A aquisição do carro zero, sonho de consumo de milhões de brasileiros, ficou mais distante nos últimos anos para grande parcela da população. Seja por questões financeiras ou comportamentais, as estatísticas mostram uma retração na quantidade de carros novos circulando pelas ruas do Paraná.

Um a cada quatro veículos da frota paranaense tinha até 5 anos de fabricação em 2016. Já no ano passado, este percentual encolheu de 26% para 16%, proporção de um a cada seis veículos. As estatísticas do Detran (Departamento de Trânsito do Paraná) mostram um envelhecimento acelerado da frota nos últimos cinco anos.

Os dados do órgão estadual revelam também que praticamente metade dos veículos que circulavam em 2016 tinha até 10 anos de fabricação. No ano passado, este percentual caiu de 49% para 37%, ou seja, a fatia dos automotores com mais de uma década de uso saltou de 51% para 63%.

Já a proporção de veículos com mais de 20 anos de fabricação cresceu de 25% para 31%, o que significa que quase um terço da frota do Estado é isenta de pagamento de IPVA (Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores). A última faixa, de veículos com mais de 30 anos de uso, saltou de 12% para 15% do total.

Em números absolutos, a frota paranaense passou de 6.849.066 para 7.900.866 veículos entre 2016 e 2021. No mesmo período, a quantidade de carros com até 5 anos de uso caiu de 1.783.865 para 1.248.526, redução de 30%

A mudança no perfil da frota impõe desafios para os gestores públicos nas áreas de infraestrutura, trânsito e mobilidade, arrecadação, e também causa transformações econômicas no setor de venda de veículos.

O major reformado da PM Sérgio Dalbem, bacharel em Direito e especialista em Gestão e Planejamento de Trânsito, analisa o envelhecimento da frota por diversos aspectos.

Segundo ele, há o fato da crise econômica que se tornou mais aguda após a pandemia da Covid-19, mas ele também elenca questões culturais, como o maior uso de locomoção por aplicativos de transporte e também a maior tecnologia e qualidade dos veículos atuais, que apresentam maior durabilidade.

O preço do carro popular é um dos fatores que pesam nesta conta. Com a exigência de itens obrigatórios de segurança, os modelos mais básicos saíram de cena. Atualmente, os carros mais baratos do mercado custam na faixa de R$ 65 mil.

Apesar desse salto nos valores, Dalbem é categórico em exaltar os ganhos com as novas tecnologias. Segundo ele, o país está despertando para a segurança do ser humano. “Ainda engatinhamos na valorização do ser humano pela incorporação de itens obrigatórios que evitam choques e atropelamentos e protegem o condutor. A vida sempre é prioridade”, defende.

O especialista em questões viárias e ex-comandante de Trânsito do 5º Batalhão da Polícia Militar acredita que após uma fase de transição, os valores dos automóveis devam se adequar à realidade econômica dos brasileiros.

O envelhecimento da frota também traz preocupações ambientais e até de maior risco de acidentes. Para essas duas preocupações, Dalbem frisa que tudo passa pela manutenção constante do veículo. “O envelhecimento da frota contribui para aumentar a carga de fumaça na atmosfera. Temos que acompanhar os próximos anos e torcer para que o Brasil volte a ter uma melhoria na economia e o trânsito não fique de fora desse cenário”, apontou e já sinalizou para o surgimento dos veículos elétricos, que pode mudar esse panorama.

Imagem ilustrativa da imagem Número de veículos novos no Paraná cai 30% em cinco anos
| Foto: Roberto Custódio

No entanto, Dalbem avalia que o envelhecimento da frota hoje traz menos impacto do que nas décadas passadas. “Acompanhei uma frota muito antiga, com poucas marcas de automóveis circulando e hoje há várias outras marcas que entraram no mercado e isso fez com que melhorasse muito a evolução mecânica e tecnológica e, mesmo com o envelhecimento da frota, a qualidade dos veículos ainda é muito boa”, pondera.

A isenção tributária de quase um terço da frota também chama a atenção. “Vai demorar um pouco para ter esse reflexo mais substancial, mas de qualquer forma atinge a manutenção de rodovias e o trânsito urbano. Tudo isso é caro, inclusive a manutenção da manta asfáltica.”

Idade da frota no Paraná (2016 - 2021)

0 a 5 anos 26% para 16%-10%

6 a 10 anos 23% para 21%-2%

11 a 20 anos26% para 32%6%

21 a 30 anos13% para 16%3%

acima 30 anos12% para 15%3%

Mercado de seminovos começa a se estabilizar e preços baixam

Durante a pandemia de Covid-19, o mercado de veículos novos teve uma forte retração. A crise sanitária afetou a importação de peças e as montadoras tiveram de reduzir a produção. Com essa retração, que reduziu drasticamente a oferta de modelos nas concessionárias, os consumidores partiram para o setor de seminovos.

A grande procura por automóveis de segunda mão, nos últimos dois anos, fez diminuir os estoques nas revendedoras especializadas, que comercializaram tudo o que tinham. Alguns modelos de seminovos muito procurados, desapareceram do mercado. Agora, com o retorno do volume de produção nas montadoras, os seminovos e usados voltaram a ficar disponíveis.

"A venda dos zero quilômetro está aquecida. Houve falta de componentes eletrônicos, mas agora deu uma estabilizada na reposição de carro zero. E as vendas de seminovos estão boas também", comentou Maruan Caldarelli, proprietário de uma concessionária de carros novos, uma de usados e que se prepara para abrir uma terceira unidade em Londrina.

Segundo o empresário, agosto foi o melhor mês do ano para o mercado de seminovos , com alta de cerca de 15% em relação a janeiro de 2022. "E setembro está sendo um mês muito bom também. Estamos conseguindo comprar os seminovos, já deu uma normalizada na demanda porque está sobrando zero na praça."

Em relação aos preços, que dispararam em razão da escassez de oferta e do aumento dos preços dos carros novos, a tendência agora é de estabilidade. "Alguns modelos até andaram baixando um pouco a tabela Fipe", afirmou Caldarelli.

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