No trabalho do futuro, adaptação é a palavra-chave
O emprego diante do impacto das novas tecnologias foi o foco da 21ª edição do Encontros Folha, realizado em Londrina
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sábado, 07 de setembro de 2024
O emprego diante do impacto das novas tecnologias foi o foco da 21ª edição do Encontros Folha, realizado em Londrina
Aline Machado Parodi e Janaína Ávila/Especial para a FOLHA
A tecnologia impulsionou o surgimento de áreas impensáveis até alguns anos atrás. A Inteligência Artificial, a biotecnologia e a Internet das Coisas são alguns exemplos das criações advindas na esteira das inovações tecnológicas. Se por um lado essas ferramentas revolucionam o mundo corporativo, dispensando os profissionais de realizar tarefas repetitivas do dia a dia e aumentando a produtividade, elas também levantam questionamentos sobre até que ponto a tecnologia poderá substituir o trabalho humano.
Na 21ª edição do Encontros Folha, realizada na última terça-feira (3), no auditório do Aurora Shopping, em Londrina, três especialistas expuseram seus pontos de vista a respeito da “Inovação e Tecnologia: Os Novos Marcos Para a Geração de Empregos”, tema escolhido para o evento. O reitor da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), Miguel Sanches Neto, o gerente de Planejamento da Integrada Cooperativa Agroindustrial, André Galletti Júnior, e a coordenadora do Instituto Senai de Tecnologia da Informação e Comunicação e HUB de Inteligência Artificial, Silvana Mali Kumura, também participaram de um debate sobre os desafios decorrentes da evolução tecnológica.
A painelista Silvana Mali Kumura, coordenadora no Instituto Senai de Tecnologia da Informação e Comunicação e HUB de Inteligência Artificial, falou sobre “Inovações e Tecnologia: Novos marcos para a geração de emprego.” Em sua apresentação, ela procurou mostrar “como podemos construir uma jornada de oportunidade geradas pelas transformações tecnológicas”.
DESAFIOS DE TRANSFORMAÇÃO
Para Kumura, conseguir entender e superar os desafios de transformação que estamos vivendo, passa por entender as forças tecnológicas que tem mudado e moldado o nosso futuro. “A palavra do futuro é adaptação. Adaptação do mercado de trabalho, do profissional, da educação. Precisamos pensar em formas adaptativas de educação. As empresas terão que ser flexíveis na busca por sustentabilidade, competitividade e o profissional da mesma forma.
Sobre a preparação de profissionais para o mercado de trabalho, a coordenadora do HUB de Inteligência Artificial afirma que as universidades fazem o seu melhor, mas é preciso um debate mais amplo, é preciso repensar os métodos, as estrutura e as formas de educar.
Olhando para as organizações, Kumura lembra que a tecnologia não é um fim, mas um meio para se chegar a algum benefício. “Sempre que se fala em tecnologia é importante lembrar das seguintes premissas: Ela (tecnologia) precisa fazer sentido, se não gera retorno preciso pensar se vou trabalhar com ela. Segunda, preciso entender que não se faz inovação sem colaborar com parceiros, clientes, fornecedores, concorrentes. Considerar a velocidade da mudança. E alinhamento com propósito, ou seja, essa tecnologia precisa reverberar na cultura e que esteja conectada com as estratégias organizacionais”, disse.
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``O INEVITÁVEL´´
CULTURA DE INOVAÇÃO
Em cinco anos, o que era apenas um colaborador equilibrando a função de desenvolvedor de soluções em Inteligência Artificial, se transformou em um time que trabalha em conjunto com a área de negócios.
“Os colaboradores recebem de forma positiva as novas tecnologias e competências, pois a cultura da Integrada está ligada à inovação. Mesmo com diferentes gerações no time de colaboradores, a cultura da empresa facilita que não haja um choque com novas tecnologia”, afirmou o gerente de planejamento.
