Oswaldo Petrin
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 27 de fevereiro de 2001
O Brasil tem que aprender muito com o episódio do embargo à carne pelo Nafta, aparentemente superado. Não importa se a vaca pagou o pato da disputa entre aviões comerciais. O fato é que o Brasil deu chance para represálias, e não é a primeira vez que se apresenta vulnerável.
O aprendizado é exatamente este, a necessidade de se precaver. Agora que saiu por cima - e não parece tratar-se de uma vitória de pirro -, vai ficar na mira das exigências do mundo inteiro, inclusive dos que acreditam que a nossa carne é natural e o nosso gado se alimenta basicamente de vegetais.
Todo alimento made in Brazil estará mais observado do que nunca a partir de agora. Porque saímos como vencedores e porque passamos a imagem de detentores de um diferencial que aproxima nossos produtos do ecologicamente correto.
Dizem que a aftosa é o grande desafio do Cone Sul. Pode-se acrescentar outro item: os anabolizantes. Todos os países usam e vão continuar usando. Mas o Brasil será fiscalizado e visado também neste item.
Daqui para frente, parceria comercial será eufemismo que designa disputa comercial. E globalização será palco de guerra de incentivos, dumping, subsídios, etc.
Nesse contexto, não basta ser eficiênte e competitivo nos preços. Terá de se esmerar na qualidade. E atuar defensivamente. Assim, se existe uma disputa entre uma empresa brasileira (Embraer) e uma canadense (Bombardier), sejamos prudentes para perceber que as trocas de informações e as relações em outras áreas têm que ser impecáveis. Eis um caso típico em que o País deve atuar denfesivamente.
Outra lição: as negociações não são isoladas. O caso Canadá nos ensina isto. Num determinado momento, a restrição à vaca louca, que deveria beneficiar o frango, tem efeito exatamente oposto. O problema é a carne bovina, mas o frango vem do mesmo endereço; é assim que o consumidor interpreta. A visão do consumidor, porque é naturalmente defensiva, difere da visão de mercado.
Isto deve ser lembrado porque o Brasil está na iminência de sofrer um golpe duro dos importadores de carne de cavalo. A carne de cavalo é uma bomba que pode explodir a qualquer momento. Basta que o Japão - com todo direito de importador - resolva saber algo mais sobre os cavalos abatidos no Brasil, por exemplo. Ainda que inspetores sanitários encontrem instalações industriais impecáveis, certamente vão cair duros ao conhecer os criatórios de cavalos para abate. Qual a procedência desses animais? Como são criados? Que tipo de ração eles comem. Criados na periferia, onde bebem água poluída, esse animais oferecem uma carne confiável?
A origem de certos cavalos abatidos no Brasil poderá levar ao embargo da carne de equinos. Isto respinga em todo os produtos de origem animal. Por precaução à saúde dos consumidores do país importador, ou por retaliação em favor dos seus exportadores. Não interessa qual o motivo, ou o pretexto. O fato é que estamos dando motivos de sobra para embargos ou qualquer tipo de questionamento.
Enfim, o castigo pode vir a cavalo se o Ministério da Agricultura e a Secretaria da Agricultura não adotarem medidas para regularizar o setor e torná-lo transparente.