Polícia Federal faz busca e apreensão na empresa
Polícia Federal faz busca e apreensão na empresa | Foto: Miguel Schincariol/AFP



Quase um ano depois da primeira fase da Operação Carne Fraca, a Polícia Federal deflagrou nesta segunda-feira (5) uma terceira etapa das investigações, batizada de Operação Trapaça. Ela foi realizada em cinco estados. Das 91 ordens judiciais, 50 foram cumpridas em Curitiba e outras dez cidades paranaenses. Foram presas 11 pessoas, entre elas uma farmacêutica de Maringá.
O ex-presidente da empresa Pedro de Andrade Faria e o ex-diretor-vice-presidente Hélio Rubens Mendes dos Santos Júnior também estão entre os presos. Desta vez, o alvo da PF são cinco laboratórios que fraudavam a inspeção de alimentos destinados à exportação.
A operação levou o Ministério da Agricultura (Mapa) a suspender as atividades de três unidades da BRF. As plantas de Curitiba, Rio Verde (GO), e Mineiros (GO) foram interditadas e suas exportações de carne de frango foram paralisadas preventivamente.
Com a ajuda de documentos obtidos por meio de uma ação trabalhista, investigadores da PF denunciaram que a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, adulterava resultados de análises relativas à presença da bactéria salmonella em seus produtos.
O objetivo era burlar a fiscalização sanitária e continuar exportando para destinos que têm uma tolerância menor à presença do micro-organismo na proteína.
A salmonella, comum em carnes, é permitida para comercialização até determinados níveis e não é necessariamente nociva à saúde se a carne for cozida adequadamente. Porém, 12 importadores têm uma exigência mais elevada em relação à presença da bactéria. Entre os destinos, estão a União Europeia, China, Coreia do Sul, Arábia Saudita, Rússia e África do Sul.

EXPLICAÇÕES
Embora a Europa já tenha pedido explicações ao Brasil, entidades ligadas à produção de proteínas minimizam o impacto do caso no mercado. A ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) divulgou nota na qual afirma que "apoia as investigações" e "defende o correto levantamento de problemas e a exemplar punição aos envolvidos".
Fazendo referência aos prejuízos alegados pelo setor em decorrência da primeira fase, a ABPA afirma que é "importante que os erros do passado não se tornem recorrentes: são situações ainda em investigação e pontuais, não uma situação generalizada." Ainda em alusão aos impactos das investigações pretéritas, a nota afirma que "há um esforço contínuo do poder público e da iniciativa privada pela transparência no processo produtivo" e que "programas de compliance foram estruturados e aplicados pelas diversas organizações envolvidas, como é o caso do Programa Agro Mais Integridade, do Mapa".
O presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Afrânio Eduardo Rossi Brandão, evitou falar em impactos. "Não acredito em impactos ao setor porque agora é uma investigação pontual, que se refere aos problemas em análise de laboratórios e uma empresa específica. É muito diferente daquela primeira fase, que nos trouxe um prejuízo monstruoso."
Além disso, comentou que 20% da carne produzida é exportada e, por isso, o setor já deu significativa demonstração de recuperação dos efeitos da operação deflagrada no ano passado. (Com Agência Estado)

Ação trabalhista revelou o escândalo

Parte das provas levantadas pela PF veio de uma ação trabalhista de uma ex-funcionária da BRF e também da troca de e-mails dos executivos da empresa. O delegado da PF, Maurício Moscardi Grillo, disse que a empresa alterava tabelas dos resultados antes de entregar ao Ministério da Agricultura.
Ele afirmou que uma ex-funcionária, ao sair da empresa, ajuizou uma ação trabalhista, que serviu de prova para a investigação. "Ela guardava boa parte do que tinha de fazer de errado", observou. Grillo reforçou que os executivos da BRF tinha conhecimento das fraudes que começavam nas granjas dos cooperados, passavam pelos frigoríficos e chegavam até os laboratórios.
As 11 pessoas presas são investigadas por fraudar, entre 2012 e 2015, resultados de análises laboratoriais (três laboratórios credenciados ao Mapa e dois de controle da BRF) relacionados à contaminação pela bactéria salmonella pullorum. Segundo o delegado, as planilhas e laudos técnicos eram modificados e os resultados finais adulterados eram entregues ao SIF (Serviço de Inspeção Federal), para impedir que o Mapa fiscalizasse a qualidade do processo industrial das plantas da BRF. A presença e quantidade real da salmonela foram omitidas em alguns casos.
A ração oferecida ao frango antes do abate também era objeto de fraude, de acordo com o delegado. Grillo disse que muitas provas surgiram após as fases anteriores da Carne Fraca e trocas de e-mails bastante consistentes entre executivos e funcionários do controle de qualidade comprovam o esquema de fraude, que era parte da "estratégia da empresa".

OUTRO LADO
A BRF divulgou nesta noite de segunda-feira um comunicado no qual nega as acusações. "A empresa está mobilizada para prestar todos os esclarecimentos à sociedade." A BRF afirma que segue normas e regulamentos brasileiros e internacionais referentes à produção e comercialização de seus produtos. (Das Agências)