O pequeno estabelecimento de Viviane Pizzol, que funciona como restaurante, mercearia e casa de carnes, costuma ser bem movimentado durante o dia, principalmente por causa das refeições que são servidas no almoço. Com a determinação do município que esses estabelecimentos fechem as portas e passem a atender somente por delivery, a proprietária vê a receita do negócio cair drasticamente – cerca de 80%. A divulgação do serviço de delivery foi intensificada, mas muitos dos clientes são idosos, e preferem comer no local.

Imagem ilustrativa da imagem Movimento pede às pessoas que comprem do pequeno negócio
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Só nesses primeiros dias de vigência de medidas contra o coronavírus, ela já teve que dispensar duas pessoas. Se a situação se manter no próximo mês, ela calcula que terá que demitir mais duas. “Não acredito que a crise vai durar 15 dias, e se durar já é muito. O problema é que contas vão estourar. Temos funcionários, mas não temos suporte para pagar férias de todo mundo. O pequeno comerciante não tem esse suporte, a reserva para isso.”

Os pequenos negócios são os que mais vão sentir os efeitos do coronavírus na economia. Tanto é que já começam a surgir na internet – principal meio de comunicação em tempos de isolamento – movimentos e iniciativas pedindo que as pessoas priorizem os pequenos negócios ao fazer suas compras, de preferência por delivery, para não precisar sair de casa.

A fotógrafa Melina Caldani criou um perfil no Instagram que reúne anúncios de empreendedores que fazem delivery para ajudar tanto pessoas que estão em casa quanto pequenos negócios. “Veio na intenção de dar alternativas a pessoas que querem ficar em casa abastecidas e ajudar pessoas que a gente imaginava que ia ficar mais apuradas nesse período que as pessoas não podem fazer compras.” A ideia do Londrina em Casa veio de uma conversa com amigas sobre como fariam quando estivessem em isolamento.

A Frente Feminista de Londrina – 8M Londrina, vai reunir produtos e serviços oferecidos por mulheres londrinenses na sua página do Facebook enquanto durar o período de isolamento. “A preocupação surgiu justamente pela presença de mulheres ativistas que não têm outra possibilidade de gerar renda nesse momento que não seja fazer comida, artesanato, ou outra alternativa”, conta Meire Moreno, membro do movimento. “São mulheres, principalmente mães solo, que serão atingidas de forma particular.” Com a iniciativa, o movimento também pretende fortalecer a rede feminina de apoio.

Paulo Henrique Ferreira, sócio do Carrinho Cheio, aplicativo de entrega de produtos, e Felipe Lanza, fundador da ferramenta, abriram a plataforma para que pequenos negócios possam cadastrar até cinco produtos gratuitamente. A ferramenta permite a entrega de produtos de conveniência em até 30 minutos dentro de Londrina. Ferreira conta que a ideia da iniciativa veio depois que os sócios notaram as dificuldades que os pequenos comércios estão enfrentando com as ruas esvaziadas. “Pensamos como poderíamos oferecer alguma coisa para ajudar as pessoas que estão com o comércio fechado.”

Caldani conta que os empreendedores que não vendem produtos essenciais estão ainda mais preocupados nesse momento. “Aquelas que têm uma lojinha que faz entrega de roupas, trabalha com artesanato ou serviço de conserto chegam um pouco mais desesperadas.”

Bárbara Letícia Soares tem a sua loja de roupas como a sua única fonte de renda. Depois que teve que fechar o estabelecimento, ela começa a se reestruturar para fazer entrega dos produtos em Londrina e em outras cidades. O serviço será distribuído para as duas funcionárias da loja, que agora vão trabalhar de casa. “Minha esperança são as vendas online. A esperança é que as pessoas que queriam adquirir algum produto adquiram agora, mas é bastante ruim. Com certeza vai ser bem difícil. Vou ter que me adaptar. Estou fazendo aulas online, pesquisando marketing digital, porque não vai dar para parar.”

Empresas terão problema real de faturamento

Para o gerente regional do Sebrae Norte do Paraná, Fabrício Bianchi, esse é o momento que os pequenos negócios terão de parar e olhar para as suas contas para saber o que vai acontecer pelo menos no horizonte dos próximos três meses.

“Principalmente o pessoal da área de turismo, alimentação externa, feiras livres, varejo tradicional e shopping vai ser muito prejudicado. Eles vão ter um problema de real de faturamento. Não tem solução.”

O gerente orienta o empreendedor a analisar as despesas previstas e as receitas para avaliar qual será o impacto do fluxo de caixa nos próximos 90 dias. Com essa informação em mãos, ele terá de verificar o que pode ser renegociado e quanto terá de tomar de crédito. “Para a realidade das micro e pequena hoje, raríssimas são as micro e pequenas que vão ter que passar por esse período sem ter que contrair dívida.”

Nesse momento de crise, o Sebrae está atendendo os empreendedores de forma digital e gratuita pelo site www.sebraepr.com.br, pelo WhatsApp (41) 99787-8003 e pelo telefone (43) 3373-8000.