O crescimento vertiginoso da economia indiana nas últimas décadas fez o planeta voltar os olhos para o país do sul da Ásia. Em 30 anos, a nação mais populosa do mundo, com mais de 1,4 bilhão de habitantes, saiu de uma condição de crescimento irrisório do PIB (Produto Interno Bruto) para se tornar a quinta maior economia do mundo ao desbancar o Reino Unido dessa posição. Em termos de PIB, atualmente a Índia está atrás apenas dos Estados Unidos, China, Japão e Alemanha, mas se mantiver o ritmo de expansão, a projeção é que ultrapasse o país europeu em 2027 e passe à frente do Japão até 2029, chegando à terceira colocação.

A chegada das multinacionais, o enorme mercado consumidor, a ampla oferta de mão de obra qualificada e seus programas tecnológicos ajudam a explicar os resultados que tornaram a Índia uma potência econômica. Mas nada disso teria sido possível sem uma política de Estado, com projetos e programas voltados à área de tecnologia avançada. Experiência que poderia, tranquilamente, ser replicada no Brasil, segundo o especialista em estruturas de inovação, qualidade de software, gerenciamento de processos e de TI (Tecnologia da Informação), Jorge Edison Ribeiro.

Pesquisador sênior da Fundação Araucária e responsável pela área de cooperação pela Índia, Ribeiro foi o palestrante convidado para participar da 18ª edição do Encontros Folha, realizada nesta quarta-feira (3), no Centro de Convenções do Aurora Shopping, e que teve como tema as Relações Brasil e Índia: o Desenvolvimento das Tecnologias de Alta Performance.

“Eu acredito que hoje ninguém para a Índia. E o que o Brasil precisa é olhar para experiências de sucesso que possam ser adaptadas de alguma maneira aqui. Eu vejo que a experiência da Índia é um exemplo fabuloso porque eles saíram de uma posição que era bem pior do que a que nos encontramos hoje e através de programas de Estado, bem estruturados, conseguiram desenvolver o setor de pesquisa, de produção e, com isso, a economia deu um salto gigantesco. Acho que nós podemos fazer isso”, afirmou Ribeiro.

TROCA DE INFORMAÇÕES

Não há uma receita para que a economia brasileira replique o desempenho indiano, mas é possível fazer adaptações à nossa realidade a partir de ações que funcionaram no país asiático. Com esse intuito, as relações de cooperação entre Brasil e Índia surgem como um meio de troca de informações e transferência de tecnologia, a partir do conhecimento e experiência adquiridos pelos indianos com o C-Dac (Centre for Development os Advanced Computing).

O centro de tecnologia estabelecido para produzir supercomputadores, máquinas de alta performance e alta capacidade foi o responsável por aproximar a Índia dos grandes líderes do mercado tecnológico. Diante dessa realidade, a cooperação com os indianos, destacou Ribeiro, é bastante favorável ao Brasil neste momento. “A Índia está procurando parceiros no exterior e encontra ressonância aqui no Brasil, na área acadêmica e empresarial. Grandes empresas indianas estão reservando lugar especial ao Brasil”, pontuou. “Uma coisa que notamos no relacionamento com a Índia é que eles realmente se consideram parceiros. Os indianos se dispõem a trocar informações, a transferir tecnologia e fazem isso com esmero e honestidade. Muito diferente de uma parceria com uma empresa norte-americana”, comparou.

A expectativa é que uma parceria com o C-Dac possa viabilizar o projeto para desenvolvimento de uma rede de supercomputadores ou HPC (Computação de Alto Desempenho) nas universidades públicas paranaenses. A intenção não é comprar tecnologia da Índia, mas obter conhecimento para que o Brasil possa desenvolver sua própria tecnologia para que, a exemplo do que ocorreu na Índia, o país possa trabalhar a tecnologia com a mesma eficiência e economia.

Há a expectativa ainda da instalação em Londrina de uma unidade central de treinamento que atenderá todo o Estado, projeto que deverá contar com a ajuda da TCS (Tata Consultance Services), empresa indiana que há cinco anos inaugurou um grande delivery center no município e hoje mantém 1,7 mil postos de trabalho.

DESENVOLVIMENTO

O superintendente do Grupo Folha, José Nicolás Mejía, destacou a importância do Encontros Folha para o desenvolvimento da Região Norte do Paraná. Ele ressaltou que o evento vai além de promover um painel de discussão e apontou os resultados já alcançados em oito anos de projeto. “Quando começamos, em 2014, víamos com preocupação a estagnação de Londrina e região. A parte logística estava abandonada e a gente tinha um sem número de desafios que foram colocados em pauta, incluindo lideranças e levando para a população para cobrar por meio das lideranças públicas.”

Sobre o tema da 18 ª edição do evento, Mejía salientou a importância das relações bilaterais entre Brasil e Índia. “Todos conhecemos a importância da Índia como uma grande liderança em tecnologia e inovação. Trazemos isso para o Brasil de forma que a gente possa ter um intercâmbio econômico entre os dois países, um intercâmbio de descobrimento e desenvolvimento. Para isso, a gente vai conseguir produzir novas tecnologias, novos produtos e novos serviços que permitirão o crescimento econômico de Londrina.”

O evento é realizado pelo Grupo Folha de Londrina e Codel, com correalização do Sebrae, patrocínio da Cooperativa Integrada e TCS, e apoio de Frezarin e Unimed.

Visita de ministra da Ciência e Tecnologia alimenta expectativa para implantação de CTI

Uma das painelistas convidadas para participar da 18 ª edição do Encontros Folha, a deputada federal Luísa Canziani (PSD-PR), anunciou no evento a visita a Londrina da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. A titular da pasta estará na cidade no próximo dia 18 e a programação oficial prevê, por enquanto, a presença da ministra na Escola Municipal Maestro Roberto Pereira Panico, no jardim São Vicente Palotti (zona leste), às 10 horas, onde irá acompanhar o andamento do projeto Letramento Digital, inaugurado no mês passado pelo município para oferecer aulas de tecnologia a dois mil alunos da rede.

Santos também participa de um almoço, às 13 horas, antes de deixar a cidade. Existe a expectativa, ainda não confirmada, de que entre os dois compromissos seja anunciada a implantação do escritório local do CTI (Centro de Tecnologia da Informação) Renato Archer.

A unidade de pesquisas foi criada em Campinas (SP), em 1982, e atua em parceria com agentes do setor privado, da academia e do governo para criar inovações tecnológicas em processos e produtos, visando o fortalecimento da indústria nacional. Na época em que foi ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Gilberto Kassab (2016-2018) autorizou a instalação de um núcleo do CTI em Londrina, o que nunca aconteceu. Canziani tem tentado viabilizar a implantação desse centro no município para servir como local de desenvolvimento de projetos do setor.(S.S.)