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Economia 5m de leitura

'Os juros não caem com o apertar de um botão', diz Campos Neto

Em evento promovido pela Faciap, nesta sexta (11), presidente do BC diz que redução da Selic não pode comprometer credibilidade do país

ATUALIZAÇÃO
11 de agosto de 2023

Simoni Saris - Grupo Folha
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Imagem ilustrativa da imagem 'Os juros não caem com o apertar de um botão', diz Campos Neto

A taxa básica de juros de um país não diminui com o apertar de um botão. A redução deve ser um processo conduzido com o cuidado de evitar arranhões à credibilidade da nação. É assim que se consegue melhorar as condições financeiras e a liquidez na economia. Essa foi a explicação dada pelo presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, durante sua apresentação no Fórum de Gestão Empresarial da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná), realizado nesta sexta-feira (11), em Curitiba.

A fala de Campos Neto foi uma resposta às muitas críticas feitas ao BC no período de 12 meses em que o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa Selic em 13,75%, uma das mais elevadas do mundo. “Obviamente, todo mundo olha para mim e vem, imediatamente, a palavra juros na cabeça”, disse. “Mas os juros nunca são causa, são consequência”, rebateu.

A pressão pela redução na taxa básica de juros ganhou mais força neste ano, quando logo que assumiu a presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva passou a criticar, reiteradamente, a política de juros adotada pelo BC que, segundo ele, constitui o maior entrave ao desenvolvimento econômico do Brasil. A fala de Lula encontrou respaldo no meio empresarial, onde as queixas sobre os efeitos das medidas adotadas pelo Copom passaram a ser cada vez mais frequentes. O alto custo do crédito, que inibe os investimentos, é uma das principais delas.

No início deste mês, após indicadores econômicos favoráveis, como queda na inflação e baixa na taxa de desemprego, o anúncio da redução da taxa de juros em 0,5 ponto percentual, levando a Selic a 13,25%, veio como um afago nos setores produtivo e empresarial, mas Campos Neto destacou que a ata do Copom apenas refletiu uma melhora das condições financeiras observadas bem antes do recuo dos juros. “A taxa de juros futuros, comparada com a Selic, começou a cair bastante. No mercado futuro, a taxa de juros está sendo precificada a 9,5%.”

Promover uma conversa para facilitar o crédito a empresas e reduzir os custos envolvidos não é uma tarefa fácil, destacou o presidente do BC. Manter o equilíbrio nas duas pontas de uma concessão de crédito requer muito jogo de cintura. De um lado, há o empresário que quer investir, gerar emprego e renda e, do outro, estão as instituições financeiras com políticas restritivas e burocracias que, muitas vezes, fazem o investidor desistir.

O Cenário Econômico e a Agenda BC foram o tema da palestra de Campos Neto no evento da Faciap, que teve como tema central os “Desafios do Crédito no Brasil: acesso mais fácil e custos menores”.

Em sua apresentação, Campos Neto traçou um panorama do comportamento da inflação e dos juros no Brasil e no mundo, mostrou como esses dois fatores interferem no mercado de crédito e apontou como é possível melhorar o relacionamento entre o setor empresarial e o mercado financeiro para que as empresas possam promover o desenvolvimento do Estado.

Olhar para o cenário mundial é fundamental para compreender os rumos da economia. Os donos do dinheiro entenderam que a inflação global não era um efeito temporário, como se imaginava no início da pandemia de Covid-19, e só agora os preços começam a recuar. “O BC foi um dos primeiros a subir juros. A inflação tem caído lentamente. Em alguns países, há uma desorganização maior da cadeia produtiva.”

Na América Latina, Brasil, Chile e Colômbia se destacam quando se fala em queda da inflação, efeito que começou a ser observado recentemente. Nos países mais avançados, como os da zona do Euro e os Estados Unidos, a redução tem sido mais lenta. “Há uma dificuldade de cair e um processo de subida de juros.” Em outros países, como Canadá e Austrália, o recuo da inflação foi interrompido e os juros voltaram a crescer. A economia chinesa, que tem implicação direta nos mercados emergentes, incluindo o Brasil, deverá se estabilizar no nível mais baixo.

Após ter feito o dever de casa, disse Campos Neto, o Brasil de 2023, 2024 e 2025 está “mais ou menos dentro do intervalo da banda da inflação”. “Alguns países não atingiram isso. Mostra o trabalho que o BC fez. A gente sempre teve a tese de que a inflação iria cair em duas etapas. A primeira, mais fácil, e a segunda, mais difícil.”

“Existiam teses de que o mundo nunca mais seria inflacionário, mas vimos que o que foi feito em termos de política monetária na pandemia foi insuficiente”, avaliou Campos Neto. Uma das grandes preocupações do BC é manter a credibilidade do Brasil. “Em política monetária, quando se perde a credibilidade, o custo é muito alto para recuperar.”

Campos Neto disse que o objetivo do BC é trazer a inflação para baixo em um movimento de “pouso suave”. “A gente vê a inflação do Brasil voltando para a meta. A inflação teve desoneração no segundo semestre. O país está conseguindo reduzir a inflação a um custo baixo. No setor de serviços, a inflação tem caído mais lentamente, principalmente a parte de mão de obra. Aqui no Paraná, alguns setores estão com problema para conseguir mão de obra.”

No curto e médio prazo, Campos Neto vê boas perspectivas para o Brasil. “Temos gerado empregos no processo de ajuste de juros. Estamos com desemprego baixo na comparação com outros países. E o país teve a maior revisão de PIB (Produto Interno Bruto) para cima e a previsão é de que siga crescente.”

Um dos principais desafios para a economia nacional, apontou ele, é aumentar a arrecadação e reduzir os gastos do governo. “A gente precisa equilibrar as finanças para ter uma trajetória sustentável de queda de juros. O Brasil tem uma coisa histórica que não é desse nem do governo passado, que é o aumento dos gastos. E o mercado está dizendo que os gastos do governo vão aumentar acima de 9%, acima da inflação.”

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