Que o setor do turismo foi um dos mais afetados pelas medidas restritivas impostas durante o período mais agudo da pandemia da Covid-19 não é nenhuma novidade. No entanto, uma pesquisa recém-divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela o tamanho deste estrago. Em 2019, os brasileiros fizeram 20,9 milhões de viagens; em 2020, 13,6 milhões, e em 2021, 12,3 milhões. O número de viagens caiu 41% entre 2019 e 2021. Em 2020, 98% das viagens foram nacionais e, no ano passado, esse percentual foi de 99,3%. O índice de viagens internacionais caiu de 3,8% em 2019 para 0,7% em 2021.

Os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua Turismo 2020-2021 mostram queda parecida no Paraná. O estudo aponta retração de 39,6% de viajantes entre 2019 e 2021. O número de turistas de outros estados que procuraram os atrativos paranaenses passou de 1,13 milhão em 2019, último ano antes da pandemia, para 683 mil no ano passado.

Com 5,6% dos viajantes do país, o Paraná é o sexto estado mais visitado no período, segundo o IBGE. À frente aparecem São Paulo (20,6%), Minas Gerais (11,4%), Bahia (9,5%), Rio de Janeiro (6,6%) e Rio Grande do Sul (6,5%). Logo em seguida do Paraná, estão Santa Catarina (5,2%), Ceará (4,2%) e Pará (3,9%).

As regiões mais visitadas no Brasil, em 2021 foram a Região Sudeste (40,9%), seguida pela Nordeste (28,2%), Região Sul (17,3%), Centro-Oeste (7,0%) e Norte (6,6%).

A quantidade de paranaenses que viajaram no período também caiu drasticamente. Em 2019, o Estado registrou 1,31 milhão de viajantes para outros destinos dentro do país ou no exterior. No ano passado, essa quantidade se reduziu a 774 mil, queda de 40,9%. No cenário nacional, foram 20,9 milhões de viagens, contra 12,3 milhões.

A vendedora autônoma Fernanda Ribeiro conta que voltou a viajar recentemente após um hiato de quase dois anos. Ela cita dois principais fatores para permanecer mais em casa, em Londrina: o medo de contrair a Covid e, depois, a falta de dinheiro. “No começo não me sentia segura. Aí depois veio a vacina, mas fiquei desempregada e não tinha dinheiro. Agora que as coisas começaram a se acertar”, conta.

A falta de dinheiro aparece como o principal motivo que provocou a diminuição das viagens entre os paranaenses, com 25,7% do total. Os outros fatores são: não ter necessidade, com 16,5%; não ter tempo, 12,6%; não ser prioridade, 10,2%; e não ter interesse, 8,6%.

A analista da pesquisa, Flávia Vinhaes, também destaca que a crise sanitária, com as medidas de afastamento social, a impossibilidade de pegar voos, o medo de contrair a doença ou mesmo por ter sido infectado pelo novo coronavírus, foi importante fator para a diminuição das viagens nacionais e internacionais nos dois últimos anos.

No cenário nacional, cerca de 57,2% das viagens de 2021 foram em carro particular ou de empresas, 12,5% em ônibus de linha e 10,2% de avião. Do total de viagens em 2021, cerca de 14,6% foram profissionais e 85,4%, pessoais.

Como principal local de hospedagem, a casa de amigos ou parentes superou as demais modalidades, representando, em 2021, 42,9% entre as alternativas. Em segundo lugar, ficou a opção hotel, resort ou flat, com 14,7%, diz o IBGE.

Com passagens aéreas mais caras, ônibus ganham espaço

Entre os campeões de preços altos de junho, segundo a prévia da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), estão as passagens aéreas, que acumulam alta de mais de 120% em 12 meses. As empresas aéreas justificam os aumentos apontando a alta do querosene de aviação como vilão. O preço do combustível mais que dobrou nos últimos 12 meses.

Os valores nas alturas empurram muitos brasileiros para as viagens de ônibus. Na Rodoviária de Londrina, o movimento atual está em pouco mais de 80% do registrado antes da pandemia. De acordo com o superintendente do Terminal, Sandro Neves, durante o primeiro semestre, 996 mil viajantes passaram pela rodoviária, entre embarque, desembarque, trânsito e turismo. No mesmo período de 2019, esse número foi de 1.195.834 passageiros, queda de 16%.

Os números atuais, porém, são animadores se comparados ao primeiro semestre do ano passado, quando o movimento foi de 566 mil viajantes. Neves diz que a recuperação ocorre de forma gradativa. Em relação às férias de julho, ele tem expectativas mais conservadoras. “É claro que há um aumento nas viagens, mas ainda não deverá ser no mesmo ritmo de antes da pandemia. Acho que muito porque nem todos os cursos universitários voltaram 100% presenciais. É um momento difícil de fazer previsões”, comenta.

Para absorver os clientes que deixaram o avião de lado por conta dos altos preços, as empresas estão ampliando os investimentos. O gerente comercial da Viação Garcia e Brasil Sul, Luiz Fernando Matos, conta que a empresa sentiu aumento de fluxo de passageiros nos últimos meses. “Para absorver essa demanda a longo prazo, fizemos investimentos em veículos de alta tecnologia e também no conforto aos passageiros nos terminais rodoviários. São estruturas que se equiparam às dos terminais de transporte aéreo”, compara.

Recuperação do setor só deve ser completa no ano que vem

Presidente da Abeoc-PR (Associação Brasileira de Empresas de Eventos no Paraná), Fábio Skraba lembrou que os decretos estaduais e municipais que impuseram restrições a circulação de pessoas e funcionamento de atividades econômicas foram os responsáveis pelo maior impacto no setor de turismo durante a pandemia. Hotéis não puderam operar com 100% de sua capacidade e eventos presenciais de toda ordem foram cancelados ou adiados.

A grande maioria das empresas no em operação no mercado estadual é composta por micro e pequenas e, segundo a Abeoc-PR, 98% delas fecharam as portas durante a pandemia e demitiram funcionários. Controlados os índices de Covid-19, 86% dessas empresas não conseguiram retomar suas atividades por falta de mão de obra. “Isso se aplica ao setor de eventos, turismo, passagens aéreas e agências de viagens. Muitos profissionais migraram para outras áreas e a falta de mão de obra ainda é uma situação muito latente no mercado, o que prejudica a retomada do setor. Só agora, aos poucos, com a volta dos grandes eventos, os colaboradores estão retornando.”

Skraba estima que a equalização de mão de obra deva voltar com força total apenas no segundo semestre de 2023, mas a recuperação do faturamento nos índices pré-pandemia só deverá ocorrer em 2024. Desde 2020, o valor do custo dos projetos subiu 60%.

Para movimentar o mercado e tentar acelerar a recuperação, a Abeoc-PR, juntamente com as outras entidades que fazem parte do Grupo G5, criado durante a pandemia e do qual fazem parte entidades ligadas ao setor, tem conversado com o governo do Paraná para discutir ações de fomento às atividades de turismo. O trabalho acontece em sintonia também com os Convention & Visitors Bureau no Estado, as governanças regionais e prefeituras. A entidade aponta 15 regiões com grande potencial para atração de eventos de negócios, turismo, entretenimento, religião e esportes. “É importante frisar que quando o mercado está aquecido, como em 2019, o setor de eventos e turismo envolve mais de 570 setores da economia”, ressaltou Skraba.(Simoni Saris/Reportagem Local)

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