As escolas são centros de atividade social e interação humana e quando elas são fechadas, muitas crianças e jovens perdem o contato social que é essencial para a aprendizagem e para o desenvolvimento. A pandemia do novo coronavírus acertou em cheio as instituições de ensino e uma das vítimas mais recentes é o Colégio Ateneu, de Londrina. O professor e diretor do Colégio Ateneu, Miguel Afonso Vargas, confirmou que o estabelecimento está encerrando as atividades depois de mais de 20 anos de atividade. Ele foi inaugurado no ano 2000 e iria completar este ano 21 anos de funcionamento.

Depois de mais de 20 anos de atividades o Colégio Ateneu irá fechar as portas.
Depois de mais de 20 anos de atividades o Colégio Ateneu irá fechar as portas. | Foto: Divulgação/Colégio Ateneu

“A pandemia nos pegou. Pegou a mim, que estou acometido com a Covid-19 e em isolamento, e pegou também o Ateneu. O ano passado foi um ano muito difícil A gente perdeu muitos alunos por conta da pandemia. As matrículas começaram a ficar devagar demais. Em todas as escolas está ocorrendo isso, mas não queremos comprometer mais os pais, professores e alunos. Se eu ficar segurando e depois as aulas não vierem eu estarei comprometendo a vida dos colaboradores muito fiéis, então optamos por encerrar as atividades”, expôs. “Em 47 anos de vida acadêmica como professor este talvez seja um dos dias mais tristes de minha vida. O Ateneu tinha uma proposta diferenciada de valorizar o indivíduo e fazer os alunos protagonistas de seu aprendizado, mas realmente encerramos mesmo. O que posso fazer agora é agradecer os mais de 20 anos que estive à frente da educação de jovens e adolescentes nos momentos felizes, porque este momento é muito triste. São 45 professores e 15 funcionários que o colégio possui. Chegamos a ter 400 alunos em um ano letivo”, destacou.

“Fizemos um trabalho excelente no ano passado, mas como as aulas eram digitais, os pais optaram por matricular seus filhos em escolas mais baratas. É compreensível, mas isso foi acarretando um processo crescente que é difícil da gente dominar. Os ativos todos foram queimados. Conseguimos terminar o ano e não conseguimos dar uma continuidade. E mesmo assim, pensando nas pessoas e nos colaboradores, tivemos que tomar esta decisão. Muitos funcionários, muitos professores estão há anos no Ateneu, desde o início do colégio. É realmente muito triste”, destacou.

Ele enaltece que a taxa de aprovação de seus estudantes “era uma coisa absurda.” “Constantemente recebemos a manifestação de ex-alunos. Já recebi mensagens de um ex-aluno que está fazendo um doutorado na Alemanha, outro que está fazendo pesquisa na Itália. Há um que se formou no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos EUA; e recebi de outro ex-aluno que foi formado no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Outros não entraram na faculdade, mas são gratos e se manifestam pelo empoderamento que conseguimos transmitir a eles. Na verdade, mais do que a política de resultados, trabalhamos com o empoderamento do ser humano e com a prática da empatia e formação do cidadão global”, apontou.

Segundo Vargas, no começo da vida acadêmica o grupo pensava muito em aprovação. “Mas depois fomos mudando para a formação de um indivíduo global e feliz . É isto que a gente sente mais. Criamos um formato de educação para a vida. Não era para ele ser médico, mas para ele ser feliz. Trabalhamos nisso com muita propriedade. E a gente recebe esse carinho de alunos que passaram pelo Ateneu constantemente pelas redes sociais e pelos telefonemas. Isso nos engrandece.”

O embrião do colégio surgiu na década de 1990. “Naquela época surgiram os cursos por matéria e criamos o nosso no Centro Irene Isabel. Nele os alunos poderiam se inscrever somente em Química, ou só em Matemática ou só em Física. Isso foi um sucesso e tivemos muitos alunos aprovados. Depois montamos o cursinho Ateneu/CPV que tinha o mesmo projeto, mantendo o número máximo de 40 alunos por sala. No início do Século 21 iniciamos as atividades do colégio, mas não só na formação acadêmica, mas no empoderamento dos alunos e com o objetivo de tornar o aluno feliz. Tínhamos atividades de formação empreendedora, formação global, aliados aos conteúdos morais e éticos. A gente fazia muito trabalho social e essa foi sempre a nossa máxima”, destacou.

Sobre o futuro dos professores e demais funcionários, Vargas acredita que todos serão recolocados em breve. “Porque todos são excelentes profissionais. O Ateneu é uma vitrine e tenho recebido solidariedade de vários diretores de escolas, salientando que querem nossos profissionais. O número de pós- graduados é impressionante, com mestrado e doutorado. Hoje recebi a notícia que um pai de aluno convidou o porteiro do Ateneu para trabalhar com ele. Porque educadores são todos, desde porteiros e cantineiras aos professores. Tenho certeza que eles serão bem recolocados”, apontou.