RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A forte queda nas vendas de combustíveis e o colapso nos preços do petróleo provocados pela pandemia levaram a Petrobras a prejuízo de R$ 2,7 bilhões no segundo trimestre de 2020, revertendo lucro de R$ 18,8 bilhões no mesmo período de 2019.

No primeiro trimestre, a estatal já havia reportado perda recorde de R$ 48 bilhões, provocada pelo corte de R$ 65,3 bilhões no valor de seus ativos diante de projeções de que o preço do petróleo ficará mais barato nos próximos anos.

Se o prejuízo recorde do início do ano foi contábil, no segundo trimestre as perdas refletem uma combinação de vendas 8% menores a preços 31% mais baratos, em comparação com os verificados no trimestre anterior.

O resultado teria sido pior se a Petrobras não tivesse contabilizado no balanço ganho em ação tributária que pode chegar a R$ 16,9 bilhões. A vitória teve um impacto positivo no lucro de R$ 10,9 bilhões. Sem ela, o prejuízo chegaria a R$ 13,8 bilhões.

“A eclosão de uma crise global de saúde causou uma recessão global profunda e sincronizada que afetou severamente a indústria global de óleo e gás”, escreveu o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, no balanço divulgado nesta quinta (30).

A combinação de queda nas vendas e menores preços reduziu em 33% na receita líquida da companhia, que fechou o trimestre em R$ 50,9 bilhões. Os efeitos da crise interna foram parcialmente compensados pelo aumento nas exportações, principalmente de combustível marítimo, que atingiram recordes históricos no período.

"Este movimento foi fundamental para compensar a forte contração na demanda por combustíveis no Brasil, especialmente em abril — um mês a ser lembrado na história da indústria de petróleo — e para preservar liquidez", disse Roberto Castello Branco, lembrando que naquele mês as cotações internacionais chegaram a ser negociadas abaixo de US$ 20 (R$ 103 na cotação atual) por barril.

Com as medidas de isolamento social no Brasil, a receita de vendas da companhia com seu principal produto, o óleo diesel, caiu 25% em relação ao primeiro trimestre e 42,1% em relação ao mesmo período de 2019. Já a queda do faturamento com gasolina foi de 41% e 51,8%, respectivamente.

O produto mais afetado foi o querosene de aviação, diante das restrições a voos em todo o mundo. No segundo trimestre, a receita com as vendas desse produto foi 89% menor, tanto em relação ao primeiro trimestre quanto na comparação com o mesmo período do ano anterior.

O cenário é refletido no desempenho de cada área de negócios da empresa: enquanto a área de Exploração e Produção, responsável pela venda de petróleo, conseguiu fechar o período no azul (R$ 6,3 bilhões), a área de Refino, que vende combustíveis, teve prejuízo de R$ 3 bilhões.

Já em maio, quando os primeiros estados começaram a relaxar as restrições a circulação de pessoas, a Petrobras via melhora no mercado brasileiro de combustíveis. Até aquele mês, o consumo de diesel registrava queda de 30%, enquanto o de gasolina caía entre 40% e 45%.

A situação evoluiu nas semanas seguintes e, segundo o MME (Ministério de Minas e Energia), considerando o período até 22 de julho, a queda nas vendas de diesel era de apenas 1,2% e nas de gasolina, de 11%. Na semana passada, a utilização das refinarias voltou a patamares anteriores à crise, chegando a 77,3% da capacidade no domingo (26).

As exportações foram salvas pelo mercado chinês, que saiu mais cedo do isolamento social. No segundo trimestre, a China foi responsável por 87% das compras de petróleo produzido pela Petrobras, quase o dobro dos 48% registrados no trimestre anterior.

"A economia global está mostrando sinais de recuperação impulsionada pela injeção de US$ 15 trilhões – cerca de 12% do PIB global – derivada de ações de políticas fiscais e monetárias. Embora em nível mais moderado, a incerteza permanece", escreveu Castello Branco.

A dívida líquida da companhia cresceu 2,6%, para R$ 390 bilhões, resultado de "várias medidas conservadoras" para preservar a posição de caixa, diz o balanço. Em maio, a Petrobras captou R$ 17 bilhões, na primeira emissão de títulos internacionais por uma empresa brasileira após o início da pandemia.

Apesar da crise, a estatal aprovou em assembleia na semana passada a distribuição de bônus milionários a seus executivos, como prêmio pelo desempenho de 2019, quando a estatal registrou lucro recorde de R$ 40 bilhões.

A proposta apresentada pela direção da empresa elevou de R$ 5,5 milhões para R$ 11,8 milhões a projeção de prêmios para o desempenho em 2019, quando entrou em vigor novo modelo de premiação que privilegia os cargos de chefia e pode dar até 13 salários a seu presidente.

O aumento da remuneração foi aprovado com apoio do governo, o acionista majoritário, embora o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tenha votado contra. A distribuição do dinheiro, porém, está suspensa devido à pandemia.

No balanço, a Petrobras diz que vem tomando medidas para reduzir seus custos e melhorar sua resistência a um cenário de petróleo barato, como novos programas de demissão voluntária, redução no número de edifícios ocupados e eliminação de ineficiências e custos logísticos.

Mesmo após a pandemia, disse a empresa, cerca de 50% do pessoal administrativo será mantido em regime de teletrabalho por ao menos três dias por semana. Nos outros dois, deverão ir ao escritório para preservação cultural efetiva, construção de equipes e mentoria de jovens profissionais.

No segundo trimestre, a estatal conclui a venda de um polo produtor de petróleo no Rio Grande do Norte. Depois, já vendeu também 10% remanescentes na empresa de gasodutos TAG e um polo produtor de petróleo em águas rasas no litoral do Rio.

Assinou ainda contrato para a venda de outro conjunto de campos de petróleo no Rio Grande do Norte. Segundo a companhia, essas transações garantem uma entrada US$ 997 milhões (R$ 5,1 bilhões, pela cotação atual) em 2020.

"A Petrobras ainda enfrenta muitos desafios em sua jornada para criação de valor sustentável. Assim, devemos continuar a desenvolver iniciativas para cortar custos e promover ganhos de eficiência num ritmo acelerado", disse Castello Branco.