Um dos principais pilares da globalização econômica, o livre comércio, será colocado em xeque a partir desta sexta-feira, quando começa a 4 Reunião Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Doha, Catar. Muito mais do que decidir sobre o lançamento de uma nova rodada de negociações, que promoveria uma nova onda de liberalização do comércio mundial, os 142 países membros da entidade vão fazer um teste de força.
De um lado, os países desenvolvidos, liderados por Estados Unidos e Europa, afirmam que a nova rodada é fundamental inclusive para combater o terrorismo o livre comércio, justificam, reforça a democracia e é um instrumento que faz prosperar as economias de países e indivíduos, afastando-os do terror.
Os países ricos, liderados pelos EUA, também estão em busca de alianças político-militares para enfrentar o terror. A busca por esse apoio pode tornar mais flexíveis as posições das nações industrializadas, mas também, segundo analistas, a desaceleração econômica mundial pode aumentar o viés protecionistas dessas mesmas grandes economias.
Do lado dos países emergentes, está cada vez mais consolidada a estratégia de que o apoio a uma nova rodada depende da disposição dos países desenvolvidos de ceder em suas políticas protecionistas, sobretudo as agrícolas, e em concordar com uma declaração positiva sobre o Tratado de Propriedade Intelectual (Trips) e a indústria farmacêutica. ''A grande expectativa é se os países desenvolvidos aceitarão uma proposta para reduzir, de fato, o protecionismo contra os países em desenvolvimento'', diz o professor Gilberto Dupas, do Gacint/USP.
O mesmo tipo de impasse já foi responsável pelo fracasso da reunião anterior, em Seattle, em 1999. Um segundo fracasso, admitem os norte-americanos e europeus, poderia diminuir o ímpeto pelo livre comércio.