O crescimento da demanda por serviços de delivery, o maior número de pessoas trabalhando como entregadores de aplicativo e a necessidade de evitar aglomerações no transporte público em razão do risco de contaminação pelo novo coronavírus contribuíram para elevar as vendas de motocicletas no país. Apesar de a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) apontar retração no mercado na comparação entre 2019 e 2020, de maio para junho deste ano, a comercialização desse tipo de veículo teve alta de 57%.

Imagem ilustrativa da imagem Pandemia faz crescer vendas de motos
| Foto: Gina Mardones/Arquivo FOLHA

Em Londrina, as vendas não tiveram uma evolução tão expressiva, mas os revendedores falam em aumentos de 15% a 20%. Proprietário da Jairo Motos, Jairo Dutra Vieira aponta duas condições que impulsionaram o comércio de motocicletas. O primeiro foram as facilidades na venda a crédito. Antes da pandemia, as compras no cartão de crédito podiam ser parceladas em até 12 vezes. Agora, quem quiser adquirir uma moto pode pagar em até 24 prestações. “As vendas através do cartão deram uma alavancada boa. Isso nós conseguimos há cerca de 60 dias. Mas o fator dominante foram as entregas domiciliares. Se a gente tivesse só a condição especial de pagamento e não tivesse a pandemia, acredito que as vendas não estariam tão boas.”

O volume de vendas só não é maior, disse Vieira, porque as fábricas de motocicletas, na Zona Franca de Manaus, enfrentaram problemas na produção em razão da pandemia. Na loja, a fila de espera na loja é de 30 a 40 dias, mas dependendo do modelo, esse prazo se estende um pouco mais.

A maior procura neste momento é por motos de baixa cilindrada, a mais utilizada por entregadores de aplicativos, com preço médio de R$ 12 mil. “De maio para cá aumentou muito em relação ao ano passado, cerca de 15%. Mas não acredito que essa alta vá ser mantida. É um pico por causa do aumento do volume de entregas”, apontou Vieira.

Gerente da Kallas Motos, Márcio de Lucca disse que a alta de 20% nas vendas de motos foi observada no ano passado e o mercado se mantém aquecido desde então. “Após o início da pandemia, não houve tanto aumento nas vendas, mas cresceu bastante a procura. São pessoas que trabalham com entrega por aplicativo, moto táxi, gente que está comprando para economizar com transporte e pra não correr o risco de contaminação. Temos falta de alguns modelos”, disse.

A escassez de produto aconteceu devido a paralisação nas fábricas e falta de componentes em Manaus. A Honda, maior fabricante de motos do país, que detém 77% do mercado nacional, ficou com a linha de produção parada por quase dois meses na Zona Franca.

Vendas represadas

Segundo dados divulgados pela Fenabrave, as vendas em junho cresceram 57,05% na comparação com maio. No mês passado, foram licenciadas 45.893 motos contra 29.221 no mês anterior. Para o presidente da federação, Alarico Assumpção Junior, o aumento das vendas, em junho, pode ser explicado por possíveis vendas represadas e realizadas em maio, enquanto os departamentos de trânsito do país não estavam operando, mas também revela a melhora nos índices de confiança por parte do consumidor e empresários. “Principalmente em segmentos como o de caminhões e motocicletas, que só não tiveram resultados melhores pela falta de produtos, já que as montadoras estão retomando a produção aos poucos e ainda de forma reduzida”, destacou ele. “Esse crescimento nos mostra o aumento da demanda, principalmente por motos de até 250 cilindradas, que foi o segmento que mais sofreu com a paralisação das fábricas.”

Projeção

Os números positivos em junho, no entanto, não foram suficientes para garantir a recuperação do setor de motocicletas no primeiro semestre, que registrou queda de 33,93% ante o mesmo período de 2019. A Fenabrave revisou as projeções de vendas de veículos para este ano, que deve fechar dezembro com queda de 35% nas vendas totais ante o crescimento de 9,7% esperado na previsão feita em janeiro. Para o setor de motocicletas, a queda no ano deve ser de 35,8% para motocicletas. No início do ano, a previsão era de alta de 9% para os veículos de duas rodas.