Londrina tem cerca de 7 mil motoristas de aplicativo cadastrados que atendem, diariamente, 150 mil chamadas. A primeira plataforma dessa tecnologia começou a operar no município em 2016 e assim como aconteceu em todas as cidades do planeta onde esse serviço passou a ser oferecido, rapidamente se popularizou. Com a expansão, começaram a surgir algumas dificuldades na rotina dos trabalhadores. Questões relacionadas ao trânsito, à segurança, à saúde física e mental, à carga horária e outras decorrentes da inexistência de regulamentação da atividade fazem parte do dia a dia da categoria. Para garantir melhores condições de trabalho e pressionar o Congresso Nacional pela regulamentação, os trabalhadores têm se organizado em federações, associações e sindicatos.

Com esse objetivo é que foi criada, em Londrina, a Amotra (Associação dos Motoristas e Trabalhadores de Aplicativos). A entidade atua para suprir as necessidades dos profissionais que se sentem desassistidos pelas plataformas. Formalizada há menos de dois meses, a associação estabelece parcerias com empresas de diversos setores, como saúde, rastreamento e proteção veicular, além de cobrar do poder público medidas relacionadas ao trânsito e à segurança. "Estamos preocupados com a saúde e o bem-estar do motorista. O trânsito provoca um esgotamento mental enorme. O motorista de aplicativo está o tempo todo na cidade ou na rodovia transportando vidas. Temos que ter cuidado com esse trabalhador", disse o secretário da associação, Renato Vandré.

Nove anos após a primeira plataforma iniciar as operações no país, os motoristas de aplicativo têm percebido que a união é a melhor maneira de fortalecer a categoria. Em âmbito nacional, a Fembrape (Federação dos Motoristas de Aplicativo do Brasil) pressiona os congressistas pela regulamentação da atividade, com sua inclusão na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações). A expectativa é que a regulamentação aconteça até 2024. Regionalmente, entidades como a Amotra criam estruturas de acolhimento aos trabalhadores. "É importante estar atento às necessidades do motorista. A associação não tem nenhum respaldo da operadora. Temos parcerias com empresas porque corremos atrás. Precisamos de vagas de embarque e desembarque, precisamos de um ponto de apoio para o motorista. Hoje, o relacionamento do motorista com a operadora se restringe ao repasse dos valores das corridas. Em todos esses anos, não recebemos nenhum curso, nenhuma atualização presencial, não tem um escritório físico em Londrina. Tudo é pelo aplicativo.", destacou Vandré.

Aumentar a segurança é uma das principais preocupações. Neste ano, até o momento, há dois registros de assalto com violência praticados contra motoristas de aplicativo, mas a associação estima que esse número já seja maior que dez. Muitos trabalhadores preferem não formalizar o Boletim de Ocorrência. "Nós queremos melhorar a segurança do motorista para que ele saia de casa com a convicção de que se seguir um plano operacional, vai voltar em segurança", afirmou o vice-presidente da Amotra, André Cicotosto. A intenção é montar uma central 24 horas para monitoramento em tempo real de cada motorista utilizando as ferramentas digitais já disponíveis.

Os dirigentes da associação também trabalham pelo fortalecimento de aplicativos locais de transporte de passageiros e tentam pressionar as plataformas por uma maior valorização da categoria, com aumento dos repasses por corrida. A Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia), entidade que representa as maiores plataformas em operação no país, já chegou a aventar o pagamento de R$ 8,83 pela hora de trabalho após a regulamentação da atividade. Valor que, segundo os motoristas, não cobre sequer os custos.

Atualmente, uma das maiores plataformas repassa entre 60% e 70% do valor da corrida ao motorista. Os aplicativos locais, que já somam quase dez, oferecem um preço melhor, que pode chegar a 90%. Mas a disputa de mercado com as grandes empresas acaba prejudicada porque ao menor sinal de ameaça de migração de passageiros para outros aplicativos, as grandes plataformas passam a oferecer vantagens financeiras a motoristas e passageiros, como redução do valor de uma corrida de R$ 20 para R$ 10 e repasse de R$ 30 ao motorista por essa mesma corrida. "A operadora oferece uma semana de vantagens financeiras ao motorista e ele permanece e o passageiro também vê que está mais barato e fica. Nós mesmos, os motoristas, acabamos matando as novas plataformas", disse Cicotosto.