Muito já se falou sobre os malefícios de chefes ruins. Eles costumam intimidar seus subordinados, adoram criar um clima hostil no trabalho e parecem buscar falhas o tempo todo para "sacrificar os culpados". Aliás, de uns tempos para cá, até ganharam uma nova alcunha: líderes tóxicos. Mas, é um grande equívoco acreditar que nosso sucesso depende de sermos o oposto exato deles.

Chefes bonzinhos demais também são um perigo porque não desafiam as suas equipes e nem a si mesmos. Contentam-se com aquilo que "deu para atingir esse mês" ou, então, fixam objetivos de baixa performance apenas para não terem de confrontar as pessoas mais tarde se as coisas derem errado.

A necessidade de ser aceito sem reservas - devido à baixa autoestima pessoal ou à crença míope de que líderes devem agradar a todos e conquistar popularidade - é uma das principais causas desse comportamento disfuncional em alguns gestores. Consequência: quando eles têm de lidar com responsabilidades desagradáveis que podem prejudicar o vínculo afetivo com os liderados, simplesmente se omitem.

Líderes bonzinhos até podem ser adorados de vez em quando, mas suas empresas sempre perdem porque são permissivos. Com o intuito de se preservar, toleram atitudes reprováveis. Deixam de agir em situações que exigem respostas rápidas e ainda aceitam passivamente a decepção que causam nos melhores profissionais da equipe: "Por que ele não faz nada ou finge não enxergar o que está acontecendo?"

Na prática, vejo que, assim que as pessoas passam a entender "como ele funciona", deixam de respeitá-lo. Inclusive, muitos até se aproveitam da falta de pulso do líder para fazer do escritório ou da área fabril uma extensão de suas casas. A empresa se transforma num clube de campo repleto de pequenas e transgressões.

Esse tipo de postura coloca em risco a própria sobrevivência da empresa, dependendo da posição que o chefe bonzinho ocupa na estrutura. Por exemplo, não espere nenhuma mudança de alto impacto promovida por ele. Todos na companhia sabem que só precisam fazer cara feia para que, de súbito, aquele projeto inovador lançado na semana passada acabe postergado para o ano que vem. Recuar é sua especialidade.

É por isso que empresas que passam por dificuldades financeiras ou precisam implantar uma estratégia disruptiva de curto prazo não conseguem promover grandes reviravoltas com líderes permissivos. Quase sempre, eles não estão dispostos a pagar o preço emocional e os sacrifícios exigidos logo de cara.

Se você é liderado por um chefe bonzinho, fique atento aos rumos que a sua carreira está tomando. É comum que as pessoas só enxerguem os danos de não serem constantemente desafiadas quando precisam de mudar de emprego e não têm realizações para contar numa entrevista de emprego. Ou, então, quando um novo gestor chega na empresa e cria um ritmo de trabalho veloz e exigente com o qual elas não estão nem um pouco acostumadas.

E se você se reconhece como um chefe bonzinho, comece a repensar algumas atitudes. Eu creio que existe boa intenção em grande parte daquilo que orienta o seu modo de agir no dia a dia, mas é preciso se conscientizar de que está jogando para todos perderem. Você, os liderados e a empresa progredirão muito mais assim que encontrar equilíbrio entre o cuidado com as pessoas e a busca por resultados expressivos.

Agora pense rápido no professor que mais marcou a sua adolescência. Aposto que ele não foi daqueles que só dava provas fáceis e pouco exigia de você. É bem provável que, por vezes, até foi ríspido e lhe tirou algumas noites de sono. A única certeza que tenho é que, de alguma forma, fez diferença em sua vida e o ajudou a crescer. Líderes de verdade fazem exatamente isso: marcam a vida das pessoas positivamente, ainda que o caminho percorrido nem sempre seja repleto de belas flores.

*Wellington Moreira, palestrante e consultor empresarial

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