Empreender na crise foi a escolha de milhares de pessoas mesmo diante do cenário de pandemia. No ano conturbado houve aumento de 17% na quantidade de empresas abertas no Paraná entre os meses de janeiro e novembro. Em 2020 foram registrados 215.281 novos negócios contra 184.202 no mesmo período de 2019. Os dados são da Jucepar (Junta Comercial do Paraná).

Imagem ilustrativa da imagem Paraná registra aumento na abertura de empresas em 2020
| Foto: Gustavo Carneiro

O balanço parcial aponta que, entre os novos cadastros, 165.073 estão na modalidade de Microempreendedor Individual (MEI). Em Londrina, Larissa Basílio Frigo e Henrique Frigo decidiram formalizar o próprio negócio após mais de um ano de vendas realizadas no ambiente virtual. Em novembro, o casal abriu a loja física de difusores aromáticos na região norte da cidade.

“A gente já tinha uma loja online e fazia tudo dentro de casa, mas chegou um momento em que a gente não estava mais dando conta de ter os produtos espalhados pela casa. As vendas aumentaram muito. Alguns clientes também comentavam sobre a dificuldade em decidir os aromas, por exemplo. Aí juntamos essas necessidades”, contou Larissa.

A abertura da loja física movimentou ainda mais as vendas por meio das redes sociais. O caminho foi de aprendizado e capacitação. Os dois buscaram cursos e informações para aprimorar o atendimento e ampliar a oferta de produtos. A experiência anterior em um escritório de contabilidade ajudou Henrique a compreender a melhor forma de organização financeira da empresa.

“Ficamos preocupados no início da pandemia, mas, como as pessoas passaram a ficar mais em casa, isso se reverteu em bons resultados. A gente manda vídeos e fotos dos produtos, faz a venda personalizada e até leva amostras de essências para alguns clientes. Em dezembro aumentou muito a demanda por causa da procura por presentes de fim de ano”, comemorou.

Os difusores elétricos estão entre os mais pedidos, além da chamada água perfumada ou água de lençóis para aromatizar tecidos em camas e sofás. Essências e refis artesanais também fazem parte do leque de opções.

“Hoje no mercado não é só você chegar e vender. Acredito que quanto mais você conhece o produto, mais você consegue atender a necessidade do cliente. Se eu oferto o que o cliente precisa, a chance de fechar uma venda pode ultrapassar os 90%. Agora, quando eu vendo um produto que não atende a necessidade dele, corro o risco desse item não ser utilizado, do desempenho do difusor não atender a necessidade ou ainda do cliente passar uma visão negativa da loja ou do produto para outras pessoas”, ressaltou.

Larissa passa a maior parte do expediente gerenciando as vendas e Henrique se divide para conciliar o próprio negócio e as atividades em outra empresa. Dessa forma, a loja não corresponde a única renda da família.

No entanto, essa não é a realidade de muitos. Segundo o presidente da Jucepar, Marcos Sebastião de Mello, o desemprego foi um dos fatores que contribuíram para o crescimento de novas empresas, além da agilidade na tramitação dos pedidos de abertura. A digitalização dos processos, a partir do início de dezembro, também facilitou a análise das solicitações. A mudança deve impactar os números de 2021.

Em 2020, mais de 22 mil empresas foram abertas no mês de janeiro. Abril registrou o menor número com 12.591 cadastros logo após o início da pandemia. Pouco mais de 65 mil empresas fecharam as portas até o mês de novembro. No mesmo período de 2019, as baixas ultrapassaram 67 mil.

A redução da taxa de juros no mercado financeiro trouxe um pouco de otimismo entre os novos empreendedores. “As pessoas acreditam que se investirem seu dinheiro em algum negócio terão a chance de ganhar mais e acreditam também que o ano que vem será melhor para as empresas”, afirmou Mello em entrevista à Agência Estadual de Notícias.

Porém, além do empenho em abrir um negócio próprio, da disponibilidade de capital para investimento e da escolha pelo segmento é necessário buscar também orientações no dia a dia da empresa para não se perder na rotina da gestão. (Com Agência Estadual de Notícias)

Dia a dia desafia novos gestores

Abrir uma nova empresa e inseri-la no mercado é apenas a etapa inicial para empreender. O principal desafio dos administradores é manter o negócio em funcionamento nos primeiros anos. Segundo o gerente Regional Norte do Sebrae, Fabrício Pires Bianchi, buscar consultorias, orientações e capacitação é fundamental em qualquer etapa do processo de gestão.

