Fortemente impactado pela pandemia de Covid-19, o setor cervejeiro ainda tenta se recuperar das perdas sofridas em decorrência da crise sanitária. Até 2019, o setor vinha em uma curva de crescimento, com aumento da produção e do consumo e abertura de novas cervejarias, mas as medidas de isolamento social frearam esse avanço e fizeram o mercado retrair. No Paraná, em 2020, primeiro ano da pandemia, a produção e o faturamento dessas indústrias caíram 80%.

A partir de 2022, a atividade iniciou a fase de retomada, mas além da mudança de comportamento dos consumidores, questões macroeconômicas dificultam o processo e os resultados ainda estão bem distantes do período pré-pandemia. Nas previsões menos otimistas, a recuperação só virá entre 2024 e 2025.

“No momento, houve uma melhora, obviamente, comparado com o auge da pandemia, em que todos os estabelecimentos estavam fechados e era impossível comercializar. Mas os reflexos da cadeia estão muito fortes no momento e acredito que a gente não tenha recuperado ainda nem perto do que a gente tinha no período pré-pandemia”, avaliou Rodrigo Frigo, diretor de Interior da Procerva (Associação das Microcervejarias do Paraná) e sócio e cervejeiro da Cervejaria Araucária, em Maringá.

A fase aguda da pandemia ficou para trás, mas deixou reflexos no comportamento da população. Bares e restaurantes voltaram a funcionar, mas por insegurança sanitária ou por questões econômicas, ainda é grande a parcela que tem preferido reunir a família e os amigos em casa. As festas e eventos ainda não voltaram a acontecer no mesmo ritmo de antes e tudo isso impacta no consumo de cerveja.

Soma-se ainda o aumento dos custos de produção provocado pela alta da cadeia de suprimentos, boa parte dela cotada em dólar, os juros altos, a elevada carga tributária e a forte competitividade com as multinacionais. Todos esses, fatores que dificultam a retomada do setor. “O dólar se estabilizou em um patamar elevadíssimo e como 100% da cadeia de insumos é dolarizada, nossos custos subiram muito”, disse Frigo. “Houve muitas novas cervejarias abrindo, mas não ganhamos mercado. Diminuiu o mercado porque nosso produto é mais premium e a gente teve uma contração no poder de compra da população. As pessoas estão mais receosas, mais endividadas. A pandemia terminou, em termos de saúde, mas agora começou a pandemia econômica.”

Em 2019, havia 1.209 cervejarias registradas no país, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em 2021, o número saltou para 1.549, um crescimento de 28%. Desse total, apenas 60 são grandes indústrias. A maioria delas são cervejarias artesanais que tiveram de refazer suas planilhas de custos para encontrar formas de disputar sua fatia no mercado sem amargar prejuízo, já que os custos de produção subiram 50% no mesmo momento em que o número de consumidores caiu. Em 2019, as cervejas artesanais detinham cerca de 3% do mercado nacional de cerveja. No ano passado, a participação não passava dos 2,5%.

“A gente não conseguiu transferir todos os custos para o produto. Eu vendia uma cerveja específica em 2016 a R$ 16 o litro. Hoje, eu vendo a R$ 17. A gente aumentou a capacidade, melhoramos os custos daquela época, mas a gente tem sete, oito anos de hiato. A gente está sendo espremido”, disse o diretor da Procerva, que não vê perspectiva de melhora do mercado em curto prazo. “Não acredito em retomada no ano de 2023.”

Desde 2020, os valores dos componentes dos custos que envolvem a fabricação de cerveja foram reajustados sete vezes, ressaltou o mestre cervejeiro da Cervejaria Amadeus, em Londrina, Lucas Varéa Pereira. Com um mercado ainda reduzido, a empresa evita repassar os aumentos integralmente aos clientes, mas a estratégia diminuiu a margem de lucro e exigiu mais esforços de venda.

