Consumidores fazem fila para entrar em shopping reaberto após flexibilização das medidas de restrição
Consumidores fazem fila para entrar em shopping reaberto após flexibilização das medidas de restrição | Foto: Roberto Sungi/FuturaPress/Folhapress

São Paulo - Cuidar de si sem perder a empatia e buscar conforto com consciência social e ecológica. Depois da prioridade zero (não perder a fonte de renda), essas serão as principais demandas dos consumidores pós-pandemia.

O admirável e temido mundo novo nem é tão novidade para empresas de previsão de tendências. O que os consultores veem é uma aceleração de movimentos já esperados.

"Nossa metodologia é traçar panoramas para dois, três anos à frente. Vivemos uma antecipação do que foi apontado para 2021-22", diz Luiz Arruda, responsável pela Mindset, ramo de consultoria de negócios da WGSN Brasil.

A ansiedade e o medo, características da contemporaneidade, já levam as pessoas para a segurança do lar desde o início do século. A preocupação com a Covid-19 pandemizaram essa tendência, consolidando o comércio eletrônico e os serviços digitais.

O consumo pela internet se intensificou de forma irreversível, mas esse crescimento quase compulsório também aumentou o desejo de se reconectar com gente de carne e osso. "A retomada do varejo será com formas híbridas, consumo online associado a ponto de venda físico", diz Dario Caldas, consultor e fundador do Observatório de Sinais.

A aposta é em empresas que criem relacionamentos mais amigáveis, transparentes e resolutivos com o consumidor. Atendimento, eficiência na distribuição, acompanhamento pós-venda e programas de benefício são diferenciais.

Apesar do crescimento do consumo virtual, a retomada da demanda pelo comércio físico está no horizonte. Mas não dá para ficar otimista com imagens de filas de consumidores nas portas de shoppings e lojas, diz a antropóloga social Ana Carolina Balthazar, professora da PUC-Rio.

Segundo ela, uma das consequências da recessão mundial prevista é a perda do poder aquisitivo da população.

Mesmo assim, há potencial para o consumo presencial, principalmente no setor de luxo. "O consumidor vê valor na experiência do ponto de venda, na interação com vendedores que fazem uma espécie de curadoria", diz. Quem conseguir trazer isso para o mundo virtual sai ganhando.

Cumprir protocolos de saúde nas lojas, seja com o uso de máscara ou com a boa higienização do ambiente, será fundamental para atrair consumidores. "Mas não adianta transformar isso em um esquema militarizado. As pessoas querem segurança, mas não aguentam mais se sentirem amedrontadas", diz Caldas.

Além de ficar seguro em casa, outra prioridade é cuidar da saúde física e mental, do bem-estar. O setor de higiene foi um dos que cresceu desde o início da quarentena, de acordo com o Sebrae.

Há espaço para produtos de cuidados pessoais e beleza, cursos de dança, programas de meditação, telemedicina.

Com o desejo de mais conforto e relaxamento, cresce também a procura de produtos e serviços para a casa, incluindo bricolagem, o "faça você mesmo".

Neste último item, outra demanda da vida antes da Covid-19 ganha força: a busca por materiais naturais, itens artesanais, plantas dentro de casa.

A saúde ganha também uma dimensão planetária. Há uma percepção mais clara de como o ambiente afeta o indivíduo.

O consumidor está mais consciente de seu papel na preservação ambiental e espera isso das empresas, assim como responsabilidade social.

Políticas claras das marcas e produtos sustentáveis atendem melhor essa demanda. Isso também pode favorecer produtores locais e empreendimentos pequenos que tenham conseguido sobreviver ao período de quarentena.

No momento, a categoria chamada de alta recompensa cresce com aumento da demanda por brinquedos sexuais, videogames e streamings de entretenimento --que são válvulas de escape para ansiedade e angústias reforçadas pela pandemia.

Já para os setores de eventos e turismo, a vida ficou mais difícil. Várias festas e seminários foram cancelados, alguns migraram para plataformas digitais, assim como viagens de trabalho foram substituídas por encontros online.