A terceira fase do open banking, compartilhamento de dados, produtos e serviços pelas instituições financeiras e demais instituições autorizadas, deve começar no dia 29 de outubro.

Imagem ilustrativa da imagem Open Banking coloca consumidor no controle de seus dados financeiros
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A proposta do open banking é adaptar a oferta de produtos e serviços ao perfil de cada cliente, a custos mais acessíveis e de forma mais ágil e segura. Mas há uma grande expectativa sobre a desconcentração das informações que hoje se encontram nas mãos de poucas instituições financeiras, e sobre o empoderamento do consumidor, que passa a ter mais controle sobre os dados que as empresas do setor têm a seu respeito.

Ao fim da implementação, em uma versão mais ampliada, o sistema integrará também produtos não bancários, como seguros e previdência, e será chamado de open finance. Das mais de cem instituições financeiras já participantes, apenas 11 são obrigatórios. O restante optou por integrar o projeto.

Na atual fase do open banking, os clientes podem solicitar, nas instituições participantes do sistema, o compartilhamento de seus dados cadastrais e informações sobre transações em contas, cartão de crédito e produtos de crédito contratados. Isso quer dizer que as suas informações não estarão mais "presas" à instituição financeira da qual eles são clientes e podem ser vistas por outras, que podem fazer ofertas mais atrativas de acordo com o seu perfil.

Mas não só isso. Significa também que o cliente poderá usufruir de serviços financeiros digitais com seus dados compartilhados nesses ambientes, sem ficar preso às soluções oferecidas pelo banco do qual é cliente, por exemplo. Esta é, de acordo com Mariana Oreng, professora da Saint Paul Escola de Negócios, a chamada economia baseada em APIs (Application Programming Interface ou Interface de Programação de Aplicações), que vai promover a abertura e a integração de interfaces de informações com foco na melhoria da experiência do consumidor. As possibilidades que se abrem são inúmeras.

O compartilhamento de dados só pode ser feito com a autorização expressa do cliente e sempre para finalidades determinadas e por um prazo específico. Caso queira, o cliente também poderá cancelar essa autorização a qualquer momento e em qualquer das instituições envolvidas.

O pedido de autorização para que os dados dos clientes sejam compartilhados já começa a aparecer nos aplicativos do banco de alguns clientes, afirma Felipe Miranda, gerente de Estratégia e Inovação do Sicredi União. No app, o cliente também já pode fazer o gerenciamento do seu consentimento. "A pessoa só terá os dados compartilhados se aceitar", explica o gerente.

O Sicredi União PR/SP não é uma das instituições financeira obrigadas a aderir ao open banking, mas resolveu fazê-lo para "pegar a inovação do começo", diz Miranda. "O open banking é uma maneira boa de inovar no mercado financeiro, trazer coisas que já são vistas fora do Brasil para cá. Vem ao encontro da redução do spread, conseguir trabalhar melhor a transparência de informações entre instituições, então a gente entendeu fazer sentido aderir ao movimento logo do começo."

Para o gerente, o open banking vem combater a assimetria de informação ao tornar os dados a respeito das instituições financeiras e dos clientes mais disponíveis. Segundo ele, o open banking vai auxiliar a instituição a diminuir o spread, melhorar processos internos e entregar uma experiência melhor para os associados.

ACESSO A CRÉDITO

"Tudo o que ficava centralizado em apenas um banco fica agora aberto. O cliente tem autonomia de escolher com qual banco quer trabalhar. Isso é muito importante tanto para empresas quanto pessoas físicas", diz Luis Luz, CTO da Bankme. A fintech londrinense abre "minibancos" dentro das empresas para que elas possam fazer operações de crédito, como empréstimos e antecipação de recebíveis para seus próprios fornecedores, a juros mais baixos e com menos burocracia que os bancos tradicionais.

Ao permitir que empresas tenham mais informações sobre o cliente, o open banking beneficia a abertura de crédito para pessoas que muitas vezes não tinham acesso ou ficavam presas a um banco e sujeitos a taxas abusivas. "Começa a abrir possibilidades, mais acesso a crédito, principalmente para quem não tinha. Gera uma competitividade muito boa para os clientes. Algumas não conseguiam ser atendidas, principalmente as pequenas e médias porque não movimentavam uma grande quantia de dinheiro. Pagavam alto por um serviço bancário. É possível que elas sejam atendidas com economia nos caixas."

