No final de maio, quando a Copa do Mundo começou, alguém brincou dizendo que era o Brasil rumo ao Penta e o dólar rumo ao tri. Pois bem, a seleção conseguiu mesmo conquistar a quinta estrela para a camisa e a moeda americana por pouco não chegou ao assustador número quatro. Bateu em R$ 3,61 na manhã da última quarta-feira e deixou muita gente de cabelo em pé, de empresários a estudantes.
Para alívio geral da nação, a quinta e a sexta-feira foram de sucessivas baixas, com o dólar fechando a semana cotado a R$ 3. Para os mais entendidos, o preço real da moeda americana não deveria ultrapassar os R$ 2,70. Todo o resto até ultrapassar os três reais é pura especulação. Mas para a nação em geral, especulação ou não, a questão é que o tal dólar, ''nossa, hein!'', passou dos três reais.
Nas rodas de amigos, nas conversas informais ou formais, sai a comemoração pentacampeã (não totalmente, claro) e entra o assombro ''tri-doleiro''. Disseram que o pão nosso francês de cada dia estaria entre os primeiros a ver o preço subir, por conta do trigo importado. Não aumentou, não abaixou e continua quentinho a cada fornada, que continua saindo regularmente.
No caso dos negócios, a figura muda. Com o dólar em disparada no início da semana passada, o ritmo das transações comerciais caminhou lentamente. ''Está tudo parado'', explica o empresário Ronaldo Chinezzi, do Buffet Planalto. As compras de ingredientes como os queijos Gouda e Camembert e outras especiarias e temperos foram adiadas esta semana porque as importadoras paulistas com as quais o empresário trabalha estavam sem saber como e quanto cobrar.
No quesito shows, o dólar nas alturas também conseguiu derrubar muitas apresentações internacionais que aconteceriam durante todo o segundo semestre. Deve causar desfalques em eventos badalados como, por exemplo, o Free Jazz Festival. Em Londrina, a primeira baixa foi o show da dupla norte-americana Damon & Naomi, que viria em setembro.
De acordo com o produtor André Guedes, da Madame X Produções, ''a curto prazo ninguém mais fecha contratos para shows em dólar'', diz. Para sorte da produtora e do público, outras duas apresentações estrangeiras vão acontecer na cidade no final de agosto. ''Os contratos para esses dois shows já estavam em reais'', conta Guedes. Para o produtor, ''esse dólar ainda vai baixar para R$ 2,90'', acredita.
Mas nos patamares em que está, a moeda americana não inspira vôos mais altos. Literalmente. Viajar virou assunto quase proibido já que os experts em finanças (e também os mais sensatos) indicam uma pausa nos planos. As exceções acabam sendo os planos de estudos e estágios no exterior, que não têm como ser adiados.
''O volume de procura não diminuiu, o que acontece que é que as pessoas estão postergando as datas para depois das eleições'', afirma a empresária Gabriela Costa, da agência Central de Intercâmbio. De acordo com Gabriela, para quem está pensando em curso fora do País, a dica é investir mesmo em dólares. ''O lado bom, é que os preços das passagens aéreas diminuiram em dólar'', avisa Gabriela para quem já estava pensando em desistir.