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Economia 5m de leitura

Parceria com a Índia pretende inserir Brasil na produção tecnológica

No Encontros Folha, especialista defende cooperação com centro de tecnologia indiano no projeto de uma rede de supercomputadores

ATUALIZAÇÃO
03 de maio de 2023

Simoni Saris - Grupo Folha
AUTOR

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O crescimento vertiginoso da economia indiana nas últimas décadas fez o planeta voltar os olhos para o país do sul da Ásia. Em 30 anos, a nação mais populosa do mundo, com mais de 1,4 bilhão de habitantes, saiu de uma condição de crescimento irrisório do PIB (Produto Interno Bruto) para se tornar a quinta maior economia do mundo ao desbancar o Reino Unido dessa posição. Em termos de PIB, atualmente a Índia está atrás apenas dos Estados Unidos, China, Japão e Alemanha, mas se mantiver o ritmo de expansão, a projeção é que ultrapasse o país europeu em 2027 e passe à frente do Japão até 2029, chegando à terceira colocação.

A chegada das multinacionais, o enorme mercado consumidor, a ampla oferta de mão de obra qualificada e seus programas tecnológicos ajudam a explicar os resultados que tornaram a Índia uma potência econômica. Mas nada disso teria sido possível sem uma política de Estado, com projetos e programas voltados à área de tecnologia avançada. Experiência que poderia, tranquilamente, ser replicada no Brasil, segundo o especialista em estruturas de inovação, qualidade de software, gerenciamento de processos e de TI (Tecnologia da Informação), Jorge Edison Ribeiro.

Pesquisador sênior da Fundação Araucária e responsável pela área de cooperação pela Índia, Ribeiro foi o palestrante convidado para participar da 18ª edição do Encontros Folha, realizada nesta quarta-feira (3), no Centro de Convenções do Aurora Shopping, e que teve como tema as Relações Brasil e Índia: o Desenvolvimento das Tecnologias de Alta Performance.

“Eu acredito que hoje ninguém para a Índia. E o que o Brasil precisa é olhar para experiências de sucesso que possam ser adaptadas de alguma maneira aqui. Eu vejo que a experiência da Índia é um exemplo fabuloso porque eles saíram de uma posição que era bem pior do que a que nos encontramos hoje e através de programas de Estado, bem estruturados, conseguiram desenvolver o setor de pesquisa, de produção e, com isso, a economia deu um salto gigantesco. Acho que nós podemos fazer isso”, afirmou Ribeiro.

TROCA DE INFORMAÇÕES

Não há uma receita para que a economia brasileira replique o desempenho indiano, mas é possível fazer adaptações à nossa realidade a partir de ações que funcionaram no país asiático. Com esse intuito, as relações de cooperação entre Brasil e Índia surgem como um meio de troca de informações e transferência de tecnologia, a partir do conhecimento e experiência adquiridos pelos indianos com o C-Dac (Centre for Development os Advanced Computing).

O centro de tecnologia estabelecido para produzir supercomputadores, máquinas de alta performance e alta capacidade foi o responsável por aproximar a Índia dos grandes líderes do mercado tecnológico. Diante dessa realidade, a cooperação com os indianos, destacou Ribeiro, é bastante favorável ao Brasil neste momento. “A Índia está procurando parceiros no exterior e encontra ressonância aqui no Brasil, na área acadêmica e empresarial. Grandes empresas indianas estão reservando lugar especial ao Brasil”, pontuou. “Uma coisa que notamos no relacionamento com a Índia é que eles realmente se consideram parceiros. Os indianos se dispõem a trocar informações, a transferir tecnologia e fazem isso com esmero e honestidade. Muito diferente de uma parceria com uma empresa norte-americana”, comparou.

A expectativa é que uma parceria com o C-Dac possa viabilizar o projeto para desenvolvimento de uma rede de supercomputadores ou HPC (Computação de Alto Desempenho) nas universidades públicas paranaenses. A intenção não é comprar tecnologia da Índia, mas obter conhecimento para que o Brasil possa desenvolver sua própria tecnologia para que, a exemplo do que ocorreu na Índia, o país possa trabalhar a tecnologia com a mesma eficiência e economia.

Há a expectativa ainda da instalação em Londrina de uma unidade central de treinamento que atenderá todo o Estado, projeto que deverá contar com a ajuda da TCS (Tata Consultance Services), empresa indiana que há cinco anos inaugurou um grande delivery center no município e hoje mantém 1,7 mil postos de trabalho.

DESENVOLVIMENTO

O superintendente do Grupo Folha, José Nicolás Mejía, destacou a importância do Encontros Folha para o desenvolvimento da Região Norte do Paraná. Ele ressaltou que o evento vai além de promover um painel de discussão e apontou os resultados já alcançados em oito anos de projeto. “Quando começamos, em 2014, víamos com preocupação a estagnação de Londrina e região. A parte logística estava abandonada e a gente tinha um sem número de desafios que foram colocados em pauta, incluindo lideranças e levando para a população para cobrar por meio das lideranças públicas.”

Sobre o tema da 18 ª edição do evento, Mejía salientou a importância das relações bilaterais entre Brasil e Índia. “Todos conhecemos a importância da Índia como uma grande liderança em tecnologia e inovação. Trazemos isso para o Brasil de forma que a gente possa ter um intercâmbio econômico entre os dois países, um intercâmbio de descobrimento e desenvolvimento. Para isso, a gente vai conseguir produzir novas tecnologias, novos produtos e novos serviços que permitirão o crescimento econômico de Londrina.”

O evento é realizado pelo Grupo Folha de Londrina e Codel, com correalização do Sebrae, patrocínio da Cooperativa Integrada e TCS, e apoio de Frezarin e Unimed.

Visita de ministra da Ciência e Tecnologia alimenta expectativa para implantação de CTI

Uma das painelistas convidadas para participar da 18 ª edição do Encontros Folha, a deputada federal Luísa Canziani (PSD-PR), anunciou no evento a visita a Londrina da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. A titular da pasta estará na cidade no próximo dia 18  e a programação oficial prevê, por enquanto, a presença da ministra na Escola Municipal Maestro Roberto Pereira Panico, no jardim São Vicente Palotti (zona leste), às 10 horas, onde irá acompanhar o andamento do projeto Letramento Digital, inaugurado no mês passado pelo município para oferecer aulas de tecnologia a dois mil alunos da rede.

Santos também participa de um almoço, às 13 horas, antes de deixar a cidade. Existe a expectativa, ainda não confirmada, de que entre os dois compromissos seja anunciada a implantação do escritório local do CTI (Centro de Tecnologia da Informação) Renato Archer.

A unidade de pesquisas foi criada em Campinas (SP), em 1982, e atua em parceria com agentes do setor privado, da academia e do governo para criar inovações tecnológicas em processos e produtos, visando o fortalecimento da indústria nacional. Na época em que foi ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Gilberto Kassab (2016-2018) autorizou a instalação de um núcleo do CTI em Londrina, o que nunca aconteceu. Canziani tem tentado viabilizar a implantação desse centro no município para servir como local de desenvolvimento de projetos do setor.(S.S.)

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