O número de famílias londrinenses com algum tipo de comprometimento de renda subiu de 62,3% para 69,5% entre o primeiro e o segundo trimestre de 2022. Enquanto isso, o percentual de famílias com contas em atraso caiu de 26,3% para 25,4% no período. Os dados foram levantados pela PEIC Perfil de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) Londrina, computados pelo NuPEA (Núcleo de Pesquisas Econômicas Aplicadas), da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná).

Um dos coordenadores do Núcleo, o economista Marcos Rambalducci destacou os dois indicadores como positivos, a depender do contexto em que são observados. Ao substituir o termo endividamento por comprometimento de renda, apontou ele, o que se tem é um percentual de pessoas confiantes em relação ao seu rendimento futuro e que, dessa forma, se sentem capazes de assumir compromissos financeiros por um período mais prolongado. “O oposto, visto em geral como positivo, pode significar que as pessoas estão perdendo emprego e renda e não se sentem suficientemente confiantes para tomar crédito.”

No momento em que a economia começa a se recuperar, com o crescimento do número de empregos formais, ressaltou Rambalducci, é possível deduzir que o consumidor está mais confiante em relação ao seu futuro próximo e se sente mais confortável em comprar a prazo. “Ter a renda comprometida não é um mal, em si. O problema é quando o consumidor não consegue honrar estes compromissos assumidos. E o que vemos pelos dados da pesquisa é que as vendas a prazo aumentaram e a inadimplência, mostrada pela quantidade de pessoas com dívidas em atraso, recuou”, explicou o economista. Sob estes dois aspectos, ele avalia como positivos os números apurados na pesquisa.

Segundo o estudo, entre os consumidores com algum comprometimento de renda, 8,2% declararam que não terão como quitar seus débitos, sequer parcialmente. Este indicador diminuiu na comparação com a pesquisa passada, que avaliou o primeiro trimestre do ano, quando o índice estava em 15,1%. Este contingente corresponde a 32,6% dos consumidores que já estão inadimplentes, um dos maiores índices já computados pela PEIC Londrina desde o quarto trimestre de 2016. “Este é um dado preocupante. Sempre lembrando que a informação mais relevante no conceito de inadimplência é a evolução de consumidores que não conseguirão pagar nem em parte suas dívidas contraídas. E, neste caso, o número está em declínio”, avaliou Rambalducci.

O economista salientou ainda que a base de comparação com o primeiro trimestre sempre é “delicada” em razão de o início do ano ser um período em que as pessoas têm mais chances de não conseguir quitar suas dívidas em função do acúmulo de prestações feitas nas compras de final de ano somadas ao IPTU e IPVA, às mensalidades escolares e outros compromissos sazonais.

Mesmo que os indicadores sejam analisados por um viés positivo, um dos objetivos da PEIC é municiar com informações os empresários e varejistas do setor de bens, serviços e turismo que utilizam o crédito como ferramenta estratégica, sobre o nível de comprometimento da renda do consumidor com dívidas e contas em atraso e sua percepção em relação à capacidade de pagamento desses débitos. “Claro que o varejista precisa olhá-los sob outro aspecto. Não é muito adequado fazer promoções, especialmente de produtos de maior valor, quando o consumidor já tem sua renda comprometida. Ele pode estar gastando em uma campanha que não trará o retorno desejado”, orientou o economista.

Entre os entrevistados, 69,5% afirmaram possuir algum comprometimento de renda, percentual acima da média de 63,3% para o mercado londrinense. Quase metade dos endividados, 49,8%, está em atraso com o pagamento da fatura do cartão de crédito. Na sequência, ficaram para trás o pagamento do financiamento da casa (19,8%) e a prestação do carro (15,9%).

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FAIXA DE RENDA

Entre as famílias que contraíram dívidas, 35,7% consideram-se medianamente endividadas, 57,5% declaram estar muito endividadas e apenas 5,3% estão pouco endividadas. Nas famílias com renda abaixo de dez salários mínimos, o grupo dos muito endividados é maior, totalizando 60,6%. Quando a renda familiar ultrapassa essa marca, o nível de endividamento cai consideravelmente, com uma parcela de 26,3% entre os muito endividados.

O percentual de pouco endividados nas famílias com renda inferior a dez salários mínimos é de apenas 2,1% contra 36,8% naquelas cuja renda ultrapassa a marca dos dez salários mínimos. O grupo dos mais ou menos endividados é semelhante entre as duas faixas de renda, sendo 35,6% para abaixo de dez salários mínimos e 36,8% para quem ganha acima desse valor.

Das famílias que contraíram alguma dívida, 7,2% acreditam que irão liquidá-la em até três meses enquanto 55,1% levarão mais de um ano para saldá-las. As famílias com renda acima de dez salários mínimos acumulam mais compromissos financeiros de prazo superior a um ano do que as famílias com renda mais baixa.

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