“Abrir a empresa em si não é um desafio. Para abrir uma empresa, principalmente no setor de serviços, o investimento inicial é baixo, mas o dia a dia é que pode virar uma grande cilada, uma grande arapuca para o empreendedor”, alertou.

Segundo ele, a aceleração do desemprego ampliou o número de microempreendedores na busca por alternativas para manter a renda. Oportunidades geradas pela pandemia como a produção de máscaras de proteção, por exemplo, revelaram novos caminhos.

Entre funcionários demitidos que tiveram acesso a recursos como o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) muitos resolveram aplicar os valores em iniciativas próprias de negócios. Porém, o risco existe.

“Não adianta só você ser um especialista em determinada área. Por exemplo, a pessoa trabalha em uma oficina e é um excelente mecânico. Aí resolve empreender e abre uma oficina. Sem uma consultoria ou capacitação, em seis meses ela pode estar enrolada no banco, com impostos em atraso e sem recursos para a folha de pagamento. É preciso se preparar antes de investir”, frisou.

Para Bianchi, é essencial fazer uma espécie de modelagem mínima do plano de negócios considerando, entre outros aspectos, o investimento inicial, a previsão de retorno, a concorrência no mercado e as dificuldades na produção ou prestação do serviço.

“Algumas pessoas acham que isso gera muita dificuldade para empreender, mas nossa principal preocupação é que o investimento está sendo feito com o patrimônio dessa pessoa. É, muitas vezes, um patrimônio acumulado durante 15 ou 20 anos de trabalho que pode se perder. O empreendedor não precisa passar por isso se tiver um planejamento mínimo antecipado”, ressaltou.

“Há casos em que se diz que a empresa quebrou porque vendeu muito, por exemplo. Aí muita gente se pergunta ‘como assim?’. São casos em que o empresário vendeu muito e não conseguiu entregar ou não fez uma análise de preço correta e não conseguiu faturar o suficiente para fechar a conta ou pagou mais caro pela matéria-prima, por exemplo. Por isso, sempre é interessante rever o planejamento a qualquer tempo e se apropriar disso. Da mesma forma que algumas pessoas investiram para buscar uma alternativa, que elas possam também dedicar parte do tempo para se instruírem e se empenharem na manutenção do negócio”, finalizou. No site www.sebraepr.com.br é possível encontrar orientações e cursos de capacitação.

Sala do Empreendedor auxilia formalização

Os interessados em abrir empresa que se enquadram no regime de MEI (Microempreendedor Individual) podem esclarecer dúvidas com a ajuda de profissionais da Sala do Empreendedor, em funcionamento no prédio da Prefeitura de Londrina.

A gerente da Sala, Marilsa Miranda, detalhou alguns dos critérios para quem pensa em abrir um negócio próprio. “A pessoa não pode ser sócio e nem administrar outra empresa. Ela tem que ter um faturamento de até R$ 81 mil por ano e também deve se enquadrar em uma das 500 categorias regulamentadas como MEI”, explicou.

Entre as vantagens estão a obtenção de um CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) e a contribuição com o INSS para acessar benefícios da previdência como salário-maternidade, auxílio-reclusão ou por morte, pensão, aposentadoria por idade, auxílio-doença e aposentadoria por invalidez.

Em meio à pandemia, o espaço na prefeitura registrou maior procura pela formalização de empresas nas áreas de alimentação, estética, comércio e prestação de serviços.

A Sala do Empreendedor funciona no piso térreo da Prefeitura de Londrina, de segunda à sexta, das 12h às 18h. O telefone para informações é o (43) 3372-4108. O e-mail é [email protected]. Os atendimentos presenciais são feitos por meio de agendamento prévio no site da Prefeitura de Londrina (www.londrina.pr.gov.br/sala-empreendedor). Para quem prefere o atendimento on-line, a página oferece também a Sala Digital do Empreendedor com diversos serviços disponíveis.