A taxa básica de juros de um país não diminui com o apertar de um botão. A redução deve ser um processo conduzido com o cuidado de evitar arranhões à credibilidade da nação. É assim que se consegue melhorar as condições financeiras e a liquidez na economia. Essa foi a explicação dada pelo presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, durante sua apresentação no Fórum de Gestão Empresarial da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Paraná), realizado nesta sexta-feira (11), em Curitiba.

A fala de Campos Neto foi uma resposta às muitas críticas feitas ao BC no período de 12 meses em que o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a taxa Selic em 13,75%, uma das mais elevadas do mundo. “Obviamente, todo mundo olha para mim e vem, imediatamente, a palavra juros na cabeça”, disse. “Mas os juros nunca são causa, são consequência”, rebateu.

A pressão pela redução na taxa básica de juros ganhou mais força neste ano, quando logo que assumiu a presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva passou a criticar, reiteradamente, a política de juros adotada pelo BC que, segundo ele, constitui o maior entrave ao desenvolvimento econômico do Brasil. A fala de Lula encontrou respaldo no meio empresarial, onde as queixas sobre os efeitos das medidas adotadas pelo Copom passaram a ser cada vez mais frequentes. O alto custo do crédito, que inibe os investimentos, é uma das principais delas.

No início deste mês, após indicadores econômicos favoráveis, como queda na inflação e baixa na taxa de desemprego, o anúncio da redução da taxa de juros em 0,5 ponto percentual, levando a Selic a 13,25%, veio como um afago nos setores produtivo e empresarial, mas Campos Neto destacou que a ata do Copom apenas refletiu uma melhora das condições financeiras observadas bem antes do recuo dos juros. “A taxa de juros futuros, comparada com a Selic, começou a cair bastante. No mercado futuro, a taxa de juros está sendo precificada a 9,5%.”

Promover uma conversa para facilitar o crédito a empresas e reduzir os custos envolvidos não é uma tarefa fácil, destacou o presidente do BC. Manter o equilíbrio nas duas pontas de uma concessão de crédito requer muito jogo de cintura. De um lado, há o empresário que quer investir, gerar emprego e renda e, do outro, estão as instituições financeiras com políticas restritivas e burocracias que, muitas vezes, fazem o investidor desistir.

O Cenário Econômico e a Agenda BC foram o tema da palestra de Campos Neto no evento da Faciap, que teve como tema central os “Desafios do Crédito no Brasil: acesso mais fácil e custos menores”.

Em sua apresentação, Campos Neto traçou um panorama do comportamento da inflação e dos juros no Brasil e no mundo, mostrou como esses dois fatores interferem no mercado de crédito e apontou como é possível melhorar o relacionamento entre o setor empresarial e o mercado financeiro para que as empresas possam promover o desenvolvimento do Estado.

Olhar para o cenário mundial é fundamental para compreender os rumos da economia. Os donos do dinheiro entenderam que a inflação global não era um efeito temporário, como se imaginava no início da pandemia de Covid-19, e só agora os preços começam a recuar. “O BC foi um dos primeiros a subir juros. A inflação tem caído lentamente. Em alguns países, há uma desorganização maior da cadeia produtiva.”

Na América Latina, Brasil, Chile e Colômbia se destacam quando se fala em queda da inflação, efeito que começou a ser observado recentemente. Nos países mais avançados, como os da zona do Euro e os Estados Unidos, a redução tem sido mais lenta. “Há uma dificuldade de cair e um processo de subida de juros.” Em outros países, como Canadá e Austrália, o recuo da inflação foi interrompido e os juros voltaram a crescer. A economia chinesa, que tem implicação direta nos mercados emergentes, incluindo o Brasil, deverá se estabilizar no nível mais baixo.

Após ter feito o dever de casa, disse Campos Neto, o Brasil de 2023, 2024 e 2025 está “mais ou menos dentro do intervalo da banda da inflação”. “Alguns países não atingiram isso. Mostra o trabalho que o BC fez. A gente sempre teve a tese de que a inflação iria cair em duas etapas. A primeira, mais fácil, e a segunda, mais difícil.”

“Existiam teses de que o mundo nunca mais seria inflacionário, mas vimos que o que foi feito em termos de política monetária na pandemia foi insuficiente”, avaliou Campos Neto. Uma das grandes preocupações do BC é manter a credibilidade do Brasil. “Em política monetária, quando se perde a credibilidade, o custo é muito alto para recuperar.”

Campos Neto disse que o objetivo do BC é trazer a inflação para baixo em um movimento de “pouso suave”. “A gente vê a inflação do Brasil voltando para a meta. A inflação teve desoneração no segundo semestre. O país está conseguindo reduzir a inflação a um custo baixo. No setor de serviços, a inflação tem caído mais lentamente, principalmente a parte de mão de obra. Aqui no Paraná, alguns setores estão com problema para conseguir mão de obra.”

No curto e médio prazo, Campos Neto vê boas perspectivas para o Brasil. “Temos gerado empregos no processo de ajuste de juros. Estamos com desemprego baixo na comparação com outros países. E o país teve a maior revisão de PIB (Produto Interno Bruto) para cima e a previsão é de que siga crescente.”

Um dos principais desafios para a economia nacional, apontou ele, é aumentar a arrecadação e reduzir os gastos do governo. “A gente precisa equilibrar as finanças para ter uma trajetória sustentável de queda de juros. O Brasil tem uma coisa histórica que não é desse nem do governo passado, que é o aumento dos gastos. E o mercado está dizendo que os gastos do governo vão aumentar acima de 9%, acima da inflação.”