Imagem ilustrativa da imagem Outra nuvem paira sobre o agronegócio
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O monitoramento em tempo real de um aviário, de uma plantação ou do maquinário na agroindústria já é realidade no Paraná, com potencial para elevar em 25% a rentabilidade e favorecer o trabalho cada vez mais profissional do produtor rural. Plataformas baseadas no processamento contínuo de informação, como Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), Inteligência Artificial e Machine Learning (ou aprendizado da máquina, em tradução livre) permitem diagnosticar problemas antes que ocorram, reduzir desperdícios e gerar maior bem-estar animal e ambiental, entre outros benefícios.

Dos exemplos apresentados no SAP Forum Brasil 2018, na capital paulista, nos dias 11 e 12 deste mês, destacam-se a Gestão Avícola, da curitibana SPRO IT Solutions, e a migração para a nuvem pública de todo o ambiente SAP da gaúcha Yara Fertilizantes, pela multinacional brasileira TIVIT. O caso paranaense talvez seja o mais palpável, mas ambos mostram como o uso de informações pode levar a uma nova revolução no campo.

A SPRO levou ao evento uma solução que envolve um sensor à bateria, um sistema de conexão em rede on-line e o uso de nuvens para processamento de dados. O presidente da empresa, Almir Meinerz, afirma que a empresa desenvolveu no último ano um projeto piloto, em um aviário em uma cidade ainda mantida em segredo, no Oeste do Paraná. Vários sensores permitiram fazer o monitoramento de uma série de variáveis que hoje são feitas apenas visualmente pelo criador. "Esses sensores monitoram a umidade, a temperatura, a luminosidade, a temperatura da cama e da água, além do fluxo de água, gás carbônico e amônia. Também tem balanças que captam o peso do frango, outra balança com células de carga acoplados no silo, onde fica a ração", diz.

Qualquer ocorrência fora do ideal gera uma notificação, que é enviada ao produtor e à integradora em tempo real, ou, mais importante ainda, com antecedência, para que uma perda de produtividade possa ser evitada. Todo esse processo gera um aprendizado de melhores e piores práticas, que ao longo do tempo permitem que o próprio sistema em nuvem oriente as ações em campo. "Em janeiro deste ano tivemos altas temperaturas na região Oeste e o normal é se ligar o nebulizador para refrescar o ambiente durante o dia, o que umedece a cama do frango. À noite, o frango deita e o calor do peito aquece a cama, gera gás carbônico e pode levar à mortalidade", cita Meinerz.

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Com o monitoramento, foi possível analisar gráficos e informações as quais o granjeiro não teria acesso de outra maneira, para mudar o manejo. O uso de Inteligência Artificial permitiu assim que eventuais variações prejudiciais aos animais fossem identificadas com antecedência, o que reduz o risco. "Focamos na sustentabilidade, no bem-estar animal, e não olhamos somente para a melhora da produtividade, da rentabilidade", diz o presidente da SPRO.

Outro exemplo é o aquecimento de pintainhos. Quando chegam à granja, costumam ser aquecidos por campânulas a gás, insumo que é cada vez mais caro. Porém, a alta temperatura aliada aos dejetos dos animais gera gás carbônico e o comum é usar exaustores para tirar o ar quente, o que leva ao "retrabalho" de voltar a aquecer os animais. "Implementamos uma forma de monitorar o gás carbônico e, à medida que chega em um ponto mediano, ligo outro tipo de exaustor, nas laterais, que faz a retirada leve, sem a saída de todo o ar."

Tudo na nuvem
No caso da Yara Fertilizantes, a TIVIT reuniu todo o sistema de várias empresas compradas nos últimos anos, que estavam em data centers diferentes, na nuvem pública. "Foi um ano de preparação, mas a virada toda de infraestrutura foi feita em 90 dias", conta o diretor chefe de tecnologia e diretor de serviços em nuvem da TIVIT, Armando Lima Amaral.

Assim como na granja, a maior facilidade é a agilidade e o ganho de informações para orientar a tomada de decisões. Do desligamento de máquinas em horários em que a demanda é menor, o que é definido pelo cruzamento de informações, até o menor uso de insumos e a reorganização logística, a Yara reduziu os custos em 25%. "Eles estudam o que se tem de tecnologia e tem mais coisas para para expandir", diz Amaral.

Para o futuro, ele cita a possibilidade de redesenho das empresas e da atuação dos produtores no campo. "O agronegócio tem uma série de possibilidades e tecnologias, como sensores no campo para monitorar a plantação, saber como está a evolução das plantas, se precisa de mais fertilizantes, de tratar determinada praga, irrigar mais ou menos, como está a variação climática", exemplifica. "Essas informações vão para a nuvem, são processadas para gerar informações de negócios e, no fim do dia, geram produtividade maior, diminuem o custo de manutenção e definem planos logísticos", explica o chefe de tecnologia da TIVIT.