Gecy Belmonte
Agência Estado
O Secretário de Comercialização do Ministério da Agricultura, Paulo Cesar Samico, disse que o produto que mais pesou nas importações do setor de agronegócios em 1999 foi o trigo. Do total de US$ 6,362 bilhões importados pelo País em 1999, US$ 832 milhões foram gastos com 6,8 milhões de toneladas de trigo, 2% a mais que em 1998. A Argentina foi responsável por 95% das importações de trigo feitas pelo Brasil, ficando o Canadá e os Estados Unidos responsáveis por volumes menores.
Em segundo lugar, vieram as importações de algodão, onde foram dispendidos US$ 357,454 milhões com a compra de 278,3 mil t do produto no exterior. As importações de milho também tiveram destaque, com a aquisição de 822,147 mil t, ou o equivalente a US$ 88,578 milhões. Esta quantia, contudo, foi quase 50% menor que as aquisições feitas em 1998, uma vez que os grandes consumidores do produto (avicultores e suinocultores) desistiram de importar, provavelmente, pela elevação do dólar. Em função da queda das importações de produtos agrícolas básicos o governo teve que vender grande parte de seus estoques oficiais para abastecer o mercado interno, como aconteceu com o milho. ‘‘Foi um dos períodos em que o governo mais usou os estoques oficiais’’, observou Samico.
Para este ano, a estimativa do Ministério da Agricultura é de que haja um crescimento de 5% nas importações em relação a 1999. Este aumento será causado especialmente se o crescimento econômico do País atingir os 4% que estão sendo previstos, segundo Samico. Além de trabalhar para aumentar as exportações, o governo brasileiro deverá aperfeiçoar os mecanismos de controle das importações, especialmente na área de controle fitossanitário.
‘‘Precisamos melhorar nosso sistema de defesa comercial, contestar os subsídios externos e, principalmente ver os mecanismos que estão sendo usados lá fora, para aplicarmos um regime de isonomia’’, afirma. Entre estes mecanismos, ele diz que a concentração da entrada de mercadorias importadas em alguns postos de fronteira, para facilitar a fiscalização a exemplo do que fazem os Estados Unidos, poderia ser uma boa idéia.
Samico também alerta para os prejuízos causados pelas barreiras externas ao produto brasileiro. Como exemplo no setor agrícola, ele cita a empresa carioca Getec, produtora de dois derivados de cana-de-açúcar: Sorbitol (usado na produção de creme dental) e de manitol (subproduto usado pela indústria farmacêutica na fabricação de remédios oculares). A Getec, unica fabricante dessas substancias no Brasil, está praticamente quebrando porque a União Européia impôs uma sobretaxa de 100% sobre as suas exportações, coforme Samico. Além disso, a União Europeia, que produz a mesmas substâncias, só que derivadas do açúcar de beterraba, está exportando o produto para o Brasil por US$ 300 a tonelada, enquanto no mercado europeu este preço é de US$ 600 a tonelada. ‘‘Este é um dos efeitos perversos da barreira tarifária aliada ao subsídio governamental que precisa ser combatido’’, alerta.