O Fórum Desenvolve Londrina apresentou na manhã de ontem, em um evento on-line, o Manual de Indicadores 2021 e a décima edição da Pesquisa de Percepção da População sobre a Cidade. O estudo, com foco em assuntos relevantes das áreas de educação, saúde, meio-ambiente, segurança, cultura, tecnologia e economia, tem como objetivo estimular a participação do cidadão no desenvolvimento a partir da visão de futuro do Fórum para o centenário da cidade, em 2034. O estudo traz vários indicadores sociais e econômicos que ajudam a avaliar como Londrina está evoluindo e ainda indica pontos que merecem mais atenção não só do poder público, mas de todo e qualquer londrinense. O documento é público e está disponível para download no site do Fórum Desenvolve Londrina (www.forumdesenvolvelondrina.org.br).

Imagem ilustrativa da imagem Moradores de rua e falta de empregos preocupam os londrinenses
| Foto: Gustavo Carneiro

A apresentação foi conduzida por Fabio Pozza, coordenador da comissão de pesquisa. Para ele, os dados revelados pelo Manual permitem um cruzamento de informações a partir de índices numéricos que mostram a situação econômica e social do município, fornecendo elementos para projetos e ações concretas. A décima edição da Pesquisa de Percepção, incluiu perguntas relativas ao tema "Engajamento e Pertencimento" e deve ser publicada no ano que vem. “Nas dez edições, seguimos a mesma metodologia o que nos permite uma comparação interessante dos dados. Todo o trabalho foi montado a partir da visão de futuro do Fórum que espera uma Londrina, em 2034, com uma comunidade ativa e articulada, uma cidade solidária, segura e saudável, tecnologicamente avançada, integrada com a região norte do Paraná e globalmente conectada; com uma economia diversificada e dinâmica, gerando riquezas e promovendo o equilíbrio social, cultural e ambiental”, diz. A coleta de dados aconteceu entre agosto e outubro desse ano, foram entrevistados 600 residentes de Londrina, para uma amostra estratificada que refletisse a condição econômica dos moradores, divididos por sexo e região de residência.

O estudo revela índices interessantes e que podem realmente ajudar a fazer um desenho de como o londrinense vive a própria realidade. Quase 70% dos entrevistados, por exemplo, declararam não ter nenhum interesse em se engajar em alguma causa para a cidade de Londrina. Na opinião de Pozza, a indiferença poderia ser explicada pela cultura latina que espera que o governo resolva os problemas. “Acredito que boa parte do não engajamento parte dessa visão, do tipo ‘eu já pago o imposto’ então é a prefeitura, o estado que tem que resolver. Não necessariamente deve ser assim. Podemos nos engajar e resolver os problemas também, essa postura estática não ajuda. Temos que ir mudando essa cultura aos poucos”, diz.

Para os 30,7% que manifestaram interesse, mais da metade simpatiza com as causas ligadas à educação, com causas ambientais, de proteção animal e sociais empatadas com cerca de 12% das preferências para cada uma. O problema dos moradores de rua também aparece na intenção de engajamento de 10% dos entrevistados.

Um desinteresse pela política, principalmente entre os jovens, também foi identificado pelo estudo. Em uma das perguntas, o entrevistado era convidado a citar pelo menos dois nomes de vereadores da atual legislatura e apenas as respostas corretas foram validadas. Mais de 54% dos entrevistados não souberam responder, com um índice maior entre eleitores entre 18 e 24 anos e de menor renda. “A taxa de lembrança média histórica era de 38%, melhorou porque chegamos nos 45%. Isso é bom, nos mostra que as pessoas estão participando mais do processo político”, analisa.

A segurança é outro ponto sensível do documento. As taxas de homicídio, por exemplo, vêm diminuindo, mas nos dois últimos dois anos passaram a mostrar uma tendência de aumento. “Londrina é uma cidade comparativamente mais segura que outras do mesmo porte no Paraná e no Brasil, mas esse aumento registrado nos últimos anos, merece mais atenção”, afirma Pozza. Apenas 35% respondeu que se sente seguro ao andar pelas ruas da cidade. “O lado positivo é que a sensação de insegurança mesmo sendo real para 65% da população, já foi muito superior. Em 2018, apenas 18% diziam sentir-se seguros na cidade”, comenta.

Se por um lado, a oferta de cursos de graduação aumenta a cada ano, consolidando a cidade como um polo de ensino, um problema crônico persiste desde o início das pesquisas: a falta de vagas nas creches, o pior indicador da série que avalia o Ensino. “Está melhorando, mas ainda tem muito a se fazer. Temos 70% da população que diz que não tem vaga nas creches”, afirma Pozza.

Dentro dos aspectos econômicos, o estudo ainda revela que Londrina tem exportado menos e importado mais. A arrecadação de ISS também vem aumentando, assim como o número de microempreendedores individuais (MEIs). “Aqui são duas leituras: o aumento do volume de empreendedores pode também representar a precarização do emprego. Cruzando outros dados, perguntamos se Londrina teve um bom desenvolvimento econômico e com boas oportunidades de emprego. Todos melhoraram em relação aos anos anteriores, mas ainda é o conjunto de indicadores com as piores avaliações. Hoje, o principal ponto de atenção é a economia, com 60% da população dizendo que a cidade não oferece boas condições de emprego. Outros dados da pesquisa confirmam essa tendência, como a vontade de mudar de Londrina para quase 13% dos entrevistados, estamos perdendo nossos talentos, uma evasão de pessoas no auge do potencial produtivo, que saem da cidade por falta de oportunidade. Uma mudança por necessidade”, alerta.

Quase 80% da população afirma que Londrina tem qualidade de vida, o melhor resultado que a pesquisa já mostrou. “A cidade vive um bom momento com os seus cidadãos”, comenta. O caderno de estudos que será publicado no ano que vem a partir do tema “Engajamento e Pertencimento”, revela que 60% da população se sente parte da cidade. O Lago Igapó foi apontado como grande símbolo de Londrina, escolhido por 43,3% dos entrevistados que também definem o londrinense como sendo amigável, trabalhador, alegre, educado, acolhedor, cordial e atencioso. “Isso demonstra um potencial enorme para turismo, gostamos de receber gente de fora,”, diz Pozza. Só teríamos uma característica negativa: ser mau motorista. “Achei uma característica interessante. A preocupação com o trânsito aparece em outros dados da pesquisa, mas talvez indique que nós cidadãos tenhamos uma participação nesse quesito, não é só o planejamento e a manutenção. É comportamento. Talvez tenhamos que fazer uma mea culpa e tentar dirigir melhor”, brinca.