Arlindo A. Zaffaron , de Cascavel: ‘‘Como pode ter ocorrido com outros agricultores e técnicos, eu também tenho lido e refletido sobre o que esse jornal tem publicado sobre o sistema logístico e sobre a boa comercialização, enfim, sobre as facilidades que o agricultor norte-americano tem à sua disposição. Principalmente os produtores de soja, com quem competimos heroicamente. Além dos subsídios que, como vossa senhoria apurou - evocando o testemunho dos próprios agricultores que entrevistou em Dekalb (Folha 2/5) - são uma realidade indisfarçável.
Não adianta fazer comparações, embora até penso que seja pertinente, por se tratar de competidores de um mesmo mercado. Também não adianta fazer apologia do Mississipi. Nós também temos os nossos Mississipis, que não desembocam no Golfo, mas nos encaminham para o mar, o que é praticamente a mesma coisa, em termos de custo. Ressalvado o fato de eles, talvez, não terem o mesmo custo e problemas anacrônicos de estiva.
Mas, pensando bem, temos veias de escoamento que contemplam todas as novas fronteiras da soja. Com investimentos - talvez o melhor destino do dinheiro das privatizações do sistema Telebras - o governo pode conferir condições de navegabilidade de muitos rios e corrigir traçados de muitas ferrovias já em operação. O custo é de investimento, porque a manutenção é auto financiável.
Citarei apenas algumas para dizer mostrar que não é preciso ser pessimista. A soja brasileira (soja, milho, carne e outras riquezas), fluirão suavemente por Mississipi(s) como a hidrovia do rio Madeira, a hidrovia do Parnaíba, a Ferronorte, a hidrovia do Tietê, já no lá no Estado de São Paulo, na boca de Santos ou Paranaguá; a Ferrovia Norte-Sul, com saída da mercadoria via São Lauiz do Maranhão, e ainda o rio Araguaia.
Claro que não dá para cortar continentes como Mato Grosso, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Bahia e Giás, através carretas, que levam pouca tonelagem (deve ser o custo/benefício baixo do mundo) e ainda voltam à zona de produção batendo carrocerias. Mas, em termos de recursos naturais para montagem de infra-estrutura dá para acreditar nesses futuros veios da riqueza nacional. Questão de vontade política, para usar uma linguagem de discurso. São projetos que se desenvolveram bem até aqui, enfim são bons projetos. Apenas para fazer justiça’’.
Obs: O autor é empresário e produtor de soja no Paraná e no cerrado de Mato Grosso e Goiás.
Carlos C. Machado , de Paranavaí: ‘‘O presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou, em Uberaba, esta semana, números que exibem o bom crescimento das exportações de carne suína, bovina e frangos. Realmente o Brasil está bem nesse ponto. Pena que não pode comemorar o aumento do consumo interno. Não por falta de estatísticas, mas porque o plano econômico não avançou além do esforço para segurar a inflação a custa de baixos preços para os produtos da agricultura, sejam eles carne ou grãos de milho, arroz ou soja. Mas não adianta pagar mal quem produz e ter o alimento barato se o povo (desempregado e ganhando pouco) não consome. Só que o interior está cansado de produzir barato e pagar insumos a preços nivelados com o dólar.
A agricultura é assim mesmo, vale ouro, custa dólares e recebe preços de banana...’’.