Nas duas últimas décadas, o Aeroporto de Londrina - que completou 69 anos em abril - tem sido cuidado pelos olhos atentos e as mãos firmes de Neude Rodrigues da Luz, 66. Em 2004, quando tentava se adaptar à vida urbana, Rodrigues não conseguia trabalhar “em lugar fechado”, como fábricas. Nascido e criado na zona rural de São Jerônimo da Serra (Norte Pioneiro), ele estava prestes a voltar para a “roça” quando soube, por meio de um amigo de infância, de uma vaga de trabalho no aeroporto.

“Tinha um rapaz que trabalhava aqui nas áreas verdes e não achava parceiro. Fiz a entrevista e me pediram pra começar dois dias depois”, relembra. Mas Rodrigues nunca tinha manejado uma roçadeira. Seu trabalho na fazenda tinha sido sempre com gado. E trabalhar em uma área altamente regulada como o aeroporto trazia desafios extras.

“O rádio é mais importante que a roçadeira. Posso esquecer dela, mas nunca do rádio. É uma responsabilidade muito grande”, explica. Rodrigues refere-se ao rádio comunicador, utilizado por grande parte dos funcionários do aeroporto para informar a localização, pedir e receber autorização para acesso em áreas restritas e informar ocorrências.

Rodrigues é hoje o prestador de serviços mais antigo em atividade no Aeroporto de Londrina, operado pela CCR Aeroportos desde 2022. Passou por diversas empresas terceirizadas, vivenciou o processo de concessão, acompanhou ao menos duas grandes obras estruturantes: a revitalização da cabeceira, em 2014, e as melhorias entregues pela CCR no início deste ano, quando houve aumento de 40% na área do terminal e extensão de 150 metros da pista de pousos e decolagens.

Ele reconhece a importância do trabalho que realiza e diz que a evolução do aeroporto salta aos olhos. “Quando eu entrei a área verde era muito suja, parecia que estava abandonada. Hoje está muito bonito de ver. Quando olho parece que estou trabalhando num jardim”, comemora.

Um roçador incomum

Fica fácil identificar Rodrigues: rádio comunicador no ombro esquerdo do macacão, crachá costurado no bolso, para não correr o risco de cair, um chapéu sombreiro e o tradicional bigode. Na maior parte do tempo está operando sua roçadeira costal, carinhosamente chamada de “Estela”, uma brincadeira com a marca do equipamento.

Atualmente ele compõe a equipe de manutenção de áreas verdes com mais quatro pessoas, sendo outros três do manejo de roçadeira costal, como ele, e um tratorista. Trabalham intensamente pela manhã e pisam no freio à tarde, para se proteger do sol forte.

No período em que o aeroporto era administrado pela Infraero, Rodrigues teve muitos aprendizados. Durante sua fala saltam termos incomuns na roçagem, mas comuns na atividade aeroportuária, como “cabeceira da pista”, “torre de controle”, “lado terra e lado ar”.

Quando a CCR Aeroportos assumiu a administração do terminal, após o leilão público de 2021, Rodrigues sentiu receio de ter que “aprender tudo de novo”. “Me enganei, porque antes era muito mais complicado de trabalhar, muita gente mandando. O serviço continuou o mesmo, de roçagem e poda, mas o processo modificou muito. A gente pega a ordem de serviço, tem a localização certinho de onde vai trabalhar. Pra mim ficou muito melhor”, afirma.

A estrutura bem definida de cargos e titulares dentro da empresa facilitou os processos, na visão de Rodrigues, que consegue nomear todos, do gerente até o encarregado. Ele conta orgulhoso que foi um dos responsáveis por direcionar a equipe da CCR após a concessão.

“Perguntaram para o encarregado antigo em quem eles podiam se apegar aqui e ele indicou o ‘bigode’. Eu ficava o dia todo no rádio com eles, para saberem onde a gente estava, onde podia entrar, onde era área restrita. Porque mesmo quem já tinha trabalhado em aeroporto, cada terminal é de um jeito. Desde o começo gostei muito de trabalhar com eles”.

No dia 4 de novembro de 2024, quando completou 20 anos de aeroporto, Rodrigues fez questão de lembrar os colegas. “A tarde a gente comeu um salgadinho e tomou uma coca”, conta, sorrindo.

Momentos marcantes

Quando perguntado sobre momentos marcantes vividos no aeroporto, o primeiro que vem à cabeça de Rodrigues não é feliz. “Foi um acidente com um aviãozinho pequeno, tava muita cerração, o piloto errou a pista e entrou na mata. Era oito da manhã, eu estava roçando”. Na memória de Rodrigues, todos correram para prestar socorro aos dois ocupantes, mas o avião e os corpos estavam em chamas.

Ele refere-se à queda do avião monomotor modelo Bonanza A36, prefixo PR-JCR, que bateu em um morro e caiu em uma propriedade rural na região do Limoeiro, a poucos quilômetros do aeroporto, em janeiro de 2007.

“Você ver o avião só a lata, saindo labaredas de fogo, entra na memória da gente. Ficou ‘uns par de dias’ o aeroporto triste por causa disso”.

A segunda lembrança que vem à mente do operador de roçadeira o deixa orgulhoso. É de quando ele e os colegas ajudaram a carregar um avião cargueiro. “Tinha um equipamento grande que a Infraero ia levar para outro aeroporto. A gente calçou as paredes do avião e as empilhadeiras levavam as peças para dentro. Eu laçando boi na fazenda, quando ia pensar que veria uma empilhadeira virar dentro de um avião!”, celebra.

História

O Aeroporto de Londrina foi inaugurado em 8 de abril de 1956, mas sua história teve início em 1949, quando foi erguida uma casa de madeira no local onde hoje funciona o atual terminal de passageiros. Em 2022, a CCR Aeroportos assumiu a administração do terminal, implementando quase R$ 200 milhões em obras de ampliação e melhorias.(Com assessoria de imprensa)

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