílias chefiadas por pessoas pretas ou pardas contribuíram com 66,6% do IPQV de 2017-2018. O percentual era de 62,5% na edição anterior.
Entre as famílias cujas pessoas de referência eram brancas, o IPQV recuou de 0,178 em 2008-2009 para 0,122 em 2017-2018, uma baixa de 31,4%. Esse grupo concentrou 32,2% das perdas no período.
Segundo o IBGE, a "desigualdade na contribuição para a composição do valor do IPQV para o Brasil ainda permaneceu bastante desproporcional".
Em 2017-2018, o IPQV das famílias chefiadas por pretos ou pardos (0,183) ainda foi em torno de 50% maior do que o dos brancos (0,122).
FAMÍLIAS CHEFIADAS POR MULHERES
Outras desigualdades aparecem nos dados, aponta o IBGE. O IPQV das famílias cujas pessoas de referência eram mulheres diminuiu de 0,232 para 0,168. O recuo foi de 27,6%. Mesmo assim, continuou acima do índice das famílias chefiadas por homens. Nessa parcela, o IPQV caiu de 0,226 para 0,150. A baixa foi maior, de 33,5%.
Conforme o IBGE, os domicílios cujas pessoas de referência eram homens concentraram 57% das perdas do indicador em 2017-2018. O percentual era superior, de 71,8%, em 2008-2009. As famílias chefiadas por mulheres, por sua vez, concentraram 43% das perdas na edição mais recente. No levantamento anterior, o percentual era menor, de 28,2%.
De acordo com o instituto, é "notável" que no tempo decorrido entre as duas pesquisas houve um aumento de famílias em que mulheres foram declaradas como pessoas de referência.
Decorre daí o avanço observado na contribuição delas para o valor do IPQV calculado para o Brasil, diz o IBGE.
Apesar desse aumento, o instituto afirma que as famílias cujas pessoas de referência eram homens ainda representavam o maior quantitativo, sendo responsáveis por contribuir com mais de 50% do índice.
O IPQV mensura as perdas vividas pela população nas seguintes dimensões: moradia; acesso aos serviços de utilidade pública; saúde e alimentação; educação; acesso aos serviços financeiros e padrão de vida; e transporte e lazer.
A POF, que serve como base para o cálculo do índice, também é produzida pelo IBGE. A pesquisa avalia o padrão dos gastos das famílias com bens e serviços no Brasil.
O instituto destaca que indicadores de renda e pobreza monetária podem indicar melhoras que não são vistas na mesma intensidade que nos indicadores de qualidade de vida.