O estacionamento do Zerão ficou lotado de veículos, nesta segunda-feira (15). O local foi escolhido para concentração dos motoristas de aplicativo, que realizaram uma paralisação nacional por 24 horas. A principal reivindicação da categoria é o reajuste no valor da tarifa mínima, que hoje é de R$ 5,50. A expectativa da Fembrapp (Federação dos Motoristas de Aplicativo do Brasil), que coordenou a mobilização, era conseguir a adesão de 70% dos motoristas.

Há um ano trabalhando como motorista de aplicativo, Jorge Salgado diz que para garantir uma renda que possibilite arcar com as despesas do mês, os trabalhadores, hoje, têm que rodar 18 horas diárias. “A gente paga aluguel de carro, financiamento, manutenção, combustível e o aplicativo está explorando a gente. Tem passageiro que paga R$ 60 em uma corrida, mas o motorista ganha só R$ 25, isso não é justo”, queixou-se. “Quem senta no carro e passa o perigo de pegar passageiro somos nós. Nós é que corremos o risco de sermos assaltados, nós é que somos xingados pelos passageiros. Trabalho com a Uber e a 99 e é tudo a mesma coisa.”

Salgado também defende o aumento do valor cobrado por quilômetro rodado que, segundo ele, hoje está em R$ 0,60, e reajuste do preço da tarifa mínima para R$ 10. A atual é de R$ 5,50. “Como o carro vai rodar nesse preço? E a cada dia, piora. A gente movimenta a economia da cidade. Quanto a gente consome de gasolina por dia, restaurante, autopeças, lava-jato? É uma vergonha (as condições de trabalho). Estamos pedindo um valor justo.”

“Cada motorista faz, em média, 25 corridas por dia. Se a plataforma recebesse R$ 1 por corrida, seriam cerca de R$ 150 mil por dia, R$ 4,5 milhões por mês e R$ 54 milhões por ano. Não queremos aumento do valor cobrado do passageiro, mas a diminuição da taxa que fica com a plataforma. A taxa da Uber varia de corrida para corrida, mas a plataforma não fica com menos de 30% do valor”, disse o motorista André Cicotosto, que reivindica a organização de uma associação que represente os motoristas legalmente e que tenha força para negociar com a plataforma melhores condições de trabalho.

Usuários que tentaram conseguir um carro por aplicativo começaram a relatar dificuldades ao longo da manhã. Por volta das 10h30, a farmacêutica Kátia Berringer esperava que algum motorista aceitasse a corrida de um condomínio na zona oeste até o Centro da cidade. “Dois cancelaram a corrida. Agora, um terceiro aceitou, mas está a seis minutos daqui. Vamos ver se chega. Tenho consulta médica e estou me atrasando”, comentou. “Pelo menos o preço não aumentou muito. O aplicativo está avisando que os valores estão maiores que o normal, mas subiu só R$ 1.”

Parte dos trabalhadores concentrados no estacionamento do Zerão ficaram na calçada tentando convencer outros motoristas de aplicativo que seguiam em atividade a pararem também. Muitos atendiam ao chamado, faziam o retorno e se juntavam aos colegas.

Em Londrina não há um balanço oficial de quantos profissionais aderiram ao movimento. No Zerão, menos de 10% dos cerca de sete mil motoristas permaneceram no local. Pequenos grupos de trabalhadores também se concentraram em outros pontos da cidade, como na avenida Henrique Mansano (zona norte). Além de motoristas da Uber e 99, a Fembrapp divulgou que a mobilização se estendia também aos trabalhadores do iFood e Rappi.

A assessoria de imprensa do iFood divulgou nota afirmando respeitar o direito à manifestação e à livre expressão dos entregadores, mas destacou que desde 2020 a empresa “trabalha na construção de espaços recorrentes e permanentes de escuta e melhoria constante” e informou que se dedica à criação de uma “agenda sólida e perene de diálogo com os trabalhadores e representantes da categoria para o aprimoramento de iniciativas que garantam mais dignidade, ganhos e mais transparência para esses profissionais”.

A reportagem não conseguiu contato com a assessoria de imprensa da 99 e aguarda resposta da Uber.