O Paraná foi o Estado que mais acionou o Seguro Rural PSR, subsidiado pelo Ministério da Agricultura, para a safra de verão de soja e milho em todo o país, até 20 de janeiro. Das 59.608 apólices contratadas no Estado, 30.916 entraram com aviso de sinistro, o que representa 51,9% das apólices sinistradas. O valor total chega a R$ 1,6 bilhão.

O levantamento feito pela Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura mostra a dimensão dos comunicados de perdas e avisos de sinistros pelos produtores afetados pela seca.

Na maior parte dos Estados produtores, a safra de verão é plantada entre setembro e janeiro e colhida no primeiro semestre, podendo ocorrer variações conforme a cultura e o Estado.

Ana Paula Kowalski, técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, explica que os produtores rurais paranaenses vêm enfrentando um severo e prolongado período de seca, com chuvas abaixo da média histórica desde 2018.

“Os reflexos negativos na agricultura vêm, desde então, sendo observados, pois é preciso haver água no solo para o plantio e depois regularidade de chuvas para o desenvolvimento das culturas”, pontua.

O Paraná registra, até o momento, uma quebra de 38% na safra de verão em relação à estimativa inicial do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento. “A perda já atingiu 9,6 milhões de toneladas de grãos, sendo as culturas mais afetadas a soja, o milho 1ª safra e o feijão de 1ª safra, e há possibilidade concreta de agravamento deste cenário”, destaca.

Segundo a técnica, todas as regiões do Paraná foram afetadas pela seca em maior ou menor proporção. “Como agravante, várias das regiões mais afetadas são importantes polos produtores, como o Oeste, Norte Central, Sudoeste, Centro-Ocidental e Centro-Sul. Ainda temos o Noroeste do Estado que, apesar de concentrar menor produção de soja e milho 1ª safra, sofreu perdas severas”, destaca.

O diretor do Departamento de Gestão de Riscos do Ministério da Agricultura, Pedro Loyola, destaca que essa foi a safra de verão com maior número histórico de acionamentos de seguro rural no Paraná até o momento.

“O seguro rural cresceu muito em 2020 e 2021. No histórico do PSR, desde 2006, esta é a safra de verão com maior número de acionamentos, lembrando que, além do Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Santa Catarina também estão sofrendo com a seca, o que é algo inédito pela severidade das perdas”, pontua (leia mais no quadro os avisos de sinistro abertos nesses Estados).

Imagem ilustrativa da imagem Paraná lidera abertura de sinistros de seguro rural
| Foto: Divulgação

O produtor rural Edmilson Zabott, vice-presidente do Sindicato Rural de Palotina, acionou o seguro rural em dezembro de 2021, após registrar perda de 50 hectares de soja e de 7 hectares de milho na sua propriedade em Palotina, no oeste do Paraná, por conta da seca – praticamente 100% da produção. Em mais de 20 anos, essa foi a segunda vez em que ele teve de abrir o sinistro.

“A nossa chuva foi no final de setembro, quando iniciamos o plantio. Tivemos uma forte chuva logo no início de outubro, mais de 400 milímetros em apenas dois dias. E depois disso não houve mais chuvas consistentes. Daí para frente veio acumulando crise hídrica e não teve jeito, tive que acionar o seguro.”

Apesar de ter aberto o sinistro há quase dois meses, o produtor ainda não recebeu o valor do seguro.

“As seguradoras estão pedindo que a gente leve o cultivo até a colheita final. Esse é o nosso enfrentamento, já que temos que continuar o manejo de uma coisa que não vai pagar nem a água do radiador da colheitadeira. Nesse momento, já poderíamos estar fazendo o manejo do solo para plantar o milho safrinha, como o que estão fazendo os produtores que não fizeram seguro.”

Edmilson calcula que a cobertura do seguro vai fazer só com que ele consiga pagar os credores. “Não vai sobrar dinheiro para nos manter daqui para a frente”, destaca.

IMPORTÂNCIA

O seguro rural é um instrumento de gestão de riscos que o produtor adota para se proteger dos riscos climáticos, que resultam em perdas de produção e de qualidade.

O PSR (Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural) concede subvenção econômica de 20% no caso da soja e 40% para as demais culturas, do valor pago pelo produtor rural pelo seguro, o chamado prêmio.

“A iniciativa é fundamental para reduzir o custo ao produtor e incentivar a contratação e consequente redução dos riscos aos quais a produção agropecuária está exposta”, destaca Ana Paula Kowalski.

Pedro Loyola acrescenta que o programa possibilita ao produtor o benefício de contratar o seguro com um custo mais acessível e incentiva o uso de tecnologia, possibilitando que ele compartilhe parte dos seus riscos com uma seguradora privada.

“No momento em que tiver uma adversidade climática, pode acessar uma indenização que contribui para pagar os compromissos financeiros. Com isso, o agricultor evita a renegociação de dívidas e se mantém na atividade com um fluxo de caixa mais constante.”

Ele considera o seguro um investimento que pode mitigar parte dos prejuízos advindos de fenômenos naturais. “Ou seja, dá a tranquilidade para que produza sem comprometer seu futuro com prorrogações de dívidas, redução de tecnologia e de acesso ao crédito, evitando inclusive que, no limite, venha a perder patrimônio ou sair da atividade.

Faep oferece suporte a produtores rurais

A técnica Ana Paula Kowalski destaca que a Faep tem acompanhado e dado suporte aos produtores rurais do Paraná, orientando sobre pedidos de renegociação de dívidas, capacitação e orientação sobre contratação de seguro agrícola e demais demandas relacionadas.

Governo estadual, Faep, Ocepar e Fetaep (Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Paraná) encaminharam documento à ministra Tereza Cristina solicitando uma série de medidas envolvendo crédito rural, seguro rural e Proagro.

O pedido oficializado em janeiro demandou ações do Ministério da Agricultura para minimizar as perdas pela seca, como a criação de uma linha emergencial de crédito para produtores que acionaram seguro rural e Proagro e também para agricultores que utilizaram recursos próprios.

INSTRUÇÕES PARA CONTRATAÇÃO

O agricultor interessado em contratar o Programa de Seguro Rural deve procurar corretores, instituições financeiras ou cooperativas que atuem com companhias de seguros habilitadas.

Há ainda uma ferramenta de aplicativo chamada PSR (Programa de Seguro Rural), disponível para smartphone, que mostra as seguradoras habilitadas por município e cultura.

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.