Assim, a retomada vem acontecendo, mas Varéa considera que o consumo chegue ao mesmo nível de antes da pandemia apenas em 2025. “O consumo anda retomando bem, cerca de 70% a 80% do que era pré-pandemia. Mas o perfil mudou porque não tem mais a mesma demanda de eventos que a gente tinha e o pessoal está mudando. O consumo ainda está um pouco migrado do outdoor para o indoor. O retorno de 100% do consumo de cerveja deve acontecer só em 2025.”


Abracerva reivindica redução da carga tributária



A Abracerva (Associação Brasileira da Cerveja Artesanal) se articula junto ao governo federal para tentar reduzir os impostos incidentes sobre a atividade. No momento em que a questão da Reforma Tributária ganha notoriedade, a entidade coloca na mesa as suas reivindicações no sentido de aliviar a carga de impostos do setor. "As cervejarias têm que ter uma CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) diferente. A diferença de impostos é desleal", disse o presidente da Abracerva, Gilberto Tarantino.


A carga tributária incidente sobre a fabricação de cerveja varia conforme a qualificação fiscal da empresa. Para aquelas inscritas no Simples, regime com maior flexibilização por parte da Receita Federal, o recolhimento é de 35%, mas pode chegar a 56% para os regimes de Lucro Real e Lucro Presumido.


"Esse momento é bem apropriado para os nossos pleitos. A gente tem que se organizar. Dentro da Câmara Setorial da Cerveja a gente tem a oportunidade de conversar com o setor cervejeiro, com as grandes indústrias. Eles sabem que a gente tem uma grande capilaridade", afirmou Tarantino.


A geração de empregos diretos e indiretos é um dos argumentos utilizados pela Abracerva nas discussões. "Proporcionalmente, as pequenas cervejarias geram mais empregos que as grandes, que têm uma automação presente. As pequenas não têm acesso a capital, tecnologia, muitos equipamentos ainda são importados. Como associação, uma das missões é mostrar ao governo que não dá para cobrar o mesmo imposto de uma cervejaria que faz dez mil litros e de uma grande, que faz bilhões de litros."


A revisão tributária também é um dos temas a serem discutidos em um evento idealizado pela Abracerva e que deverá rodar o Brasil a partir de julho. O Conexão Cerveja Brasil tem como objetivo reunir cervejarias, lideranças políticas e imprensa para fomentar o debate sobre formas de melhorar a atividade de produção cervejeira e divulgar as marcas junto ao público.


Em cada localidade, o evento terá duração de três dias, divididos em um congresso, um campeonato e um festival de cerveja artesanal. O primeiro acontece de 25 a 29 de julho, em Vitória (ES), mas o Paraná está no roteiro. Uma edição do Conexão Cerveja Brasil deve acontecer em Curitiba em novembro.(S.S.)



Ambev abre edital para apoiar cultura cervejeira

A Ambev abriu as inscrições para o Fermenta, edital que vai apoiar projetos e iniciativas para disseminação e impulsionamento da cultura cervejeira. Serão selecionados até cinco projetos em três faixas de valor, sendo dois projetos de até R$ 15 mil, dois projetos de até R$ 25 mil e um projeto de até R$ 50 mil, divididos em dois eixos temáticos: crescimento e capacitação, no qual serão contempladas iniciativas que visem a aceleração e crescimento contínuo do ecossistema cervejeiro e disseminação da cultura cervejeira, promovendo festivais, shows, encontros, competições, palestras, produção de conteúdo, dentre outros projetos, inéditos ou não.


Dentro do processo seletivo serão priorizadas iniciativas que promovam diversidade e ações afirmativas, com foco especialmente em públicos minorizados, como mulheres, população negra, comunidade LGBTQIAP+, pessoas com deficiência, pessoas em situação de refúgio e pessoas com baixa renda, ou que incentivem a inclusão produtiva de pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social no mundo do trabalho, seja via emprego formal ou via empreendedorismo, de modo que sejam capazes de gerar sua própria renda.


As inscrições seguem abertas até às 18 horas do dia 16 de junho. Os interessados podem conferir o edital completo e cadastrar seus trabalhos, exclusivamente, pelo site do Prosas (www.prosas.com.br). (Reportagem Local)

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