ENCONTRAR SOLUÇÕES
Ele disse que a empresa “estimula constantemente a capacidade de criação, de encontrar soluções frente a uma adversidade, da busca por soluções por meio da IA”.
A cooperativa atua com duas perspectivas: uma da porteira para fora, onde procura a eficiência em todas as áreas operacionais, e, a segunda, da porteira para dentro buscando melhores resultados em produtividade e rentabilidade.
O ponto de partida foi a participação em 2019 no Hub de IA do Senai. “Na época, o objetivo era internalizar a cultura da ferramenta de IA na empresa, começou com um colaborador e hoje conta com um time de quatro pessoas trabalhando com soluções de inteligência, seja no seu desenvolvimento, ou na sustentação dessas soluções, atuando em todas as nossas 15 regionais e gerando mais de 600 giga de imagens de satélites para identificação e monitoramento de áreas que atuamos”, contou Galletti.
CENTRO DE INTELIGÊNCIA
Segundo ele, dentro da matriz da empresa há um Centro de Inteligência Agronômica, que realiza o monitoramento das áreas agricultáveis por imagens de satélites. O trabalho de identificação de uma área, que às vezes demorava de um ou dois dias, agora é feito em 20 minutos. “Isso nos permite ganhar escala na solução e conseguimos trazer previsibilidade”, disse o gerente de planejamento.
Os resultados da área de AI estão ligados à busca por novos desafios diários. “Lançamos o desafio para o time e ele começa a desenvolver. Mas não fica só na área de TI, mas na área de negócios também.
Segundo Galletti, o time não para. A cada pergunta solucionada uma nova é lançada para estimular o desenvolvimento de novas ferramentas como, por exemplo, um modelo de IA para avaliar a saúde dos talhões, previsão de produtividade deste talhão, previsão de recebimento nas unidades.
“Agora temos o nosso cooperado muito interessado, que desde o início do plantio consegue monitorar a previsão de produtividade e quais as formas de manejo necessárias para garantir aquela produtividade. Começamos a trazer o cooperado para o jogo”, comentou o gerente.
O time também vem desenvolvendo soluções na área administrativa como a identificação de boletos fraudados. Esse time, que se capacitou neste cinco anos, desenvolveu uma solução que foi validada para identificar os boletos fraudados”, disse.
A Integrada também aperfeiçoou a IRIS (Integrada Relacionamento Inteligente de Serviços) que nasceu em 2020 como Chabot clássico e, agora, vem ganhando autonomia para apoiar o trabalho diário dos colaboradores e corpo técnico.
Para ele, a IA dentro da cooperativa é um caminho sem volta, mas que encara grandes desafios como a baixa tecnificação dos produtores. Mais de 70% dos cooperados da Integrada são produtores de pequeno e médio porte, que tem uma barreira de acesso à tecnologia, seja de investimentos financeiros ou culturais. “Como levar isso (tecnologia) para eles é um estímulo para o nosso time. Estamos sempre nos perguntando se conseguimos dar mais um passo”, afirmou.
Outro desafio é encontrar mão de obra qualificada. A Integrada realiza programa de trainee para novos colaboradores e cursos de qualificação para contratados. Na opinião de Galletti, ainda há um gap entre a universidade e o mercado de trabalho. “É preciso trazer o aluno para a experiência do mercado de trabalho, por isso os programas de trainee são importantes.”
UM MERCADO EM EBULIÇÃO
Entender as oportunidades da tecnologia ou geradas por inovação tecnológica e como elas podem ser aproveitadas pelo mercado será o grande diferencial para novos profissionais. As organizações e empresas estão lidando diariamente com um grande volume de inovações nos mais diversos campos e o profissional que souber captar as necessidades do mercado, estará um passo à frente.
