O avanço da circulação do novo coronavírus pelo mundo demandou grandes mudanças não só nas relações interpessoais e de trabalho, mas também na cultura empresarial. A pandemia exigiu do mundo corporativo flexibilidade, adaptação e inovação e obrigou gestores a agilizarem processos de transformação na área digital para adequarem seus modelos de negócios aos novos tempos. As lições trazidas pela crise sanitária e as adequações promovidas pelas empresas para se manterem competitivas nos meses mais críticos da crise sanitária foram tema do 4º Café com Jornalistas AHK Paraná, organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil Alemanha - Filial Paraná. O evento on-line, realizado nesta terça-feira (22), contou com a participação de conselheiros das câmaras do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e da Alemanha.

A tecnologia 4.0, que facilita o gerenciamento de informações e dá maior rapidez e segurança ao processo de coleta, armazenamento e disponibilização de dados, é uma unanimidade no meio empresarial, seja no Brasil ou na Alemanha. Os recursos da Inteligência Artificial surgem como importantes ferramentas para que as empresas consigam se reinventar. “Se antes da pandemia já estávamos vivendo em uma época onde os negócios tradicionais estavam sendo substituídos por negócios sustentados pelo uso da Inteligência Artificial, cada vez mais isso está acontecendo, em todas as empresas, no mundo todo, das mais tradicionais às startups. Todas elas estão se reinventando. É uma época que as empresas estão usando a tecnologia da Inteligência Artificial para aumentarem a sua produtividade”, pontuou o diretor da filial paranaense da Câmara de Comércio e Indústria Brasil Alemanha, Andreas Hoffrichter.

Andreas Hoffrichter
Andreas Hoffrichter | Foto: Divulgação/Smartcom

As transformações digitais já vinham sendo implantadas pelas empresas, mas a pandemia acelerou o processo, avalia o gerente da Manufatura da Bosch, Fernando Borer. Ele vê as transformações digitais como pontos de inflexão dos negócios e defende que as empresas têm que estar preparadas para se adequarem às novas tendências. “É como se fosse uma onda. Na hora em que a onda vem, você consegue surfar e se tornar competitivo. Se não se prepara no começo, a onda dá um caldo”, comparou o executivo.

Além de se adaptar às novas tecnologias, Borer apontou outras adequações feitas pela empresa que foram fundamentais para atravessar o período mais crítico da pandemia, guardando fôlego para iniciar com força o processo de retomada das atividades. Ele cita os cuidados com a saúde dos colaboradores, a redução dos investimentos em inovação, a descentralização da liderança e, o mais relevante, a manutenção de dinheiro em caixa para garantir os pagamentos.

"A pandemia está ensinando que a gente tem que aprender mais do que saber e a transformação digital é sempre um caminho. A pandemia virou uma espécie de mentora dessa transformação”, disse o conselheiro da filial paranaense da Câmara e diretor regional do Sindipeças, Daniel Da Rosa. Ele listou dez pontos que considera os mais impactados pela crise do novo coronavírus: reuniões corporativas e sociais, compras e serviços on-line, modelo de trabalho, com um número maior de trabalhadores em home office, mudanças nas moradias, ensino a distância, saúde, redução na burocracia, união de gerações, efeitos psicológicos decorrentes do isolamento social e meio ambiente.

Presidente da Brose do Brasil, Max Forte acredita que crises não significam apenas perdas e trazem também possibilidades de ganho. “Toda vez que o mercado se chacoalha, tem que avaliar as grandes oportunidades no momento de crise, sempre tem oportunidades. No nosso caso, estamos aumentando a participação de mercado em quase quatro pontos. A Volkswagen e a Fiat estão aumentando mercado. Tem que encontrar os pontos fracos dos concorrentes para sair mais forte por meio de um planejamento estratégico”, sugeriu.

Alemanha tem atrasos no processo de digitalização

Diretor da OKE na Alemanha, Emerson Nogueira ressalta a transparência e a assertividade na comunicação do governo alemão e a rapidez com que a população acatou as regras sanitárias para enfrentamento da pandemia. A questão cultural, disse ele, ajudou no cumprimento das medidas de distanciamento social e a ótima estrutura do sistema de saúde com amplo acesso da população colaborou para o rápido controle da disseminação do novo coronavírus. O país de mais de 80 milhões de habitantes contabiliza 9,3 mil mortes por Covid-19.

Para amenizar os impactos da pandemia, o governo alemão reduziu de 19% para 16% a taxa do imposto equivalente ao ICMS brasileiro e liberou uma ajuda de 300 euros por criança, como um bônus para as famílias. A Alemanha também preparou um pacote de investimento de 50 bilhões de euros para as áreas tecnológicas. Apesar de estimativas apontarem para uma recessão de cerca de 6% para este ano, o país projeta crescimento para 2021, com o nível do PIB retornando ao registrado em 2019, com crescimento de 5%, e recuperação a partir de 2022.

“Falando sobre a questão da digitalização, percebe-se a automação como um ponto forte, mas em alguns pontos, eles estão atrasados”, avaliou Nogueira. “Nos países da América Latina, há uma grande flexibilidade em se adaptar ao uso da cultura digital e fomos mais rápidos nisso do que a Alemanha”, comparou a diretora da Interprint no Brasi, Lourdes Manzanares.

“Estamos muito abaixo da riqueza da Alemanha, em termos financeiros, mas saímos na frente na questão da digitalização do sistema judiciário. O judiciário alemão parou no início da pandemia e pouco a pouco está voltando. Lá não existe a possibilidade de se fazer um julgamento on-line. Aqui, rapidamente fomos obrigados a fazer o Judiciário funcionar on-line", destacou Wilson Andersen Ballão, da Andersen Ballão Advocacia.