Pecuaristas paranaenses esperam maior agilidade na liberação da venda de carne bovina à China. A partir desta quinta-feira (23), o Ministério da Agricultura anunciou a suspensão temporária das exportações do produto ao país asiático após a confirmação, na quarta-feira (22), de um caso do “mal da vaca louca” no Pará. O auto embargo ocorre em cumprimento a um protocolo assinado em 2015 pelo Brasil e a China, mas na última vez em que a medida foi tomada, em 2021, demorou mais de cem dias para que as exportações se restabelecessem.

"Em um primeiro momento, (o anúncio do auto embargo) nos preocupou, mas há 99,99% de chance de ser um caso atípico. O caso clássico da doença é o que nos preocupa", disse o presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Marcelo El Kadre. "O mercado para, o preço cai internamente porque aumenta o produto em estoque. Mas temos a preocupação de voltar logo com as exportações e acredito na responsabilidade do mercado chinês com a carne brasileira."

O protocolo assinado entre Brasil e China estabelece a suspensão das vendas de carne bovina em caso de identificação de uma nova ocorrência da doença nos rebanhos brasileiros. “Seguindo o protocolo sanitário oficial, as exportações para a China serão temporariamente suspensas a partir desta quinta-feira (23). No entanto, o diálogo com as autoridades está sendo identificado para demonstrar todas as informações e o pronto restabelecimento do comércio da carne brasileira”, disse, em nota, o Ministério da Agricultura.

Segundo a Adepará (Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará), amostras foram enviadas a um laboratório no Canadá. O resultado da análise deve sair nos próximos dias, mas tudo indica que se trata da forma atípica, que surge espontaneamente na natureza, em animais mais velhos. Nesse caso, não há risco de disseminação ao rebanho nem ao ser humano.

O animal infectado tinha nove anos, era criado em pasto, sem ração, e vivia em uma propriedade com 160 cabeças de gado em Marabá, no Sudoeste do Pará. O animal foi abatido, sua carcaça, incinerada, e a propriedade foi isolada pela Adepará. “A propriedade foi inspecionada e interditada preventivamente”, informou a agência paraense.

El Kadre avaliou que a agilidade do governo paraense e do Ministério da Agricultura em investigarem a situação, na coleta e envio de amostras para análise e em comunicar o governo chinês deve contribuir para que as comercializações com o país asiático retornem o quanto antes. "O que eu acredito que foi muito bem feito foi a rapidez de enviar para o Canadá (as amostras) e tornar pública a situação. Isso dá credibilidade e a gente tem mais possibilidade de cobrar do mercado externo uma maior rapidez na volta do comércio. Temos pressa para que a OIE (Organização Mundial para Saúde Animal) seja informada", disse o presidente da SRP.

CEM DIAS

O serviço veterinário oficial brasileiro está realizando a investigação epidemiológica que poderá ser continuada ou encerrada, de acordo com o resultado, afirmou o Ministério da Agricultura. Os casos atípicos da doença costumam ser pontuais, mas podem igualmente causar restrições comerciais e o receio dos pecuaristas não é infundado. Eles se recordam bem do um embargo anterior. Em 2021, após casos atípicos do mal da vaca louca terem sido registrados em Belo Horizonte (MG) e em Nova Canaã do Norte (MT), o Brasil decidiu suspender as vendas de carne bovina à China.

Quando as exportações são suspensas por esse motivo, o Ministério da Agricultura envia dados às autoridades chinesas para que a situação de risco seja analisada e as vendas de carne, liberadas. O processo, no entanto, pode se arrastar por meses. Em 2021, o Brasil ficou impedido de enviar carne bovina à China por mais de cem dias, entre setembro e dezembro, e a demora do país asiático em liberar o embarque do produto foi visto pelo setor na época como uma estratégia para derrubar os preços. A China é hoje o maior mercado consumidor de carne brasileira.

Na quarta-feira, muitos frigoríficos cancelaram os abates em diversas regiões do país, segundo a agência Reuters, e na Bolsa, os efeitos foram imediatos, mesmo antes do anúncio da suspensão das vendas de carne bovina à China. Ações das empresas do setor fecharam o pregão em queda. As ações da Minerva recuaram 7,92% e o mesmo aconteceu com JBS (-4,33%) e Marfrig (-4,71%).

A DOENÇA

A EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina), popularmente conhecida como mal da vaca louca, causa danos ao sistema nervoso dos bovinos, alterando seu comportamento e tornando-os agressivos. A contaminação se dá pelo consumo de rações produzidas a partir de proteína animal contaminada.

A doença ganhou notoriedade mundial nos anos de 1990, após um surto ocorrido no Reino Unido que levou à suspensão do consumo de carne bovina no país.

No Brasil, alimentar ruminantes com cama-de-frango ou com resíduos de outros animais é considerado crime federal.(Com Folhapress)