Para o mediador do 21º Encontros FOLHA, Marco Antonio Ferreira, coordenador do MBA em Gerenciamento de Projetos da UTFPR (Universidade Federal Tecnológica do Paraná), o maior desafio é encarar a mudança. “O ser humano gosta de estabilidade, de um ambiente conhecido. O desconhecido gera o desconforto e a adaptação, passar a gostar dessas inovações tecnológicas, de fazer algo novo, diferente pode ser muito desafiador. No entanto, a tecnologia não é um desafio em si. Temos programadores e empresas que fornecem soluções. A grande provocação é talvez ter que deixar aquilo que deu certo durante 10, 15 anos e não está funcionando mais”, diz.
De acordo o professor, a pandemia obrigou as pessoas a se adaptarem a novas realidades, antecipando, de certa forma, o avanço da tecnologia e os impactos dela na sociedade. “É preciso sempre buscar algo novo. Na pandemia tivemos que nos adaptar a uma série de novas realidades, só que ali, fomos forçados; não tinha uma opção. E hoje as pessoas ou empresas, têm opção”, comenta.
Nesse sentido, Ferreira também destaca o papel importante das instituições de ensino. “Temos que estar antenados e preparar o aluno para o mercado de trabalho, para ele continuar aprendendo o tempo todo", afirma. "É preciso sempre se adaptar às inovações, não recusar e entender as oportunidades que essas tecnologias oferecem também para nos adaptarmos a elas. Acredito que o papel da Universidade é um pouco esse”.
Para Ferreira, a inovação não passa necessariamente somente por tecnologia, ela pode ser uma inovação de processos e que acaba trazendo resultados visíveis. “Os impactos da inteligência artificial já estão aí. A IA pode ser usada para conseguir otimizar o estudo e temos mesmo que utilizar todo esse ferramental e a transpor, não só para dentro da sala de aula como também para o universo de pesquisa", afirma.
Ainda sobre IA, André Galletti Júnior, gerente de planejamento da Integrada Cooperativa Agroindustrial, a Inteligência Artificial é um caminho sem volta e os profissionais e organizações precisam saber como usá-la em seu favor.
Os futuros profissionais de TI encontrarão lugar em uma empresa que já tem processos estruturados de ciências de dados ou trabalhar no desenvolvimento de processos. “Temos muitos desafios de cibersegurança, privacidade, governança de dados. O mercado nunca esteve tão bom para profissionais desta área. O conhecimento está aí para ser absorvido e as empresas precisam desse conhecimento. É um mercado em ebulição.
EVENTO CHEGA AOS 10 ANOS
Idealizado para discutir o desenvolvimento do município sob múltiplas perspectivas em um período em que a cidade, a despeito de seu enorme potencial econômico, atravessava um período de estagnação, o Encontros Folha chega ao seu décimo ano como um evento que tem o objetivo fundamental de se antecipar na proposição de soluções para gargalos que demandam um olhar mais cuidadoso ao município por parte das lideranças sociais e políticas.
Dada a importância e relevância adquiridas pelo Encontros Folha desde 2014, o superintendente do Grupo Folha de Londrina, Nicolás Mejía, o define não apenas como um evento, mas como um “movimento pró-desenvolvimento de Londrina e região” abraçado por instituições e empresas locais. “É mais do que um evento, é todo um conceito. Através das pautas que temos nos diferentes veículos, conseguimos definir quais são os temas relevantes, os temas prioritários para o desenvolvimento da cidade. Assim, definimos cada um dos temas do Encontros Folha, com pautas específicas que foram notícia em nossos veículos. Com isso, a gente constrói um evento que tenha a relevância necessária para o momento no qual está sendo realizado”, destacou.
“Nos últimos anos, a rápida evolução da ferramenta de inovação e tecnologia tem transformado significativamente o mercado de trabalho. Essas transformações, por um lado, oferecem um vasto leque de novas oportunidades, a criação de novos empregos, mas por outro lado também oferecem diferentes desafios que precisam ser enfrentados tanto pelos trabalhadores quanto pelos empregadores”, salientou Mejía. (Com Simoni Saris/Grupo Folha)