Novo 'rei da soja' aposta em hidrovias
PUBLICAÇÃO
domingo, 02 de janeiro de 2000
Valmir Denardin
Enviado a São
Miguel do Iguaçu
Depois de roubar de Olacyr de Moraes o título de maior produtor brasileiro de soja, o Grupo André Maggi, nascido em São Miguel do Iguaçu, no Extremo-Oeste do Paraná, e com atuação em dez Estados, parte agora para investimentos no setor de transporte fluvial. Com uma rota em operação desde 1997, o grupo planeja a implantação de mais três hidrovias nas regiões Norte e Centro-Oeste do País.
O interesse da holding pelo transporte fluvial surgiu a partir da consolidação de um meganúcleo produtor de soja no Oeste do Mato Grosso, iniciado no final dos anos 70. Menos de quinze anos depois, os Maggi já cultivavam 50 mil hectares com a leguminosa numa região centralizada pelo município de Sapezal, de onde tiram hoje boa parte de sua produção anual de 2 milhões de sacas.
Como a região está distante do mar, é mal servida por rodovias e não possui estradas de ferro, a saída encontrada pelo gruo foi lançar mão de um recurso abundandante: os rios. As grandes esmagadoras de soja estão no Sul. Se o produto viajasse mais de mil quilômetros, se tornaria inviável, diz Luiz Antônio Pagot, superintendente da Hermasa Navegação da Amazônia S/A, empresa criada pelo Grupo André Maggi para atuar nesse segmento.
A Hermasa é uma empresa de capital misto. É formada pelo Grupo Maggi que detém o controle acionário, com 57% das ações , o governo do Amazonas (38%) e a Petrobras (5%). O primeiro projeto da empresa foi a implantação da hidrovia Madeira-Amazonas, que já consumiu um investimento de US$ 70 milhões (cerca de R$ 125 milhões).
A hidrovia começou a operar em 1997 e já é um bem sucedido sistema de transporte intermodal, unindo os meios rodoviário, fluvial e marítimo. Transportada em caminhões, parte da produção agrícola dos Estados de Mato Grosso e Rondônia é levada por rodovias até o terminal de Porto Velho, capital de Rondônia.
Dali, os carregamentos embarcam em chatas e seguem pelos rios Madeira e Amazonas até o Porto de Belém (PA), já no Oceano Atlântico, de onde seguem para os mercados internacionais, principalmente Estados Unidos e Europa. Em Itacoatiara (AM), no Rio Amazonas, há um segundo terminal, de onde é embarcada parte da produção do Estado de Roraima.
A hidrovia transporta principalmente grãos e insumos agrícolas e sua movimentação não pára de crescer. Contrariando uma estimativa inicial de 300 mil toneladas por ano, a Madeira-Amazonas transportou 370 mil toneladas já no ano de inauguração. Em 98, foram 570 mil toneladas. Neste ano, a previsão é chegar a 710 mil toneladas. A marca de 1 milhão de toneladas deverá ser obtida em 2001.
O supreendente crescimento do volume transportado já leva a Hermasa a estudar a implantação de um terceiro terminal no Rio Amazonas, em Santarém (PA). Os dois já existentes funcionam a todo vapor.
O terminal de Porto Velho tem capacidade para armazenar 45 mil toneladas de grãos e um sistema de transbordo que permite o embarque de 750 toneladas por hora.
Em Itacoatiara, o sistema de transbordo e o armazém graneleiro têm o dobro dessa capacidade. Enquanto trafegam pelos dois rios, os comboios de chatas barcas que transportam até 18 mil toneladas por viagem são monitorados através de satélite.
Segundo Pagot, a hidrovia está reduzindo em 30% os custos da exportação, em relação ao transporte rodoviário até os portos marítimos. Essa hidrovia está alavancando a produção nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, afirma o superintendente da Hermasa.
O sucesso do primeiro projeto está levando a empresa a planejar a implantação de mais três hidrovias nessas duas regiões, para atender a crescente demanda pelo transporte fluvial.
Esses novos corredores de exportação envolvem os rios Araguaia-Tocantins (entre os Estados de Mato Grosso, Goiás e Pará), Telles Pires-Tapajós (Mato Grosso e Pará) e Rio Negro-Rio Branco (Amazonas e Roraima). Os investimento e as datas para o início desses projetos ainda não estão definidos pela empresa.
O GRUPO ANDRÉ MAGGI
- Presidente: André Antônio Maggi, 72 anos
- Ano de fundação: 1977
- Negócios: cultura de soja; desenvolvimento, produção e venda de sementes; navegação fluvial; agropecuária; venda de autopeças e construção civil
- Estados onde atua: Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rondônia, Acre, Amazonas, Pará, Amapá e Roraima
- Patrimônio: não divulgado
- Faturamento: R$ 50 milhões/ano
- Área com soja: 70 mil hectares
- Número de fazendas: 6 (5 no Mato Grosso e uma no Paraná)
- Produção: 2 milhões de sacas/ano
- Transporte fluvial: 710 mil toneladas (99)Grupo André Maggi, que já implantou corredor pelos rios Madeira e Amazonas, planeja outras 3 linhas no Norte e Centro-Oeste
Ney de SouzaDIVERSIFICANDOAndré Maggi, o novo Rei da Soja, em armazém de sua propriedade em São Miguel do Iguaçu: investimentos no transporte fluvial
