BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O mercado de trabalho brasileiro registrou um saldo líquido de 131 mil contratações em julho, segundo os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados pelo Ministério da Economia. Esse é o primeiro resultado positivo após quatro meses.

O saldo (resultado de 1.043.650 admissões e 912.640 desligamentos) interrompe a série de demissões líquidas iniciadas em março, com o início dos efeitos da pandemia no país e as medidas de isolamento social.

Naquele mês, foram cortadas 263 mil vagas (considerando também dados entregues fora do prazo). Em abril, foram 927 mil vagas a menos. Em maio, corte de 355 mil postos. E em junho, menos 19 mil.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, comemorou o resultado de julho e considerou a notícia extraordinária. "Estamos bastante animados com isso. É um patamar acima de 1 milhão de admissões, e isso é um excelente sinal que a economia pode fazer um retorno em V", afirmou.

Ele voltou a afirmar que o V será em formato da marca da Nike, ou seja, com a segunda perna mais deitada (indicado uma recuperação mais lenta do que a queda). "Todos esses dados têm saído com padrão semelhante. É um V, mas um V da Nike. A queda foi abrupta e a volta é um pouco mais lenta, mas segura", disse.

Para ele, o PIB (Produto Interno Bruto) neste ano pode cair 4% ou um pouco mais, mas ainda assim abaixo de previsões mais pessimistas feitas pelo mercado financeiro nos últimos meses. "Nós dissemos na época que é muito difícil que esses modelos de previsão funcionem, porque quando há momentos críticos como esse, quando há mudança de regime, os parâmetros [para o cálculo] ficam instáveis", afirmou.

No mês, o setor que mais contratou foi o da indústria (com 53,5 mil vagas). Em seguida, vieram construção (41,9 mil), comércio (28,3 mil) e agricultura (20 mil). Somente os serviços fecharam vagas em julho (menos 15,9 mil postos).

Todas as regiões do país tiveram resultado positivo em julho. O melhor saldo pertence ao Sudeste, com a criação de 34,1 mil postos de trabalho. Em seguida, vieram Nordeste (22,6 mil), Sul (20,1 mil), Centro-Oeste (14 mil) e Norte (13,2 mil).

As mudanças trazidas pela reforma trabalhista do governo de Michel Temer tiveram pouco efeito no resultado líquido no mês. Foram 6,9 mil contratações pelo trabalho intermitente e 5,3 mil demissões pelo trabalho parcial.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o grande destaque foi a indústria, em especial a fabricação de produtos alimentícios, e a construção civil. "É o Brasil voltando à normalidade", afirmou em rede social.

O secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, afirmou que os dados dos próximos meses devem continuar a mostrar contratações líquidas. "Tudo indica que continuaremos nessa onda positiva", disse.

O secretário de Trabalho, Bruno Dalcolmo, afirmou que o segundo semestre tende a ter resultados melhores com as contratações para os eventos de fim de ano. Além disso, a possível redução no ritmo da pandemia poderia contribuir para os dados.

"Todos os gráficos de contaminação [por Covid-19] apontam para uma redução substancial ao longo do mês de setembro, o que permitirá uma reabertura das atividades econômicas e do consumo. É de se esperar que tenhamos melhores números ao longo dos próximos meses por esses fatores", disse.

TOTAL DE EMPREGADOS

Apesar do dado positivo no mês, o número de empregados formais no país ainda está significativamente abaixo do nível pré-pandemia. O estoque atual de 37,7 milhões de trabalhadores formais está quase 1 milhão abaixo de um ano atrás —é o menor nível em 10 anos para meses de julho.

Bruno Ottoni, pesquisador do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) e da consultoria Idados, considera uma surpresa os dados do mês, inclusive os da indústria. “Surpreende pelo momento da economia, porque não está tão bem assim”, afirmou.

Ele ressalta que o segundo semestre tradicionalmente tem dados mais positivos por causa da proximidade do Natal, mas que mesmo assim é preciso analisar outros dados para verificar com mais detalhes o comportamento da economia. Serviços, lembra ele, ainda tem demissões líquidas.

Em sua visão, os números podem estar sendo beneficiados pelas diferentes medidas tomadas pelo governo e que movimentam a atividade, como de crédito e do próprio auxílio emergencial de R$ 600.

Outro aspecto considerado é o programa que suspende contratos de trabalho ou corta salário e jornada. O Ministério da Economia decidiu prorrogar a medida por mais dois meses, o que para o pesquisador, demonstra que o governo vê risco de demissões com o fim da medida.

“Muitos desses contratos firmados pelo programa iam vencer a partir de outubro, o que poderia começar a gerar dados ruins no fim do ano”, disse. “No fundo, o programa está ajudando. E isso está fazendo com que as empresas não precisem arcar com os custos de demitir esses trabalhadores”, afirmou.