EMPODERAMENTO

Para Elaine Shimoda, head de Inovações do Mercado Pago, o open banking muda a forma como as pessoas se relacionam com o sistema financeiro. A grande mudança, na visão dela, é o empoderamento do consumidor em relação às informações que os bancos têm sobre ele.

Com o open banking, o cliente pode levar suas informações consigo para outras instituições, diminuindo a burocracia e a fim de conseguir mais vantagens. É o fim da papelada. "O benefício mais tangível é o empoderamento dos consumidores para negociar taxas de crédito mais baratas, aumentar limite, pagar menos tarifas", exemplifica. "É trazer a possibilidade de usar as informações como ativo e tentar pagar menos."

'MAIS FLUIDEZ'

Em linha com a natureza do negócio, o Mercado Pago aposta na iniciação de pagamentos e no encaminhamento de propostas de crédito, na fase três, para aderir ao open banking e trazer mais fluidez nas informações para os seus clientes, conta a head de Inovações da empresa.

Hoje, para pagar por uma compra no e-commerce pelo Pix, por exemplo, o usuário precisa sair do ambiente de loja virtual, pagar no aplicativo do banco usando um código maior que o de um código de barras, com o recurso copia e cola, e depois retornar à loja para finalizar a transação. Na terceira fase do open banking, a ideia é que o consumidor possa fazer tudo no mesmo ambiente. De acordo com Shimoda, isso resolve uma "dor" latente do Mercado Livre. "A gente quer que o cliente fique 99% do tempo olhando e comparando os produtos. A hora que ele clica para pagar, a gente quer que faça isso em dois segundos."(com Folhapress)

Expectativa é de desconcentração do mercado

Mariana Oreng, professora da Saint Paul Escola de Negócios, ressalta que o open banking é sustentado por dois grandes pilares: a portabilidade e a propriedade de dados. "Os dados estando na mão do consumidor e transitando livremente dentro do sistema financeiro, com as instituições financeiras não tendo mais grande poder de informações como fonte de vantagem competitiva. Pensando no sistema financeiro brasileiro, estamos falando de um ambiente de baixa concorrência, com cinco instituições detendo 80% da concessão de crédito, alta inadimplência e um dos spreads mais altos do mundo."

A expectativa é de desconcentração do mercado à medida que os dados estarão em posse das pessoas. "O open banking resolve o problema de gargalo de dados, traz mais competitividade ao setor, democratiza o acesso ao crédito e a expectativa é de queda de taxas de juros e, do ponto de vista de dentro das instituições, trazer mais eficiência e produtividade."

O open banking também aumenta a segurança das empresas, opina o CTO da Bankme, Luis Luz. "A análise de crédito melhora. Você consegue saber quem paga, quem não paga. Algo que a gente vê como muito positivo é que outras startups, fintechs, vão se beneficiar na hora de tomar decisões na análise de crédito."

DESAFIO

Uma das preocupações do open banking tem relação com o grande fluxo de dados que deverá gerar. "À medida que o cliente autoriza e compartilha os dados, a preocupação passa a ser o volume de dados trafegando e qual segurança para tratar esses dados", pontua Mariana Oreng, da Saint Paul.

Como as tecnologias para tratar esses grandes volumes de dados não são baratos, a expectativa é que as grandes empresas continuem tendo vantagens competitivas que os novos entrantes não têm. Assim, são esperadas operações de fusões e aquisições de grandes empresas comprando as empresas menores para obter escala, em uma migração ao modelo de ecossistema. Os bancos atuariam mais nos "bastidores", e as novas entrantes com o desenvolvimento de aplicativos e com o contato final com o cliente.

'Adesão dos brasileiros será alta'

Mesmo diante da restrição de compartilhar dados apenas de clientes que deram consentimento expresso, instituições e especialistas estão animados com a adesão dos correntistas. "O que estamos fazendo é explicar os benefícios que eles terão com o compartilhamento de dados", diz Felipe Miranda, gerente de Estratégia e Inovação do Sicredi União PR/SP.

"A gente é movida a benefícios. Se tangibilizar segurança e benefício, vai funcionar", opina Elaine Shimoda, head de Inovações do Mercado Pago.

Para Mariana Oreng, professora da Saint Paul Escola de Negócios, o brasileiro é curioso, e essa característica foi o que, inclusive, levou o Pix ao sucesso. "Em um ambiente onde você tem o brasileiro dependendo muito de empréstimos, financiamento, acho difícil ele não querer participar", ela completa.

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